The Witcher: Segunda temporada - Crítica do Chippu

The Witcher: Segunda temporada - Crítica do Chippu

Menos divertida mas mais profunda, série segue uma das melhores adaptações da Netflix

Guilherme Jacobs
13 de dezembro de 2021 - 8 min leitura
Notícias

A primeira temporada de The Witcher - adaptação da Netflix dos mesmos livros de fantasia de Andrzej Sapkowski de onde saíram três populares games - foi uma longa caminhada. Sua aposta em uma narrativa com múltiplas linhas do tempo demandava paciência da audiência, com episódios aparentemente independentes eventualmente se conectando e completando um quadro surpreendentemente eficaz. Agora, dois anos depois, Geralt de Rivia (Henry Cavill), Yenner de Vengerberg (Anya Chalotra) e Ciri de Cintra (Freya Allan) retornam para novos episódios mais tradicionais, mas não menos cativantes.


O retorno ao mundo dos monstros começa praticamente de onde o último episódio parou. Geralt e Ciri finalmente se encontraram, e o Witcher precisa aprender, agora, a cuidar dela tanto como filha quanto como aprendiz, protegendo e treinando a menina, enquanto a antiga princesa de Cintra começa a se aprofundar nos mistérios de seu passado. Sem entrar em spoilers, é possível apontar uma direta conexão entre as perguntas principais dessa nova temporada e um evento conhecido como Conjunção - o big bang deste universo, uma colisão das esferas (mundos) dos elfos, monstros, anões e humanos - e Ciri será nossa guia nessa busca por respostas.


A jornada mais afundo dessa mitologia se torna não só tolerável, como fascinante, por causa do relacionamento entre Geralt e Ciri. O personagem de Cavill se dedica totalmente à criança surpresa, e por tabela, nós vamos com ele. A relação dos dois é refrescante no meio de tantas dinâmicas de pai-e-filha dos últimos anos, por conta de sua conexão quase supernatural, os dois não começam a temporada se desgostando, mas já desejam interações boas. O grosso da temporada mostra a dupla em Kaer Morhen - fortaleza para onde os Witchers vão no inverno, descansar, treinar e se reencontrar - e apesar das dores necessárias, não há grandes desentendimentos ao ponto de impedir um bom ritmo de crescimento. Geralt segue sendo perfeito para Cavill. Sem grandes alcances emocionais, o ator se encaixa bem num papel de poucas palavras e emoções reduzidas. A nova temporada adiciona mais falas e menos grunhidos, e enquanto sentimos um pouco de falta dos "humms" constantes de Geralt, não podemos negar o sucesso dos roteiristas em construir um protagonista cada vez mais interessante.



Igualmente agradável é ver a surpreendente relação entre Ciri e os outros Witchers. Ela começa, claro, sendo olhada como uma inferior e alguém cuja presença em Kaer Morhen nunca poderia ser justificada. Mas graças à incrível determinação da princesa, entregue com uma atuação confiante e convincente de Allan, tanto nós como esses outros bruxos somos levados a não acreditar numa eventual transformação da menina em guerreira, como torcemos por isso, celebrando cada conquista e feito dela no treinamento. Em determinado ponto, Triss Merigold (Anna Shaffer) é levada à fortaleza. O roteiro dessa temporada utiliza Triss de maneira muito mais importante e interessante, particularmente em sua surpreendentemente calorosa recepção de Ciri. Também presente está Vesemir (Kim Bodnia), mentor e figura paterna de Geralt, traçando paralelos claros entre o relacionamento central da série e o passado de seu protagonista.


Mas nem só de Ciri e Geralt vive a série. Há mais duas linhas narrativas que partem do confronto no Monte Soddem, onde a primeira temporada se encerrou. Yennefer precisa lidar com as duras consequências de ter usado magia de fogo na batalha climática entre o Norte e Nilfgaard. Chalotra segue sendo a melhor atriz do elenco, com uma imperdível presença de tela capaz de nos enfeitiçar antes mesmo de sua personagem começar a usar seus poderes. Seus profundos olhares e impressionante trabalho emocional tornam Yennefer tão digna de comandar a história quanto Geralt, e talvez até mais. Através dela, também reencontramos Jaskier (Joey Batey), o bardo cuja nova canção não pode não ser tão popular quanto "Toss a Coin to Your Witcher," mas certamente mantém a criatividade nas letras num nível altíssimo. Ele adiciona uma leveza bem-vinda à temporada (mais sobre isso depois).


Menos interessante, porém, é a terceira narrativa. Focada em Fringilla (Mimi Ndiweni) e os elfos liderados por Francesca (Mecia Simson). Fringilla definitivamente é mais tridimensional agora, apresentando mais emoções, inseguranças e particularidades, mas não é o suficiente para fazer suas cenas parecerem um intervalo indesejado antes de voltarmos ao que realmente interessa: Geralt, Ciri e Yennefer. Ndiweni faz o melhor trabalho possível, mas especialmente considerando nossa falta de tempo e investimento emocional nos elfos, essa parte da segunda temporada nunca consegue justificar muito sua existência.


Piorando as coisas está a falta de humor da temporada, algo particularmente notável na narrativa de Fringilla e Francesa. Geralt ainda consegue arrancar alguns risos, assim como Yennefer, mas o enredo mais sério, as locações limitadas (Geralt só sai de Kaer Mohren depois de cinco episódios lá) e o papel menor de Jaskier tiram muito do senso de diversão e aventura presentes no ano calouro da série. Vemos menos do mundo, conhecemos menos personagens, e as tramas nas quais o Witcher se envolve são menos surpreendentes e cômicas.


A ação, por outro lado, subiu de nível. A nova temporada parece ter recebido mais recursos de produção, sendo filmada em cenários maiores e bonitos, e com um aumento claro na qualidade de efeitos especiais. CG melhor significa monstros melhores. Algumas também criaturas misturam o visual digital com maquiagem prática, e quando Geralt entra em contato com elas, há uma necessidade menor de escondê-las no escuro e nas sombras. Sim, ainda há momentos com gráficos levemente estranhos, mas The Witcher não tem medo de colocar um monstro no centro da tela e deixar-nos entender suas particularidades, detalhes e estranhezas.


A segunda temporada de The Witcher, então, é uma mudança de curso. Ao invés de tentar repetir os efeitos da primeira, a equipe criativa optou por fortalecer alguns pontos fracos mesmo perdendo certas qualidades. Os novos episódios faltam no lúdico, mas ganham no desenvolvimento de personagens cada vez mais profundos e interessantes. Ao todo, essa segue uma das adaptações mais bem-sucedidas da Netflix.

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