The Boys retorna mais focada e com relação entre pais e filhos guiando a história - Primeiras Impressões
Mesmo que ainda soe repetitivo, quarto ano adiciona novos personagens que auxiliam na trama e a aproxima ainda mais da realidade
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Nas últimas duas temporadas de The Boys, era recorrente vermos os criadores e atores da série dizerem que aquela seria a temporada para chocar os espectadores. Cabeças explodindo, orgia de heróis, bebês com lasers, supes explodindo dentro de outros, mais sangue, mais sexo, mais pessoas nuas, mais piadas… O que víamos era a produção sempre reciclando os “choques” em novas formas e subindo um degrau no explícito. Entretanto, nada disso era mais interessante do que a premissa que diferencia The Boys de outras produções: e se os heróis realmente vivessem no nosso mundo, sem a visão idílica ou jornadas espetaculares? E se eles fossem obras das grandes corporações?
A quarta temporada da série estreia muito mais focada em mostrar o comportamento dos heróis e o reflexo de suas escolhas no mundo “comum”, que basicamente é um reflexo do nosso - em especial o dos EUA pós-governo Trump. A divisão se dá em duas frentes: os pró-Capitão Pátria e Supers e os Starlighters, pessoas que vêem na ruptura de Annie (Erin Moriarty) com a Vought, um movimento para lutar contra as manipulações e opressão do império dos heróis. Essa polarização é o cenário ideal para a série criada por Eric Kripke destilar todo o seu deboche e sátira da realidade. Discursos contra socialistas e comunistas, criação de fake news absurdas e comentários sobre figuras políticas e empresariais, como Elon Musk e Jeffrey Epstein. Nada passa batido nos primeiros episódios da temporada.
Ainda há um sentimento de que estamos vendo a mesma coisa pelo quarto ano seguido. Essa repetição de situações talvez seja o calcanhar de Aquiles da série. A luta do grupo de Billy (Karl Urban) é uma história de gato e rato que nunca foge do que já vimos anteriormente. Hughie (Jack Quaid), por exemplo, ainda é o mesmo garoto assustado do início, mesmo já tendo se mostrado mais forte do que isso. As histórias de Profundo (Chace Crawford) e Trem-Bala (Jessie Usher), mesmo que ganhem um elemento novo aqui e outro ali, nunca se provam interessantes o suficiente para durar tanto tempo. Essas repetições e a perda de tempo com elas tiram espaço de tramas mais interessantes, como o conflito político de Victoria Neuman (Claudia Doumit), por exemplo.
Entretanto, The Boys acerta ao retornar para a quarta temporada mergulhando nos laços familiares que envolvem o duelo entre Capitão Pátria e Billy Bruto e colocando Ryan (Cameron Crovetti) no meio deles. De um lado, o herói que quer se provar como pai, que se vê envelhecendo e quer dar ao filho a atenção - paterna ou da mídia - que ele nunca teve quando pequeno. Do outro, um homem tentando salvar o último resquício vivo da família que sempre amou. Anthony Starr brilha (mais uma vez) com seu herói pronto para explodir. Suas atitudes no passado, como matar um opositor em público, o colocam na linha de frente do conflito político e social da história. Esse estresse e o comportamento relutante de Ryan cobram do Capitão Pátria uma maturidade que ele nunca aprendeu com a Vought e seus puxa-sacos. Por outro lado, o comportamento destrutivo de Bruto transformou, ao longo dos últimos anos, seu relacionamento com a família e seu grupo como água e óleo. Esse é o grande conflito e a melhor jornada que The Boys pode investir nos próximos episódios.
A série ainda ganha duas ótimas adições aos Sete com a chegada de Sage (Susan Heyward), uma heroína intitulada como a pessoa mais inteligente do mundo, e Firecracker (Valorie Curry). A dupla que Sage forma com Capitão Pátria traz um elemento que faltava aos últimos anos de The Boys: estratégia. Ao longo das temporadas anteriores, vimos os heróis agindo da forma que queriam ou seguindo o que os relações públicas e marqueteiros da Vought diziam. A presença de Sage coloca um novo perigo para aqueles que enfrentam os heróis: alguém que pensa antes de agir. Por outro lado, Firecracker é uma potência na criação de fake news e do uso de redes sociais, algo que o grupo perdeu desde a saída de Luz-Estrela e a morte de Tempesta (Aya Cash). Ela é a voz para incendiar os apoiadores do Capitão Pátria. A criatividade para as mentiras contadas por Firecracker só não é mais hilária porque lembramos que elas saem diretamente do mundo real.
A quarta temporada de The Boys começa com tudo o que os fãs mais gostam. Há violência, gore, piadas com órgãos genitais e outras partes da anatomia humana, mas tudo na medida certa, sem eclipsar o que realmente importa. O barato da série está nos relacionamentos, seja dos heróis com os humanos e a mídia, entre o grupo de Bruto e Hughie ou de pais e filhos. Nessa atenção maior dos três primeiros episódios, todos saem ganhando. Do Capitão-Pátria ao Leitinho da Mamãe (Laz Alonso). De Bruto até Francês (Timer Kapon) e Kimiko (Karen Fukuhara).
E além disso, não dá para negar, o gostinho de reta final que começa a ser sentido neste novo e penúltimo ano de The Boys é muito bem-vindo.