Star Trek: 15 anos do reboot perfeito

Star Trek: 15 anos do reboot perfeito

Filme dirigido por J.J. Abrams começou uma nova aventura com elenco, designs e timeline inéditas

Alexandre Almeida
8 de maio de 2024 - 9 min leitura
Notícias

A vida do fã de Star Trek não andava fácil na primeira década dos anos 2000. No cinema, Nêmesis não foi muito bem nas críticas e flopou nas bilheterias, sendo o primeiro filme da franquia a não estrear em primeiro. Na TV, a série prequel Enterprise capengava para se manter no ar e em 2005 foi cancelada com apenas quatro temporadas.

Foi então que a Paramount chamou J.J. Abrams, o queridinho da galera por conta de Lost, Alias e responsável por revitalizar a franquia Missão: Impossível na linha narrativa que dura até hoje, para dirigir um reboot.

A história não parecia nada simples: contar os primeiros passos dos icônicos personagens da série original na Frota Estelar. Era um vespeiro daqueles. Para piorar a situação, o diretor nunca escondeu que não era o maior fã da franquia e tinha suas preferências pela “concorrência”, Star Wars. Abrams se juntou aos roteiristas Roberto Orci e Alex Kurtzman, com quem trabalhou em M:I 3 e um quase-milagre saiu dali.

Star Trek, de 2009, é um reboot perfeito para a marca e influencia até hoje as novas obras, comandadas por Kurtzman, como Strange New Worldse Discovery. Além disso, é uma das melhores produções de Star Trek e pode ser colocada em prateleiras altas como as de A Ira de Khan, A Volta para Casa e O Primeiro Contato.

Um elenco perfeito

A tarefa mais difícil do filme de J.J. Abrams era escalar atores para viverem personagens tão marcantes como Kirk, Spock, McCoy e Uhura. Se eles por si só já são icônicos na TV e no cinema, seus intérpretes formam uma mistura no imaginário popular que até aqueles que não são fãs da franquia, são capazes de reconhecer. Quem teria coragem de vestir as orelhas pontudas de Leonard Nimoy ou viver um símbolo que foi a Uhura de Nichelle Nichols?

startrek1

Chris Pine veste toda a canastrice do galã destemido de William Shatner. Zachary Quinto, talvez com a tarefa mais difícil, carregar a seriedade e o estranhamento com as atitudes humanas deNimoy. Karl Urban não poderia ser mais perfeito como o médico rabugento que odeia estar no espaço, criado por DeForest Kelley. Zoe Saldana, que já havia mostrado seu lado trekker em O Terminal, de Steven Spielberg, cumpre perfeitamente o papel de Nichols. Simon Pegg, uma das melhores adições de Abrams aos filmes de Missão: Impossível, rouba a cena quando aparece como o engenheiro Montgomery Scott, antes interpretado por James Doohan. Completam o grupo os excelentes John Cho e Anton Yelchin, como Sulu e Chekov, feitos por George Takei e Walter Koening.

É fantástico como o roteiro de Orci e Kurtzman dá espaço para que, mesmo em uma história central de Kirk e Spock, todos os principais tripulantes da USS Enterprise tenham seu momento de brilhar, seja na ação, momentos mais explicativos ou no drama.

E se falamos de elenco e as estrelas da história, é impossível deixar passar o quanto a nova Enterprise é bonita. A ponte de comando reflete o clean e os espaços tecnológicos da Apple. Na parte da engenharia, o design se aproxima dos grandes navios da marinha americana, corroborando com a ideia de Gene Roddenberry de que essas naves são como as das aventuras navais.

star-Trek2009-1-aspect-ratio-2-74-1

Uma desculpa perfeita

Mas como contar essa história sem mexer nas tábuas sagradas da série original criada por Roddenberry na década de 1960? A sagacidade dos roteirista foi utilizar um conceito que hoje está em alta: uma nova linha temporal.

Ao colocar Nero, o vilão romulano interpretado por Eric Bana, voltando no tempo e mudando o destino da família de Kirk, Orci e Kurtzman criam uma nova timeline em que podem utilizar de referências e personagens clássicos, sem precisar seguir exatamente o que foi feito no passado.

Com a perda do pai – um Chris Hemsworth pré-Thor e MCU -, James T. Kirk cresce sem a grande referência que teve para entrar na Frota Estelar. Esse papel acaba com o Christopher Pike, de Bruce Greenwood, personagem que, antes, estava relegado ao episódio piloto da série 1966.

eric-bana-nero-star-trek


Uma temática perfeita

Star Trek sempre foi uma série de temáticas e/ou assuntos relacionados ao que estava acontecendo no mundo. Alguns dos melhores episódios da série original trata de enredos com raças alienígenas que representam os conflitos sociais e bélicos da Guerra Fria. Strange New Worlds, a nova série do universo, faz isso muito bem.

Em um mundo pós-11 de setembro, com as guerras do Afeganistão e Iraque, além de grandes tragédias naturais como o Katrina e o tsunami no sudeste asiático, J.J. Abrams e os roteiristas escolhem fazer uma história sobre emoções, família e perda.

Os três pontos principais giram em torno dessa temática: Kirk perde o pai, quando este se sacrifica para salvar ele, a mãe e mais 800 tripulantes da USS Kelvin. Spock é constantemente questionado sobre sua metade humana e o quanto suas emoções o tornam fraco. Seu laço “emocional”, a mãe (Winona Ryder), também morre na história. E Nero, totalmente movido pela vingança depois que, em seu tempo, perde a família e o planeta por um erro da Federação.

Essa narrativa dos três colapsa em um midpoint perfeito da história. Teoricamente, o midpoint é o meio exato da história e a partir dele, a jornada do protagonista passa a não ter volta ao que era antes. Em Star Trek, os roteiristas fazem isso com a extinção de Vulcan, o planeta de Spock e um dos mais famosos da franquia. A partir dali, a história de Spock nunca mais será a mesma, a de Kirk ganhará um encontro que mudará tudo e a vingança de Nero, em parte, dá certo.


startrek4


Um encontro perfeito

Um dos maiores acertos de Star Trek ao utilizar o conceito de linhas do tempo diferentes é trazer como um dos elementos a figura do Spock clássico. A aparição de Leonard Nimoy junta o antigo e o novo de forma precisa. A junção de mentes dos dois mostra ao futuro capitão da Enterprise quem é Spock e quais os seus verdadeiros sentimentos. Essa amizade dita as melhores aventuras e os dramas mais interessantes da franquia.

Por mais que William Shatner seja incrível como Kirk, pensar numa dinâmica dessa entre ele e o Spock de Zachary Quinto não tem o mesmo impacto. É muito mais interessante que um personagem inconsequente como Kirk aprenda a partir da emoção do “inimigo”, como os dois são naquele ponto da história”, do que um personagem metódico como Spock reconheça valor na inconsequência emocional de Jim.

startrek6


Star Trek, hoje, pelo menos no cinema, se encontra no maior hiato desde o lançamento do primeiro filme em 1979. O futuro da franquia parece incerto com inúmeros adiamentos e mudança de diretores e equipe criativa. Parece injusto com uma geração, a Kelvin Timeline como chamam, que teve três filmes entre bom e excelente.

E se o futuro guardado para Star Trek é o de um novo reboot, que seja onde ninguém jamais esteve: com um segundo reboot perfeito.

startrek3

star-trek
chris-pine
zachary-quinto
zoe-saldana
simon-pegg
john-cho
karl-urban
paramount
jj-abrams
chippu-originals
star-trek-2009
leonard-nimoy

Você pode gostar

titleCríticas

The Surfer leva Nicolas Cage a níveis quase sem precedentes de autodepreciação

Com estreia no Festival de Cannes, suspense australiano coloca o ator contra uma gangue de surfistas

Guilherme Jacobs
18 de maio de 2024 - 5 min leitura
titleCríticas

Oh Canada faz do cinema um confessionário para Jacob Elordi e Richard Gere

Paul Schrader sempre usou o cinema para se abrir, agora ele fez um filme sobre isso

Guilherme Jacobs
18 de maio de 2024 - 7 min leitura
titleFilmes e Cinema

Planeta dos Macacos: Conheça a história e o trabalho do brasileiro que participou dos efeitos do filme

André Castelão é Motion Editor da Weta e foi um dos responsáveis por parte do processo de captura de movimentos

Alexandre Almeida e Guilherme Jacobs
17 de maio de 2024 - 9 min leitura
titleFilmes e Cinema

Tipos de Gentileza deixa Yorgos Lanthimos e Emma Stone num meio termo desconfortável

Novo filme do diretor de Pobres Criaturas tem intrigantes atuações, concepção e premissas, mas juntos eles não geram nada demais

Guilherme Jacobs
17 de maio de 2024 - 7 min leitura