X-Men 97 vai além da nostalgia para entregar uma aventura clássica de heróis

X-Men 97 vai além da nostalgia para entregar uma aventura clássica de heróis

Continuação da série animada dos anos 1990 vai te lembrar da infância, mas não depende disso

Guilherme Jacobs
20 de março de 2024 - 7 min leitura
Notícias

Como mutantes viajando pelo tempo, frequentemente visitamos o passado em memórias banhadas em nostalgias, e quando se trata de animações, há textura, som e cores informando tudo isso. Nossa idade, a casa onde morávamos, a qualidade (baixa) das televisões e a imaginação fértil combinam para transformar coisas como X-Men: A Série Animada em tótemes; adorados e lembrados como clássicos inabaláveis. A começar pela icônica abertura, X-Men 97 vai disparar uma das rajadas mais potentes dessa sensação em quem ama o desenho original.

O problema com essas viagens nostálgicas, porém, é que as lembranças normalmente estão acima da realidade. A série dos X-Men, lançada em 1992 e inicialmente concluída em 1997, envelheceu bastante. Do visual ao tratamento de alguns personagens, ela está tão firmada na estética vibrante daquela década quanto nas limitações narrativas comuns aos quadrinhos da época, quando o design era prioridade e o texto nem sempre importava.

Ainda assim, X-Men: A Série Animada tem muitos méritos. Entre cores psicodélicas, humor genuíno (às vezes acidental) e disposição a abraçar o estranho, o desenho antigo entendeu não só as dinâmicas internas dos X-Men — Vampira e Gambit, Cíclopes/Jean/Wolverine, Magneto vs. Xavier — como também a posição do grupo como heróis jovens resistindo aos preconceitos de um mundo perigoso. Rebeldes. Mutantes.

Revisitá-la, hoje, não é a tarefa mais fácil. Mas será bastante tranquilo entrar em X-Men 97, que usa a nostalgia apenas como gancho, para através dos uniformes conhecidos e trilha sonora marcante cumprir o propósito supremo de uma continuação: andar para frente. Se o cinema de heróis hoje depende mais e mais do reconhecimento e usa o retorno de atores amados (algo prestes a rolar com os X-Men em Deadpool & Wolverine) para compensar pela falta de boas histórias e desgaste público, X-Men 97 está interessado em imaginar novas aventuras, ainda que com um gostinho familiar.

No caso, voltamos para 1997, quando o Professor Xavier acabou de morrer e os X-Men precisam de uma nova liderança. Inicialmente, o sucessor lógico parecer ser Ciclope*, sem dúvida o protagonista da animação original e desta sequência. Só que ele e Jean estão prestes a receber seu primeiro filho, e a telepata sonha com uma vida além das lutas contra Sentinelas, especialmente depois da conclusão grandiosa primeiro episódio, uma espetacular batalha contra Bolivar Trask e a Molde-Mestre. Para complicar, em seu testamento, Xavier aparentemente deixou tudo — incluindo os X-Men — para Magneto, que se diz disposto a buscar redenção.

*Mantenho minha tese que X-Men: A Série Animada, e agora X-Men 97, são responsáveis por 90% da popularidade do Ciclope como personagem. Por que nos filmes e quadrinhos, ele não é o X-Men favorito de ninguém.

Os primeiros três episódios da série abordam precisamente a instabilidade dessa situação, e usam o vácuo de liderança para delinear arcos simples mas eficazes para os três principais personagens de 97 até aqui; Ciclope, Jean e Magneto. No processo, conhecemos novos mutantes, como o brasileiro Roberto da Costa/Mancha Solar, e vilões, como o esquecível Executor X, mas o foco está nesse trio.

Para Ciclope e Magneto, há o desafio de entender seu novo papel e preencher o vazio gigantesco deixado pela morte de Charles Xavier. Seria um exagero descrever algum deles de tridimensional (assim como chamar os coadjuvantes Wolverine, Fera, Jubileu e afins de bidimensionais), mas Jean, em especial, recebe a chance de explorar sentimentos contraditórios e complexos. Feliz pela vinda de um bebê, ela se pega surpresa ao desejar que ele nasça humano, e portanto poupado de uma vida de perseguição.

Essas linhas serão acompanhadas ao longo de toda a temporada, mesmo que cada capítulo tenha uma missão ou dilema resolvido dentro de 30 minutos, adicionando um tempero bem-vindo de "monstro da semana" à série e garantindo ótimas cenas de ação em cada episódio. Estas são o ápice da animação criativa e bem utilizada de X-Men 97, que mantém o estilo anos 1990 (haja jaquetas e lenços) mas refina todo elemento para os anos 2020, com traços fortes e claros.

Nem toda cena recebe o melhor tratamento, e o orçamento é visivelmente guardado para combates. Nestes momentos, o trabalho de cor e cenário é impressionante. Ainda que queira reproduzir a estética de quadrinhos, X-Men 97 aproveita muito bem a liberdade do meio de animação para comunicar a fúria de Tempestade ou deixar Magneto mais intimidador, construindo sequências onde a sensação dos poderes é o foco, não o realismo. Talvez nenhum exemplo seja tão bom quanto o duelo mental de Jean Grey contra as forças do Sr. Sinistro no terceiro episódio, onde a série beira o surrealismo ao mostrar bebês gigantes e memórias formativas.

Memórias. Vai ser difícil não pensar nisso nesse começo de X-Men 97. Fãs de desenhos animados sabem muito bem como é passar a vida lembrando de seus favoritos e pedindo por revivals ou continuações, particularmente aqueles que terminaram com pontas soltas devido a cancelamentos inoportunos. X-Men: A Série Animada, porém, teve um fim claro, quando os estudantes de Xavier passaram à vida adulta num finale apropriadamente chamado "Dia da Graduação", e X-Men 97 é melhor por se propor a continuar a partir daí. Lembrar do passado é bom, mas os X-Men conhecem mais do que ninguém a importância de não esquecer o futuro.

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