Stanley Kubrick: No seu 95º aniversário, o gênio está em todo lugar
Com influências claras em Barbie e Oppenheimer, diretor de 2001 e Dr. Fantástico segue presente no cinema
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A primeira cena de Barbie, o filme #1 do mundo nesta semana, existe porque 2001: Uma Odisseia no Espaço existiu. Oppenheimer é a mais nova adição à linguagem cinematográfica da bomba atômica criada há 40 anos por Dr. Fantástico. Em novembro, quando Napoleão chegar, será impossível não pensar no que teria acontecido se o maior filme nunca feito fosse concluído. Stanley Kubrick não está vivo para celebrar seu 95º aniversário nesta quarta-feira (26), mas ele está em todo lugar.
Muitas vezes descrito como o cineasta sob quem mais palavras foram escritas (um legado para o qual este texto contribui agora), Kubrick não precisa ter seus feitos cinematográficos recontextualizados ou descobertos novamente. Conforme nos aproximamos de seu centenário em 2028, o desafio é encontrar algo novo para dizer sobre o homem cujo currículo inclui clássicos o suficiente para que feitos como a lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos da S&S, com três Kubricks, pareçam ainda ter subestimado suas contribuições para a sétima arte.
Afinal de contas, basta olhar para o maior fenômeno do cinema internacional em anos, a dobradinha Barbenheimer e seu domínio da bilheteria e cultura pop, para ver suas digitais. Elas estão ali. As referências, o histórico, a abordagem. Tudo é Kubrick.
Em Barbie, por exemplo, o DNA de 2001 vai além da forma criativa com a qual a diretora Greta Gerwig utiliza a abertura do filme de 1968 para demonstrar o impacto da chegada da boneca na vida de crianças.
A ideia, claro, funciona imediatamente. Assim como o misterioso monolito de 2001 injeta algo diretamente na veia da transformação biológica tecnológica da humanidade, encenada por Kubrick no que pode muito bem ser o maior corte de todos os tempos, a boneca da Mattel traz as meninas para uma nova era, onde sua brincadeira não se limita a imitar mães cuidando de bebês. É a versão capitalismo-tardio da evolução alienígena de Uma Odisseia no Espaço.
[O parágrafo a seguir contém spoilers de Barbie. Se quiser evitar, basta pular para a continuação do texto depois da imagem]
Mas o filme que acompanha a abertura também está centrado na mudança de uma espécie. Se em 2001, o monolito retorna para apontar a raça humana na direção de uma jornada pelas estrelas culminando no nascimento de algo novo; o nosso próximo passo. Barbie, por sua vez, está preocupada não em transcender a humanidade mas em encontrá-la, e Gerwig conclui seu filme, um grande exercício de humanizar um brinquedo, fazendo literalmente isso.
Comparações como essas, onde um filme parece espelhar o outro, não funcionam tão bem com Dr. Fantástico e Oppenheimer, mas a semelhança temática é inescapável. Quando Christopher Nolan coloca o físico vivido por Cillian Murphy imaginando o apocalipse, ele é apenas mais um numa longa lista de cineastas retratando direta ou indiretamente a criação da bomba com o fim da humanidade. Em Oppenheimer, esse debate é existencial. A atmosfera não pegou fogo quando o teste Trinity aconteceu, mas e se aquela explosão nos colocou num caminho sem volta?
Em Dr. Fantástico, Kubrick encontra a forma mais hilária, perturbadora e absurda de retratar o destino final para onde a criação de Oppenheimer pode nos levar. A insegurança do homem, sua sede por poder — sexual, político, militar — leva a uma comédia de erros que, de certa forma, é um grande paralelo do arco temido pelo "pai da bomba atômica." Ele teme que o detonar da bomba inicie uma reação em cadeia irreversível enforcando todo o planeta em chamas, e é isso que acontece em Dr. Fantástico. Não é uma bomba só, claro, mas quando o general Jack D. Ripper de Sterling Hayden ordena um ataque contra a União Soviética, ele começa algo que não terminará até que cada ser humano tenha sido dizimado.
Oppenheimer, claro, está longe de ser o único filme sobre a bomba comparável a Dr. Fantástico (o maior deles, Limite de Segurança, saiu no mesmo ano que o clássico de Kubrick), mas ele é o mais novo membro de uma linhagem artística; o mais recente longa-metragem a colocar nossos temores de sermos os arquitetos de nossa própria destruição.
Infelizmente, nunca poderemos colocar o Napoleão de Ridley Scott lado a lado ao de Kubrick. Sua gigantesca adaptação da vida do imperador francês nunca viu a luz do dia, mesmo com um extenso trabalho de preparação. A história de Bonaparte no cinema, claro, precede Stanley — um ano antes de Kubrick nascer, Abel Gance fez o filme para o qual todos os outros longas-metragens napoleônicos olho — mas é notável como tem sido difícil colocar a vida do general em tela. Waterloo, de 1970, teve a escala mas não a alma, por exemplo.
De qualquer forma, cinéfilos não vão resistir imaginar o que Kubrick teria feito com Napoleão quando entrarem no cinema para ver Joaquin Phoenix como o imperador este ano. Talvez Steven Spielberg, como fez com A.I., ajude o projeto a ganhar vida, mas será em parte. Como Barbie e Oppenheimer provam, só houve, e ainda há, um Stanley Kubrick.