Você deveria assistir: Reacher é diversão executada com simplicidade e perfeição

Você deveria assistir: Reacher é diversão executada com simplicidade e perfeição

Série do Prime Video é a primeira grande surpresa do ano

Guilherme Jacobs
21 de fevereiro de 2022 - 7 min leitura
Notícias

Nós vivemos numa era de histórias complexas, universos compartilhados, conexões inesperadas. Gostamos de ver nossa dedicação recompensada quando entendemos a referência feita por uma série ao filme que saiu um ano antes, ou como a investigação em fóruns e threads na internet nos leva à resposta para o mistério mesmo antes dele ser revelado. Mas em meio a tanta informação, e diante de tantos mundos expansivos, há algo prazeroso na simplicidade, numa narrativa contida e na boa execução desses elementos. E não há exemplo recente melhor disso do que Reacher, série do Prime Video que adapta os livros de Jack Reacher escrita por Lee Childs.


Assim como seu personagem, interpretado por Alan Ritchson com todos os seus músculos gigantescos e 1,90m de altura, Reacher não é complicada. Adaptando o primeiro dos mais de 25 livros do protagonista de Childs, a série mostra o ex-policial do exército Jack Reacher, gênio investigativo e golias musculoso, chegando à pequena e pacata cidade de Margrave, no interior da Georgia, para continuar sua rotina nômade de conhecer os Estados Unidos. O turismo é interrompido quando a polícia local o prende por assassinato, e ele termina no meio de uma conspiração criminosa cujo escopo é surpreendentemente grande.


Isso é tudo que você precisa saber sobre a história. Claro, podemos mencionar o elenco diverso e excelente que inclui Willa Fitzgerald como Roscoe e Malcolm Goodwin como Oscar Finlay, os policiais locais que ajudam Reacher a investigar a verdade por trás do crime pelo qual ele foi acusado, ambos adicionando mais tempero e profundidade a papéis não muito complicados. Ou podemos falar das cenas de ação, particularmente envolvendo combate corpo-a-corpo, nos quais os dotes físicos de Ritchson são muito bem utilizados. Mas a beleza de Reacher vem da maneira direta e bem executada com a qual a série lida com todos os seus aspectos.


Se parece que eu estou exagerando falando da fisicalidade do ator principal, é só impressão. Não há hipérbole o suficiente para a presença de Ritchson na série, e Reacher, sabiamente, usa isso a seu favor. Tanto nos momentos no qual a força do personagem é usada para mostrá-lo espancando inúmeros vilões, ou quando ela é fonte de material cômico - seja ao ver Reacher abrindo a tampa de uma garrafa com o bíceps ou pela reação engraçada de outros personagens ao seu tamanho - a estatura do protagonista adiciona textura e humor ao roteiro e cenas do seriado. Ela também é fiel aos livros, que descrevem Jack Reacher como um gigante. Agora, a escalação de Tom Cruise e seus plenos 1,70m parece impossível.


Essa é a questão com Reacher. Ela é divertida por saber exatamente o que é: uma série investigativa sobre um gênio com quase dois metros e a força de um elefante no meio de uma cidadezinha dos EUA. Ela sabe como usar os aspectos mais superficiais de seu personagem e trama a seu favor. Cômica sem ser comédia, repleta de reviravoltas sem nunca precisar reinventar a roda, simples mas não simplória, Reacher excede ao entregar a melhor versão possível de cada elemento. É hora de uma luta? É hora de mostrar golpes inesperados. Estamos investigando? Jack Reacher mostrará seu intelecto de forma inteligente e inesperada. Cada palavra do protagonista, e não há muitas, é escolhida com muito cuidado e entregue por Ritchson com uma precisão inigualável.


Toda a gordura é eliminada. Flashbacks são mínimos e rápidos. As roupas do herói são basicamente camisetas e jeans. E assim vai. Acontece que, ao encher seus espaços de personalidade, Reacher torna até mesmo o feijão-com-arroz especial. É como o tempero de avó que eleva o prato e transforma a comida cotidiana em algo memorável. Fitzgerald e Goodwin são ótimas maneiras de enxergar isso, cada um capaz de deixar seus personagens mais charmosos e interessantes do que sua proposta inicial. Ela, em particular, se mostra confortável e capaz ao lado de Ritchson, uma tarefa cuja dificuldade é tão grande quanto a altura do personagem principal. Isso, porque, Ritchson não é apenas um corpo enorme. Ele é perfeito para o papel. Seja no sorrisos no canto da boca, no olhar sarcástico, nas falas honestas que revelam seu coração puro, Ritchson entende o tom perfeito para cada momento, cada faceta de Jack Reacher. O que poderia ser um clichê norte-americano, um homem branco esquecível e padrão, se torna mais divertido, carismático e fascinante graças ao seu trabalho, igualmente natural e calculado.


Essas duas descrições podem, também, ser aplicadas à série como um todo. Reacher é um exercício em fazer parecer natural cada escolha do showrunner Nick Santora e sua brilhante equipe. “É claro”, você falará ao ver o interior da casa de Finlay, o carro de Roscoe, a camiseta de Reacher, a interação entre os três, o passado de Jack, o desenrolar do caso. Mas em nenhum momento essa claridade parece vir da mesmice, do óbvio, do previsível. Nada em Reacher é por acidente. Sua simplicidade revela uma vastidão de decisões de produção, roteiro e direção com o objetivo de remover toda distração possível e entregar a melhor versão possível dessa história. Feijão com arroz. Mas com tempero.


"Você deveria assistir" é a coluna do Chippu sobre séries disponíveis em serviços de streamings com o propósito de destacar produções, velhas e novas, dignas de sua atenção. Pérolas escondidas, dicas alternativas e sugestões que podem estar ofuscadas pelos títulos mais óbvios.

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