Super Mario Bros. tem história simples demais, mas passa de fase - Crítica do Chippu

Super Mario Bros. tem história simples demais, mas passa de fase - Crítica do Chippu

Adaptação da Illumination é cheia de referências aos games da Nintendo

Guilherme Jacobs
4 de abril de 2023 - 8 min leitura
Notícias

Uma das primeiras cenas do filme animado de Super Mario Bros. da Illumination e Nintendo revela o comercial feito pelos titulares irmãos, Mario (Raphael Rossatto) e Luigi (Manolo Rey), para promover seu negócio como encanadores. Luigi defende o vídeo dizendo que mais que publicidade, aquilo é um filme. É uma tentativa da animação de garantir para nós que há mais razões por trás da existência dessa adaptação além de vender brinquedos e jogos com o mascote mais conhecido dos videogames.

Confesso que ao terminar de assistir a segunda cena pós-créditos, meu maior desejo não foi ver outro filme mas sim ligar o meu Nintendo Switch e brincar no Super Mario Odyssey. Em alguns momentos, porém, o argumento até soa convincente. Há um amor perceptível pelos personagens e pelo mundo criados por Shigeru Miyamoto no filme, e isso ressoa especialmente em cenas de ação remetendo às fases inesquecíveis dos vários games do personagem ao longo dos anos.

Os sons, cores e visuais desses games, afinal, estão entre os mais reconhecíveis de todo o entretenimento e arte global. Não demora muito para lembrar do visual de um koopa, ou trazer à memória o jingle que se ouve quando terminamos uma das fases de Miyamoto e sua turma de designers lendários. O filme de Mario, claro, precisava se pautar nisso tudo e reproduzir a sensação de estarmos no Reino dos Cogumelos.

Esse era o ponto de partida para a animação dirigida por Aaron Horvath e Michael Jelenic, e os dois fazem um grande esforço para traduzir até mesmo as mais obscuras criativas, os mais variados cenários e os mais conhecidos elementos da Nintendo para a telona. Isso resulta, em grande parte, num divertido espetáculo audiovisual. Quando em movimento, Super Mario Bros. exala a criatividade dos games e faz um trabalho eficaz de trazer tudo isso à vida como um universo palpável, vivo e repleto de desafios para Mario e Luigi.

Os irmãos vão parar lá depois que são sugados por um cano no subsolo de Nova York, onde moram com seus pais e tios (é uma experiência surreal ver o pai do Mario) e onde ninguém os leva a sério. Chegando lá, Mario gasta um total de 30 segundos estranhando o mundo antes de aceitar qualquer bizarrice do lugar e partir numa missão para ajudar a Princesa Peach (Carina Eiras) a derrotar o poderoso Bowser (Márcio Dondi) e, no processo, resgatar Luigi, que se separou durante a viagem entre realidades. Bowser, descobrimos, está em posse da Super Estrela e vai usá-la para dominar todos os reinos, como o dos Kongs, a moradia de Donkey Kong (Pedro Azevedo), e o dos Cogumelos, populado por vários Toads (Eduardo Drummond).



Super Mario não é exatamente a fonte das narrativas mais inesquecíveis dos videogames. A maioria dos jogos gira em torno da simples proposta de resgatar a princesa em outro castelo, e o filme eventualmente adota essa mesma missão para o herói. Ainda sim, é difícil não desejar que o roteiro de Matthew Fogel dê mais passos em termos de construção de enredo. Ninguém sairá reclamando do quão básica é a trama da animação, mas menos do que um feijão com arroz, ela é um arroz sem feijão. O texto não opera nem no raso, ele sequer se deixa molhar. Não há estabelecimento de regras, sensação de risco ou lógica por trás da maioria dos acontecimentos. Mais danoso, porém, é o quão pouco há de uma história para se agarrar.

Digo isso porque o que está ali, por mais simplório que seja, é legal. Os diálogos de Fogel, particularmente envolvendo Mario e Luigi, aliados ao fofíssimo visual do personagem e empoderados pela voz perfeita de Rossato e Rey* deixam nosso tempo a dupla, e particularmente o protagonista, lúdico e agradável, e a paixão dos animadores por acertar cada movimento, salto e momento garante que cada pixel transborde de carinho pelos irmãos encanadores, nos levando junto.

Você deve ter notado que estou usando o nome dos dubladores brasileiros. Isso é proposital. Foi como assisti ao filme e, acredito, será como a maioria dos brasileiros o verá. Além disso, o trabalho de todos merece esse reconhecimento. Chris Pratt nadinha.

Fica o desejo por mais. Por mais oportunidade de ver Mario treinando com Peach, explorando o reino dos Kongs e caminhando com Toad pelos outros reinos, vistos durante meros minutos de tela e certamente guardados para inevitáveis continuações. Estes coadjuvantes, aliás, são quem mais sofre com a economia do roteiro. Para deixar mais frustrante, tempo que poderia ser gasto com o grupo é usado para dar luz aos piores vícios da Illumination, como inserções irritantes de músicas da Universal Music Group ou montagens com a abordagem inquieta e cansativa presente nos outros trabalhos do estúdio, uma que busca recompensar a hiperatividade e que não sabe como prender a atenção de crianças sem usar zooms constantes, piadas cansadas a cada segundos e cortes frenéticos.

A mão da Nintendo e Miyamoto, porém, impedem que a Illumination transforme Mario num novo Sing ou Minions. Afinal, Super Mario Bros. não precisa dessas coisas. Ele já tem um dos mundos mais dinâmicos e visualmente interessantes dos games, e isso é transportado com êxito para o cinema. Em especial nas cenas de ação usando elementos dos jogos de forma criativa — os Karts, os Power-Ups, as plataformas — Super Mario Bros. salta de forma vibrante e cativante. O filme falha quando acha que precisa adicionar ainda mais em cima disso, e foge da beleza inerente ao jogo.

Novamente, por isso, é difícil não querer que houvesse mais. Quando Super Mario Bros. confia no apelo inerente ao seu material base e encontra maneiras criativas de recriar a sensação de jogar Mario na telona, ele parece um jogador veterano superando chefões sem sofrer danos. Quando, porém, a conhecida tendência da Illumination de “emburrecer” o conteúdo, subestimando a inteligência emocional da criançada, ele flerta com o game over. No fim, Mario passa de fase.

3/5

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