Uncharted: Fora do Mapa - Crítica do Chippu

Uncharted: Fora do Mapa - Crítica do Chippu

Apesar do charme de Tom Holland, adaptação de games de PlayStation é apenas a versão genérica de algo bom.

Guilherme Jacobs
16 de fevereiro de 2022 - 6 min leitura
Notícias

Uncharted, a franquia de games de PlayStation desenvolvida pela Naughty Dog, nasceu num momento peculiar. A tecnologia dos consoles havia avançado o suficiente para criar algo, em direção e ação, mais semelhante com os blockbusters de Hollywood, reproduzindo sequências grandiosas de prédios caindo, perseguições em trens e tiroteios caóticos. O diferencial destes jogos, porém, era que eles não só te deixavam assistir a esses momentos, mas jogá-los. Você controlava o caçador de tesouros Nathan Drake pulando e sobrevivendo. Você estava no meio da ação. Por isso, Uncharted: Fora do Mapa, adaptação protagonizada por Tom Holland e dirigida por Ruben Fleischer para os cinemas, têm um desafio grande. Diferente de quadrinhos e livros, ambientes nos quais nossa imaginação preenchia as lacunas, os jogos nos mostraram tudo.


Talvez por isso esse projeto, há anos em desenvolvimento na Sony Pictures, tenha enfrentado tanta dificuldade para sair do papel, trocando diretores até chegar em Fleischer. O que há para adicionar a Uncharted após quatro jogos? Apesar de nunca encontrar uma resposta definitiva para essa pergunta, Fora do Mapa é divertido, engraçado e charmoso o suficiente para, diferente de seu personagem principal, sair da aventura sem grandes cicatrizes ou machucados. O longa não chega a ser um tesouro, mas há objetos brilhantes.


O maior deles é Holland, cujo crescimento como ator parece estar acompanhando o físico (o astro de Homem-Aranha deu entrevistas falando sobre como preparou seu corpo para Uncharted e o resultado é visível). Nathan Drake, um ladrão órfão com fascínio por história e tesouros perdidos, supostamente descendente do pirata Sir Francis Drake, é o tipo de papel perfeito para destacar os talentos de Holland, como seu charme inerente, fisicalidade surpreendente e humor. Diferente de Peter Parker, porém, Drake é engraçado por preencher suas falas com uma boa dose de sarcasmo e terminar toda frase com uma piscadela. Holland se mostra capaz de acompanhar o desafio. Esse não é o Homem-Aranha B.


Pela primeira vez em sua carreira, Holland tem a missão de ser o principal atrativo de um blockbuster, a razão pela qual as pessoas irão ao cinema. Ele abraça a função de estrela do cinema, deixando seu carisma natural se misturar com o papel, mas nunca se tornando maior do que o mesmo. Estamos vendo Nathan Drake, não Tom Holland. O mesmo não pode ser dito para Mark Wahlberg como Sully, figura paterna do herói neste mundo de roubos e caçadas. Completamente diferente da versão dos games, o personagem pode ser melhor descrito como… Mark Wahlberg. Ele grita, tem cara de raiva, fala rápido, tem algum charme e uma expressão facial confusa memorável. Wahlberg nunca é ruim, mas há muito pouco para se apegar nele.


Na verdade, para um filme repleto de parkour, Uncharted se vê sem ter onde segurar. No ambiente do cinema, a ação e atmosfera de Uncharted não se destacam tanto - especialmente quando dependem mais de CG, que é o caso da sequência do avião vista nos trailers - e perdem parte do encanto. Em meio aos grandiosos Missão: Impossível e Velozes e Furiosos, ou até mesmo em comparação aos games, Fora do Mapa tem pouco a adicionar.


Há coisas para elogiar. Durante o segundo ato, Holland e a sedutora Chloe Frazer (Sophia Ali) exploram o subterrâneo de Barcelona numa sequência divertida e criativa, e o terceiro ato é concluído com uma grandiosa batalha área envolvendo dois helicópteros carregando navios que é genuinamente criativa e empolgante. Mas há também momentos sem nenhum peso ou característica memorável. Holland caindo de um avião cargueiro, cena totalmente retirada dos games, perde seu efeito quando fica claro o quão artificial e digital tudo é.


Exemplos assim podem ser feitos em diversas áreas do filme. Há algumas piadas boas, mas a maioria é esquecível. Tem momentos nos quais o Drake do Tom Holland se torna mais interessante, mas há outros onde ele é apenas um herói genérico de cinema. As atuações de Antonio Banderas e Tati Gabrielle como vilões são competentes, mas não memoráveis. Assim vai. Essa é a grande verdade sobre Uncharted: Fora do Mapa - ele é a versão genérica de algo.


Esse, porém, está longe de ser mais um desastre na longa e fracassada jornada hollywoodiana de tentar adaptar jogos. Pelo contrário, graças ao seu ator principal, natureza inerentemente empolgante do material base e uma conclusão bombástica, Uncharted: Fora do Mapa é divertido, ele traz a essência dos games, reforça as qualidades de Holland como protagonista e tem o que é preciso para agradar tanto os fãs quanto quem nunca ouviu “Sic Parvis Magna.” Ele só não tem é algo a mais, algo para sair do marasmo. Como algo genérico, você pode ver os ossos do original presentes ali, seu esqueleto claramente desenhado nas entrelinhas e, em certas horas, sua mente até confunde os dois. Como todo genérico, porém, o efeito se mostrará passageiro.


Nota: 2.5/5

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