Você deveria assistir: Euphoria é o holofote que Zendaya merece

Você deveria assistir: Euphoria é o holofote que Zendaya merece

Retornando para sua segunda temporada na HBO e HBO Max, série de Sam Levinson enfrenta desafio de amadurecer sem perder o estilo

Guilherme Jacobs
10 de janeiro de 2022 - 9 min leitura
Notícias

Poucas pessoas tiveram o 2021 que Zendaya teve. A atriz foi uma presença importante em dois dos maiores filmes do ano - Duna e Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa - e mais uma vez reforçou sua posição como super estrela do cinema, ícone da moda e, bom, Zendaya. Mas, apesar de ter dominado as gigantescas telas de IMAX ao redor do globo, o holofote digno de seu poder interpretativo encontra-se na televisão, como a estreia da segunda temporada de Euphoria - exibida aos domingos à noite na HBO e disponível no HBO Max - mostrou.


Criada por Sam Levinson - diretor de outro trabalho de Zendaya em 2021, o defeituoso Malcolm & Marie - e produzida, entre outras pessoas, pelos rappers Drake e Future, Euphoria conquistou as manchetes em 2019 por motivos inconsistentes com as qualidades da série. Muito se destacou a quantidade de nudez (e o recorde de pênis vistos num só episódio) e a aterrorizante representação de um fim de adolescência totalmente voltado para a violência, drogas e sexualidade desenfreada. Pouco a pouco, porém, esse ruído foi substituído pelos reais destaques: a direção cheia de estilo e o excelentíssimo elenco jovem formado por Hunter Schafer, Maude Appatow, Sydney Sweeny, Alexa Demie, Barbie Ferreira, Jacob Elordi e, minha descoberta favorita do grupo: Angus Cloud como o traficante com voz mansa Fezco.


Juntos, eles criam uma verdadeira combustão. Cada um é como um elemento químico explosivo e perigoso, pronto para criar novas cores e sensações ao ser misturado com o próximo, com sabores distintos mas complementares de uma receita de adolescentes com raiva do mundo, dos pais, dos amigos e deles mesmos, revoltados e desesperados para entender, aceitar ou mudar suas identidades, mas ainda incapazes de entender como fazer isso. O elenco é importantíssimo, particularmente em como elevam o material escrito e dirigido por Levinson.


Euphoria está banhada de estilo. Neon, glitter, flashbacks, cortes inesperados, sequências de sonhos, composições efêmeras, iluminação expressionista. Sam, filho do lendário diretor Barry Levinson, parece ter esperado a vida toda pelo momento de comandar uma produção assim, e deixa todas suas sensibilidades pop fluírem em uma constante correnteza de criatividade. Não há truque diferente demais. Não há exagero inconsistente. Tudo vale. A primeira temporada, por exemplo, terminou com um número de música e dança.


Mas analisado num nível mais profundo, o trabalho de Levinson aparenta, como muitos dos personagens da série, visualmente marcante mas confusos quanto ao que falar. Ao tratar quase todo momento e situação como um videoclipe a ser construído, Levinson chama a audiência a considerar a importância de diversas cenas como alta, sua relevância como indispensável. Muitas vezes, porém, não parece haver nada lá. O roteiro é dinâmico, divertido e algumas vezes emocionantes, seus personagens são cativantes e seus arcos interessantes, mas os temas de Euphoria ainda se mostram além de seu criador. Como se ele estivesse os compreendendo junto com Rue, Jules e os outros protagonistas da história.


Talvez isso seja adequado para uma série sobre amadurecimento. Talvez Levinson queira na direção refletir o contraste entre a riqueza de detalhes superficiais e o vazio interno dos personagens. E há motivos para crer numa maturidade maior na segunda temporada. Por conta da pandemia e demora no retorno das filmagens, Euphoria lançou dois especiais mais contidos e limitados, um focado na Jules de Schafer e outro com uma longa, profunda e importantíssima conversa entre a Rue de Zendaya e Ali, do fundamental Colman Domingo, talvez o personagem mais profundo e caloroso da série como um todo.


Ambos especiais, particularmente este de Zendaya e Domingo, ainda tinham a direção perspicaz e as ótimas atuações de seus astros, mas aqui os flashes diminuíram, a fumaça se dissipou e Levinson explorou sua criatividade de uma forma mais crua. A nudez emocional em troca da sensual. A limitação da pandemia significou menos atores, menos sets; o roteiro e diálogos precisavam levantar o peso. Ali, não só os personagens, mas o próprio criador de Euphoria, encararam os temas difíceis que a série se propõe a abordar de maneira mais simples e humana.


Ainda não sabemos o quanto essa segunda temporada irá aproveitar as lições aprendidas nos especiais, mas uma coisa é certa: Levinson não está interessado em diminuir a escala da produção. A divertidíssima estreia dos novos episódios conta com uma festa de ano novo cheia de personagens, encontros inesperados e momentos genuinamente divertidos e engraçados, além, claro, do constante flerte dos personagens com a destruição própria. O melhor momento, porém, é como o especial destacado acima: duas pessoas conversando. Fezco e Lexi (Appatow), uma dupla totalmente inesperada, têm uma conversa genuína e calorosa no meio da bebedeira e música alta.


Fezco deve ganhar mais destaque no novo ano. Os episódios de Euphoria sempre abem com um flashback para a juventude e origem dos personagens, e ele é o primeiro. Cloud atua como alguém constantemente cansado da escuridão na qual existe, desdenhando da situação de sua vida mas ciente de como sobreviver nela. Vemos a dualidade com força nesse episódio: logo depois de conseguir o número de Lexi mostrando uma honesta gentileza, ele espanca Nate (Elordi) até deixá-lo ensanguentado.


Cloud e Appatow certamente merecem ganhar papéis mais presentes nessa nova temporada, mas não há para onde fugir. Zendaya é o grande destaque da série. Vencedora do Emmy pelo papel na primeira temporada e uma das mais poderosas e interessantes estrelas jovens de Hollywood, ela precisa fazer de tudo aqui. Atuando como se precisasse exorcizar os papéis do começo de sua carreira, a atriz descarrega aqui a energia que outras veteranas do Disney Channel descarregam na vida real. A raiva das brigas com a mãe, a brisa do exagero nas drogas, o sofrimento da abstinência e o desespero do relapso. Há choro, grito, riso, amor, música e dança nos seus olhares, passos e diálogos. Levinson sabe o que tem em suas mãos. Os closes no rosto de Zendaya mostram isso.


Eu já usei essa palavra algumas vezes, mas vale repetir. Entre tantos nomes jovens ascendendo no mundo do cinema e televisão, poucos merecem tanto ser chamados de estrela como Zendaya. Mas apesar de sua popularidade, os papéis como protagonista não estão, ainda, vindo no volume digno de seu talento. Ainda vamos ver o quanto Euphoria vingará em sua nova temporada, mas a mera presença dessa atriz. por si só, garante algo especial.


"Você deveria assistir" é a coluna do Chippu sobre séries disponíveis em serviços de streamings com o propósito de destacar produções, velhas e novas, dignas de sua atenção. Pérolas escondidas, dicas alternativas e sugestões que podem estar ofuscadas pelos títulos mais óbvios.

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