Opinião: The Boys usou Herogasm como isca para fazer seu melhor episódio até hoje

Opinião: The Boys usou Herogasm como isca para fazer seu melhor episódio até hoje

Venha pelo absurdo, fique pela excelência

Guilherme Jacobs
24 de junho de 2022 - 6 min leitura
Notícias


Há dias se fala do famoso "Herogasm" de The Boys. O episódio que adaptaria - parcialmente - o arco da supersuruba dos quadrinhos de Garth Ennis e teria pênis enormes, nudez, absurdos e tudo mais. De fato, estava lá. Ocupou menos tempo do episódio do que o esperado, mas estava lá. Piadas, nojeiras e imagens infelizmente inesquecíveis dentro do bacanal dos super-heróis da Vought. Isso foi, entretanto, apenas a isca. Como fazem com tudo da HQ, Eric Kripke e sua equipe transformaram uma história medíocre em algo excelente, usando o choque para garantir atenção e depois sublinhando os temas da temporada - e da série inteira - com cenas e encontros cuja intensidade nos faz prender a respiração e perceber que, aqui, tudo é possível.


Como um todo, The Boys coloca personagens numa rota de testes e tribulações. O quanto eles aguentam? Quanto tempo o Capitão Pátria (Anthony Starr) aguenta dessa rotina de falsidades antes de ceder aos seus piores impulsos? E o quanto Bruto (Karl Urban) aguenta a sensação de impotência até se tornar o que mais odeia? Quanto mais Annie (Erin Moriarty) consegue segurar suas frustrações interiores e sorrir para o público fingindo estar bem? Essas são as perguntas presentes desde o primeiro episódio dessa sátira política, social e cultural tão afiada, mas os episódios deste ano deixaram tais questões mais urgentes e inescapáveis. Todos estão sendo esticados de forma mais dolorosa e desafiadora. A introdução do V Temporário, as consequências da catástrofe com Tempesta e as crescentes crises de imagens estão pesando no equilíbrio dessa sociedade construída em cima de mentiras. Com a chegada de Soldier Boy (Jensen Ackles), então? Fogo e gasolina.


Além de reforçar as críticas de The Boys à cultura de celebridade, aos efeitos da fama e à hipocrisia política, "Herogasm" serve como ponto sem volta para esses personagens. Depois da explosão do Soldier Boy, matando dezenas de heróis e civis na festa carnal, o namoro de Annie e Hughie (Jack Quaid) chegou ao seu limite, assim como a tolerância dela para o joguinho da Vought. Quando ela faz a live no fim, revelando as verdades do Capitão Pátria e da empresa por trás dos Sete, o momento serve tanto como um pedido de socorro desesperado quanto como um grito de alívio, finalmente se recusando a continuar nesse ciclo sem fim de obsessão com aprovação, seguidores e popularidade. Leitinho (Laz Alonso), por sua vez, não tem mais paciência para a decisão de Bruto de assumir poderes temporários e sua aliança com Soldier Boy, e vê-lo decidindo ajudar os feridos ao invés de entrar na luta dos supes mostra como, apesar de seu discurso, ele ainda está disposto a virar a outra face, e é o melhor homem por isso.


A genialidade de The Boys, porém, está no fato de que também entendemos aqueles cujos caráteres já se renderam aos atalhos e trapaças. O encontro de Hughie com o Trem-Bala (Jessie T. Usher Jr) nos lembra da morte que colocou essa série em andamento e nos ajuda a aceitar e até apoiar sua decisão de tomar o V temporário. Esses supes são horríveis. Ninguém terá pena de Trem-Bala se, ao matar o lixo racista responsável por paralisar seu irmão, seu coração tenha parado de vez. Soldier Boy é outro exemplo da verdadeira face desses "heróis," mas se sua existência significa a morte de vários deles, então topamos e vamos juntos. The Boys tira o pior de nós porque coloca faces e nomes em nossas frustrações. Os políticos que nos disseram para sair de casa numa pandemia, as celebridades que cantaram "Imagine" ao invés de usar seu dinheiro para algo bom, todos, aqui, podem sangrar.


Por isso, a luta final foi tão significativa. Começando com o embate entre Soldier Boy e Capitão Pátria, ela finalmente nos deu o vislumbre da morte desse avatar de vilania. Quando Bruto e Hughie entram no confronto - algo necessário, já que o veterano não parece páreo para seu sucessor - me peguei na beira do sofá, quase gritando para a televisão, torcendo para que eles o matassem. Claro, Capitão Pátria não devia morrer tão cedo, mas The Boys já fez o suficiente para me fazer acreditar que tudo é possível, então por que não? O representante de todo o nosso ódio, preso no chão, prestes a ser dizimado. Impossível resistir. A empolgação de vê-lo apanhando tomou conta.


Essa foi a jogada de Kripke para nos colocar nos pés de Bruto e Hughie e para frustrar tanto personagens quanto audiência ao deixar o Capitão escapar. Claro, ele se viu ferido e vulnerável, mas o esforço só causou danos colaterais irreparáveis. Por mais satisfatório que seja vê-lo humilhado, a missão falhou. Ceder à podridão, fazendo alianças com outros supes e até se tornando um deles, não é o caminho para os Rapazes mudarem o mundo. Ironicamente, o ato de Annie irá ferir Capitão Pátria muito mais do que a luta. Enquanto os outros finalmente rasgaram, ela se segurou inteira. Talvez o ceticismo e niilismo de The Boys puna seu bom ato, mas hoje, aqui, ela foi a única luz.

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