O texto abaixo contém spoilers de "O Enjeitado," quarto episódio da terceira temporada de The Mandalorian. Repitam comigo: MANDOOOOO!

Dois personagens estão dando passos significativos dentro do Caminho do Manda'lor em "O Enjeitado," quarto episódio da terceira temporada de The Mandalorian. Enquanto um enjeitado levado por um monstro voador precisa ser resgatado por um esquadrão liderado por Bo-Katan (Katee Sackhoff), outro, nosso pequeno Grogu, aprende sobre a fé e costumes mandalorianos, e participa pela primeira vez de um treinamento de combate. Na missão de resgate, porém, alguém também está descobrindo (ou melhor, redescobrindo) essas coisas. Não o garoto em perigo, mas sua salvadora. Em Bo-Katan, faíscas estão se acendendo.

Em termos escopo de narrativa e até duração, o Capítulo 20 é um dos menores de The Mandalorian até hoje. Escrito pela dupla de criadores Jon Favreau e Dave Filoni, porém, ele é um retorno à fórmula de pura aventura semanal com muita ação e bons momentos de personagens que fez essa série simultaneamente encontrar sucesso em meio ao cenário da televisão atual, e também servir como um refresco do mesmo. Simples mas não simplória, rápida mas não apressada, convidativa mas não sem descuidada, The Mandalorian é, acima de tudo, a garantia de diversão bem-executada. Este episódio é o mais novo exemplo disso.

Resumi-lo não é tarefa difícil, e essa brevidade pode ser (e por alguns, será) interpretada como superficialidade. Acompanhamos, em paralelo, como após mostrar suas habilidades nascentes num duelo contra outro enjeitado (que, depois, é levado), Grogu é recepcionado pela Armeira (Emily Swallow) em sua Forja para, testemunhando a preparação um amuleto para sua armadurinha, ouvir os princípios da crença mandaloriana, um dos quais é a ideia de purificação através de provações. Mal sabe a fiel que o Baby Yoda já tem um passado de sofrimento. Como vimos rapidamente em O Livro de Boba Fett, o garoto estava na Academia Jedi quando a Ordem 66 foi executada e os Clones se voltaram contra os usuários da Força no golpe orquestrado por Palpatine. Agora, vemos como ele saiu de lá.

Seu salvador é um personagem interpretado por Ahmed Best, e o momento funciona em dois níveis de metacomentário. Best interpreta o mestre Kelleran Beq, Jedi que protagoniza o game-show Star Wars: Jedi Temple Challenge, programa exibido pela Lucasfilm no YouTube onde crianças passam por testes para se tornar Jedi. Aqui, ele é introduzido pela primeira vez como parte do cânone da galáxia muito, muito distante. E está, claro, salvando uma criança.

Assim como tenta recontextualizar clones de Palpatine, midichlorians e outros elementos polêmicos de Star Wars, com graus variados de sucesso, The Mandalorian, agora, oferece uma nova chance de brilhar para Best, conhecido por interpretar o personagem mais odiado desta franquia, como o responsável por salvar uma das figuras mais queridas dela: Grogu. Se Kelleran Beq retornará ou não, ainda não sabemos, e o flashback tem pouco a dizer sobre Grogu, mas é difícil não admirar a decisão de Favreau e Filoni de incluí-lo.

Tirando esse ato de genuína gentileza, há pouco para se comentar sobre o flashback para Coruscant. Já sabíamos do passado traumático de Grogu, e apenas tivemos mais vislumbres do mesmo. Mais interessante é a jornada de Bo-Katan, que pela primeira vez em muito tempo se sente parte da genuína fé mandaloriana ao liderar um grupo formado, entre outros, por Din Djarin (Pedro Pascal) e Paz Vizsla (Tait Fletcher), pai do garoto levado pelo monstro.

As sequências com os mandalorianos oferecem a Carl Weathers (trocando o papel de Greef Karga pelo de diretor) a chance de conduzir grandes sequências de ação e ao lendário diretor de fotografia Dean Cundey para, mais uma vez, fazer The Mandalorian parecer a série mais visualmente avançada da televisão atual. No meio dessas explosões, perseguições aéreas e eventual retorno triunfante (acompanhados dos filhotes das criaturas voadora), os mandalorianos tratam Bo-Katan como uma irmã, e até honram seus feitos. Assim como foi quando ouviu Din dizer "como deve ser" nas minas e como sua reação no final do episódio passado, ela parece comovida pela nova oportunidade de caminhar na Doutrina.

Ainda desejo que The Mandalorian investigue o quão válido é o legalismo praticado pelos Filhos do Olho, mas o despertar da fé em Bo-Katan tem sido fascinante, particularmente por como Sackhoff (e suas dublês Joanna Bennett e Jessie Graff) comunicam, com linguagem corporal e falas sutis, o mover do coração da personagem. No fim do capítulo, ela revela ter visto um Mitossauro para a Armeira — que, por sua vez, não parece inteiramente convencida do fato mas não descarta a visão como um todo — e parece decidida a perseguir o significado da criatura.

É possível criticar os últimos dois episódios de The Mandalorian pro suas decisões de colocar Din um pouco no banco de reservas, mas o título da série não precisa, necessariamente, se referir ao protagonista de Pedro Pascal. Sackhoff é uma grande atriz, e Bo-Katan tem uma longa história em Star Wars. Se a terceira temporada lhe oferecer mais o holofote, como podemos ver isso como algo ruim?