Opinião: Star Wars finalmente tem um futuro, e há razões para termos esperança

Opinião: Star Wars finalmente tem um futuro, e há razões para termos esperança

Com anúncio de novos filmes e séries no Celebration 2023, Star Wars parece mais variado do que nunca

Guilherme Jacobs
7 de abril de 2023 - 9 min leitura
Notícias

Há um ano, publiquei um longo texto opinativo criticando o momento de Star Wars. Ali, falei como a insistência em contar as mesmas histórias, nos mesmos períodos de tempos, com os mesmos personagens, estava prejudicando a saga da galáxia muito, muito distante e diminuindo o tamanho e riqueza de seu universo. Tínhamos inúmeras séries sobre os anos entre os Episódios III e IV, em Tatooine, e com foco na criação da Aliança Rebelde*.

*No texto, comento que apesar de fazer parte da "mesmice," Andor parecia sensacional. E foi. Se é pra voltar pra território conhecido, que seja para algo tão fenomenal como essa série, que provavelmente é a maior obra de Star Wars desde os filmes originais. Enfim, de volta ao presente.

Agora, com o anúncio de três filmes no Star Wars Celebration e novidades sobre quatro séries, parece que a Lucasfilm me ouviu. Star Wars finalmente tem um futuro. As novas produções vão de 25 mil anos de tudo que já vimos em Star Wars até 15 anos depois do abominável Episódio IX. Há tramas protagonizadas por Jedi, Sith, crianças, rebeldes e mandalorianos. Tal variedade condiz com a riqueza do mundo criado por George Lucas e sugere que, se você não gostar de algo, haverá uma outra opção, com outro sabor e textura, disponível.

Isso não significa, claro, que tudo sairá bem. Mas pela primeira vez em alguns anos, temos razões para nutrir esperança. A primeira delas se chama Dave Filoni.


Uma mão firme

Filoni foi escolhido a dedo por Lucas, e é o mais perto de um sucessor dele na Lucasfilm, pelo menos em construção narrativa. Ninguém, fora o próprio Lucas, entende tanto de Star Wars como Filoni. Ele faz até o Episódio I parecer uma obra-prima quando fala sobre os temas dessa franquia e sobre os vários personagens que a povoam. Seu primeiro trabalho foi na série animada Star Wars: The Clone Wars, onde ele apresentou Ahsoka, trouxe Darth Maul de volta, aprofundou a mitologia dos mandalorianos e contou algumas das mais criativas aventuras dos Jedi.

Ahsoka, Maul e os mandalorianos voltaram emStar Wars Rebels, continuação de Clone Wars com foco numa célula rebelde formada pelos Jedi Ezra Bridger e Kanan Jarrus, a mandaloriana Sabine Wren, e os rebeldes Hera Cyndulla e Zeb Orellios. Mostrando mais da formação da Aliança, Rebels se jogou de cabeça nos mitos de Star Wars, entrando mais a fundo do que nunca nos mistérios da Força e seus poderes. Teve até viagem no tempo.

Então, Filoni ajudou a criar o "Mandoverso" de séries atuais. Ao lado de Jon Favreau, ele lançou The Mandalorian. De lá saiu a irregular O Livro de Boba Fett e, agora, a série derivada da própria Ahsoka, cujo trailer deixa claro que será uma continuação de Rebels. Todas essas três, assim como Skeleton Crew de Jon Watts, são contemporâneas, e Filoni finalmente fará sua estreia nos cinemas para contar o que deve ser um grande evento unindo todos esses personagens num longa-metragem. É difícil não se animar. Ele tem, constantemente, se mostrado capaz de não só contar histórias entrando nos mais cabeçudos pormenores de Star Wars, como também deixá-las acessíveis, divertidas e convidativas. Para fãs, tê-lo dirigido um longa-metragem é uma volta olímpica. Ninguém merece mais.


Ainda há riscos

Conhecendo Filoni, seu filme funcionará para quem só viu coisas mais populares como The Mandalorian e Ahsoka, mas se você não quiser algo tão enraizado em séries e animações, há outras opções no cinema. Destas, a mais badalada e sem dúvidas mais polêmica é a continuação da vida de Rey, com a volta de Daisy Ridley. Dirigido por Sharmeen Obaid-Chinoy, este filme (originalmente escrito pelo genial Damon Lindlelof e Justin Britt-Gibson, mas agora está nas mãos Steven Knight) é, ao mesmo tempo, a aposta mais certeira (uma atriz e heroína conhecida) e arriscada (a última aventura de Rey foi péssim). Eu gosto Ridley. Até o Episódio VIII, eu também gostava de Rey. Então veio o que deve ser o pior filme de toda essa franquia, uma covardia mascarada como fanservice que jogou fora qualquer coisa singular sobre a personagem e lhe fez roubou de um arco interessante para repetir plot-twists antigos e previsíveis.

Agora, Ridley está de volta. É um risco, e eu entendo a reação negativa de tantas pessoas, por mais que ache Ridley uma ótima escolha para liderar um destes filmes e, até as revelações sobre seu sobrenome, gostasse muito da direção da personagem. Então, veio Rey Palpatine. Veio "Rey Skywalker," e o todo o potencial pareceu desperdiçado. Sobrou algo no tanque? Rey merece uma segunda chance? Eu acho que sim, mas é difícil ter certeza.

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Novos tempos

Curiosamente, esse projeto oferece mais dúvidas do que o terceiro filme anunciado, um recheado de perguntas, e um que reforça meu pedido de explorar diferentes eras de Star Wars. O filme de James Mangold se passará na era chamada "Dawn of the Jedi," 25 mil anos antes dos eventos envolvendo Skywalkers, Kenobis e Palpatines. Nunca voltamos tanto tempo na cronologia. Como será a galáxia? Como são as tecnologias? Como é o governo? Há naves? E dróides? Mangold pretende fazer um "épico bíblico" sobre a descoberta da Força e o surgimento do primeiro Jedi. Temos pouquíssimas ideias de como isso se manifestará, mas considerando sua ascensão para o alto escalão dos diretores de blockbusters, ele parece à altura do desafio. E não é bom? Ter mistério? Não saber? Ir para um território novo, uma época inédita, e ver algo estranho?

De certa forma, O Acólito também gera essa boa dúvida. 100 anos de Ameaça Fantasma, o seriado de Leslye Headland, uma voz tão única e distinta na televisão moderna, chama atenção pelo frescor. Isso vai além do primeiro Jedi Wookie de Star Wars. A era da Alta República também não foi explorada no live-action, e a proposta de um mistério de assassinato como força narrativa combinada com a dinâmica de um mundo com vários Jedi, mas obervado a partir da perspectiva Sith, é fascinante.

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Adicione o domínio de tom de The Mandalorian e a confiança altíssima na capacidade de Tony Gilroy de nos entregar mais uma fabulosa temporada de Andor, cuja maturidade para lidar com as questões de fascismo e liberdade inerentes à Star Wars continua único, e há muita razão para sentir-se esperançoso. Claro, há dúvidas quanto ao filme da Rey, e confesso ainda estar incerto quanto a Skeleton Crew (crianças como protagonistas sempre é um risco), mas olhe quantas direções se abriram depois desse Celebration. Quando foi a última vez que tivemos isso? Provavelmente, antes do Episódio VII.

No mínimo, não podemos mais criticar Star Wars por insistir apenas nos Skywalkers. À exceção de Rey... Skywalker (ugh), os projetos não são subsistentes às trilogias do cinema. Também surgiu uma variedade de protagonista que, aliada ao passeio pela linha do tempo, deve garantir variedade narrativa. Da espionagem de Andor à espiritualidade do filme de Mangold, da diversão simples de Mandalorian à mitologia de Ahsoka, Star Wars, pela primeira vez em muito tempo, parece tão grande quanto a galáxia que retrata. Temos o plano de voo. Agora, é fazer a viagem. Eu tenho um bom pressentimento.

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