Há um mês, o Oscar parecia decidido. Ataque dos Cães, havia acabado de dominar as indicações da Academia e parecia ser o inevitável favorito ao prêmio de Melhor Filme. A Netflix - graças ao trabalho de Jane Campion, Benedict Cumberbatch, Kodi Smit-McPhee e cia - finalmente ia alcançar a terra prometida. Agora, após resultados surpreendentes nas premiações de sindicatos de Hollywood, outra gigante de tecnologia pode roubar a estatueta de Ted Sarandos: a Apple, que em janeiro de 2021 quebrou o recorde do festival de Sundance ao pagar US$ 25 milhões por um pequeno filme chamado No Ritmo do Coração, dirigido por Siân Heder e estrelado por Emilia Jones e Troy Kotsur.

A simples história de uma garota apaixonada por música numa família surda nesta adaptação norte-americana do francês La Famille Bélier agora está posicionado como segundo favorito ao prêmio de Melhor Filme. Qualquer certeza em relação à vitória do faroeste de Campion foi pela janela. A pergunta é: como chegamos aqui? E, mais importante, quem vencerá o Oscar?

De onde veio No Ritmo do Coração?

Sucesso no Festival de Sundance, de onde já vieram outros indicados como Minari e Whiplash, No Ritmo do Coração entrou na temporada de premiações combinando tanto o status de “queridinho indie” por conta de suas origens humildes quanto equipado com o poderio da Apple na sua busca - ainda não muito grande - pelo Oscar. No Brasil, ele foi lançado pela Diamond Films e agora está exclusivamente no Prime Video, mas nos EUA sua casa é o Apple TV+. Como acontece com diversos lançamentos atuais, sua chegada ao serviço de streaming da Maçã trouxe uma atenção renovada. Combine isso com a boa recepção crítica e o boca-a-boca favorável, e do nada ele estava concorrendo a prêmios. Uma história bonita, de um filme pequeno, marcando presença. Nada mais.

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Tudo mudou no fim de fevereiro quando o SAG Awards, prêmio do sindicato dos atores, elegeu No Ritmo do Coração em sua principal categoria (Melhor Elenco). Esse, às vezes, é o sinal de uma surpresa. Foi aí que o movimento pró-Parasita começou em 2020, por exemplo. A justificativa era que Ataque dos Cães - que depois viu seus quatro atores principais indicados ao Oscar - não havia sido indicado. Talvez esse tenha sido o primeiro sinal.

Quem é o favorito agora?

Como isso aconteceu? Como ninguém previu isso? Há algumas possibilidades. Entre jornalistas que cobrem premiações, circula a ideia de que, por ser um filme pequeno, No Ritmo do Coração não tinha sido assistido por muitos votantes dos sindicatos (ou da Academia) até começar a ser indicado. Quando ele começou a ser visto, os votos vieram. Outra possibilidade é o sentimento anti-Netflix, presente especialmente em membros que ainda vêem o streaming como ameaça aos cinemas, o que criou uma certa' antipatia em direção às suas produções. Muito se fala sobre a dificuldade de garantir atores para filmes e séries atualmente. A maioria acaba sendo praticamente reservada pela Netflix, que paga bem e tem um calendário lotado.

Ataque dos Cães não está fora da corrida. Quem acompanha o cenário ainda aponta para o filme da Netflix como favorito. a Academia se tornou mais internacional nos últimos anos (¼ dos membros é de fora dos EUA), o que pode favorecer a neozelandesa Campion (há, também, um sentimento de "enfim chegou a hora dela" em relação à diretora). Além disso, nenhum filme venceu mais prêmios que este na temporada, e ele tem coletado vitórias importantes - BAFTA (“Oscar britânico”), Critics Choice Awards e DGA (Sindicato dos Diretores), por exemplo. Este último previu o vencedor do Oscar em 10 dos últimos 15 anos. O jogo dos números, porém, está mais a favor de No Ritmo do Coração. Como aponta a Variety, desde que o SAG começou, apenas 10 filmes ganharam tanto o prêmio dos atores quanto o dos produtores no PGA. Destes, só dois (Pequena Miss Sunshine e Apollo 13) perderam o Oscar.

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Ataque dos Cães foi franco-favorito durante meses, mas as últimas semanas apontam No Ritmo do Coração como aposta mais segura. Quem vencerá? Só descobriremos domingo, 27 de março.