Você deveria assistir: Copenhagen Cowboy, série do diretor de Drive, é uma história bizarra de super herói e gangues

Você deveria assistir: Copenhagen Cowboy, série do diretor de Drive, é uma história bizarra de super herói e gangues

Lançada silenciosamente na Netflix, nova série de Nicolas Winding Refn é tão bizarra quanto é fascinante

Guilherme Jacobs
10 de janeiro de 2023 - 8 min leitura
Notícias

Zoom em câmera lenta. Iluminação neon. Ritmo glacial. Personagens em posturas imediatamente marcantes. A trilha sonora produzida por Cliff Martinez tocando alto. Não demora muito para entendermos que estamos numa produção de Nicolas Winding Refn, e esses marcos estão novamente presentes na nova série do diretor de Drive e Bronson. Silenciosamente lançada pela Netflix na primeira semana do ano, Copenhagen Cowboy não só é a melhor criação do cineasta dinamarquês em mais de uma década, trazendo a linguagem visual tão aclamada pelos fãs do realizador, como também sugere uma passagem para a auto reflexão por parte do mesmo. Inseparável do noir nórdico graças à trilogia Pusher, Refn retorna para o gênero, agora mais popular do que nunca graças aos streamers, para examinar seus atos e oferecer novas direções.

Desde Drive, Refn é um dos queridinhos quando o assunto é o debate entre estilo e substância; a criação de imagens icônicas divorciadas de qualquer profundidade além de seu impacto visual. Para uns, o filme de 2011 oferece o melhor exemplo do seu talento, e para outros é a maior prova do seu status de falso messias. Quando escrevi elogios a Drive no Letterboxd, fui rapidamente respondido por um comentário (agora deletado) desmerecendo totalmente minha opinião. Discordo do autor, mas entendo a reação negativa.

Enquanto considero Drive um dos grandes filmes da década 2010, os esforços seguintes de Refn — Only God Forgives, a maior decepção que já tive no cinema, e The Neon Demon — deram gás à ideia de que além de algumas composições dignas de virarem papéis de paredes, não há muito para se explorar de bom em sua arte. Sua primeira aventura na TV, a já esquecida Too Old To Die Young no Prime Video, sugeriu um ego descontrolado, alguém tentando se provar fazendo exatamente aquilo pelo qual ele é criticado.

De certa forma, Copenhagen Cowboy é mais um exemplo disso. Ela é, inteiramente, uma série de Nicolas Winding Refn. Seus problemas são familiares e suas qualidades, em grande parte, são conhecidas. O curioso, contudo, é como o diretor reproduz as ideias visuais firmadas no seu cânone enquanto simultaneamente parece se mover para o período referencial de sua carreira. Muma tentativa de bater o escanteio e correr para cabecear, ele encontra algo que, na melhor das hipóteses, indica a busca por novas ideias e novos significados. E, na pior, denuncia Refn como alguém sem mais nada para dizer.

A realidade é que Refn provavelmente tem a mesma dúvida com Copenhagen Cowboy. O que ele tem para dizer? Na série, ele parece se desafiar a achar essas respostas inéditas, e nos oferece suas descobertas através da história de Miu (Angela Bundalovic, uma revelação), uma jovem mulher descrita como um "amuleto" que supostamente garante milagres, sucesso e boa sorte para quem lhe tem. No começo, ela é vendida para um bordel e, numa tentativa de fuga, acaba se envolvendo em múltiplas conspirações e intrigas dentro do submundo de crime da Dinamarca, passando por gangues, restaurantes, porcos, algo parecido com vampiros e talvez até alienígenas.

Os dois episódios iniciais, em particular o primeiro, são os mais desafiadores. Refn move lentamente (até para seus padrões) nos apresentando a um mundo nada humano onde o sobrenatural paira de maneira invisível entre os dramas dos personagens. Talvez refletindo nas verdadeiras vitimas deste gênero de vingança e suspense, o diretor centra a trama em mulheres e imigrantes, levantando dinâmicas talvez melhor compreendidas por audiências de seu país natal mas ainda sim universais em seu apelo. A partir disso, começa a ficar claro como ele pretende se reexaminar. Os vilões incluem homens abusadores, adorares de seu próprio pênis, interessados na imagem feminina, e o próprio Refn faz uma participação como uma dessas figuras tenebrosas, admitindo sua culpa na criação de obras ultra masculinas, violentas e brutais.

Enquanto tece esses comentários nada sutis, Refn continua construindo imagens assombrosas, arrebatadoras e instantaneamente magnéticas. Devagar (muito devagar), Copenhagen Cowboy se transforma de uma simples histórica de vingança para algo maior, mais misterioso e mais complexo. Um conto de fuga vira um épico de crime e, eventualmente, termina como a mais bizarra história de super herói da década. Vestida de um agasalho esportivo azul que essencialmente é seu uniforme e armadura, dotada de poderes psíquicos inexplicáveis e surpreendentemente talentosa nas artes maciais, Miu coleciona as vidas de inimigos enquanto tenta ajudar mães e filhas, mulheres exploradas e traficantes com coração de ouro.

Essa jornada é retratada pelo diretor de forma ultra estilizada, com direito a lutas fantásticas e sequências de caráter quase fantasmagórico. Ao som das músicas compostas por Peter Peter, Peter Kyed, Cliff Martinez e Julian Winding; banhadas no vermelho, azul e roxo neon; capturadas em tomadas nas quais a câmera gira 360º múltiplas vezes, essas cenas ganham uma qualidade quase terapêutica. As vibes, digamos, são imaculadas. Entrar em Copenhagen Cowboy é sem dúvidas desafiador. Uma vez acomodados, porém, parecemos, como Miu, se tornar capazes de sintonizar em frequências além do real e andar em sincronia com Refn.

Não faltará combustível para reabastecer a discussão sobre os méritos do diretor, mas se Copenhagen Cowboy prova algo, é que quando Refn está em sua zona, o próprio estilo pode oferecer a substância. É o caso em Drive, e num nível menos eficaz mas ainda competente, é o caso aqui. Parte do que impede o sucesso total desse experimento está na insistência de Refn em não oferecer algumas respostas na conclusão da temporada, que se encerra fechando algumas tramas mas deixando a mitologia totalmente ambígua. Considerando o desinteresse da Netflix em divulgar essa série, e o potencial limitado de sua popularidade, qual a chance de termos uma renovação?

Se nunca retornarmos à Copenhague de Miu e Refn, porém, ainda teremos esse vislumbre de seis horas do que acontece quando o diretor recebe um cheque em branco para refletir não só na sua dedicação ao exercício do cool, como até nas suas raízes provenientes das limitadas e brutais narrativas de drogas e mortes nas sombras da Dinamarca.

Chamar Copenhagen Cowboy de uma desconstrução é exagero. Pouco interessado na sutileza, Refn deixa cada subversão óbvia, e apesar de estar disposto a executá-las, ele segue mais interessado no projeto de sua vida. Luzes neon, Hideo Kojima, câmera lenta, figurinos ousados, vingança, sangue e protagonistas quase mudos. Copenhagen Cowboy não só anuncia o retorno de NWR (como ele mesmo se intitula nos créditos de abertura) como também diz que, na verdade, ele nunca nos deixou.

"Você deveria assistir" é a coluna do Chippu sobre séries disponíveis em serviços de streamings com o propósito de destacar produções, velhas e novas, dignas de sua atenção. Pérolas escondidas, dicas alternativas e sugestões que podem estar ofuscadas pelos títulos mais óbvios.

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