Robert Downey Jr. Interpreta não um, mas quatro personagens em O Simpatizante, nova série da HBO, que tem ninguém mais e ninguém menos que Park Chan-Wook (Oldboy) como showrunner e diretor do primeiro episódio.

As muitas facetas do ator não são novidades. Desde antes do conturbado processo de luta contra o vício (entre 1996 e 2001) e sua prisão, Downey Jr. estrelou filmes ao lado de grandes nomes como Oliver Stone, Mel Gibson e Sarah Jessica Parker. Na TV, ele fez parte da trupe do Saturday Night Live em 1985 e chegou a ser indicado ao Emmy por seu papel na série de comédia Ally McBeal.

Foi a partir de 2001 que a carreira de Robert Downey Jr. começou a preparar terreno para a sua volta triunfal com um tal super-herói bilionário.

De lá para cá, ele já viveu o maior detetive do mundo nos filmes de Sherlock Holmes, dirigidos por Guy Ritchie. Enfrentou o Macarthismo em Boa Noite e Boa Sorte, de George Cloney. Foi um viciado sarcástico em O Homem Duplo, de Richard Linklater. E ainda fez uma road trip com Zach Galifianakis, em Um Parto de Viagem, desafiou Robert Duvall nos tribunais, em O Juiz, e falou com os animais na nova versão de Doolittle.

Mas ainda falta falarmos dos grandes papeis da carreira do ator. Aqueles que marcaram o Downey Jr. antes dos anos 2000, aqueles que o ajudaram a se reerguer e aqueles que lotaram as salas de cinema e o tornaram um dos nomes mais fortes do cinema atual.

Charlie Chaplin, em Chaplin (1992)

Indicado ao Oscar e perdendo para Al Pacino, por Perfume de Mulher, até hoje essa é vista como uma das maiores atuações da carreira do ator. Se hoje, o filão de cinebiografias está mais forte do que nunca em Hollywood (principalmente as musicais) e atores acabam parecendo mais imitadores/cosplay dos biografados, em 1992, Downey Jr. superou o básico roteiro de Chaplin para entregar algo além de apenas copiar trejeitos. O ator encarna o mestre do cinema mudo de forma apaixonada e brilha, tanto mostrando o talento de Charlie Chaplin, quanto o drama vivido fora das telas.

Billy, em Short Cuts - Cenas da Vida (1993)

Imagina estar em um elenco com mais de 20 personagens e mesmo assim ainda conseguir se destacar. Agora imagina fazer isso em um filme de Robert Altman, um dos grandes nomes do cinema mundial. Em 1993, Downey Jr. deu vida ao carismático e suspeito Billy em Short Chuts - Cenas da Vida e teve seu nome colocado ao lado de Jack Lemon, Frances McDorman, Tom Waits, Andy McDowell e muitos outros. A parceria dele com Lili Taylor rende uma das melhores histórias nessa grande coleção de crônicas de Altman.

Harry Lockhart, em Beijos e Tiros (2005)

Se existe um diretor que sabe trabalhar boas duplas, esse nome é Shane Black. Conhecido por ter escrito Máquina Mortífera, o diretor também foi o responsável pelos ótimos Dois Caras Legais, com Ryan Gosling e Russell Crowe, e Beijos e Tiros. O filme juntou Robert Downey Jr. e Val Kilmer na história de um ladrão fracassado (Downey Jr.) que, ao fugir da polícia, acaba em um teste para atores e vai parar em Hollywood. Lá, ele vai ter que estudar para o personagem com um detetive particular (Kilmer). No meio disso, como nos filmes de Shane Black citados anteriormente, há uma trama de assassinato. A química dos dois atores é fantástica e a cena da roleta russa é impagável.

Paul Avery, em Zodíaco (2007)

Um dos grandes suspenses investigativos do cinema nos últimos 20 anos, Zodíaco, de David Fincher tem um trio central impecável: Downey Jr., como o jornalista Paul Avery, famoso por seus artigos sobre o serial killer que dá nome ao filme, Mark Ruffalo como um detetive e Jake Gyllenhaal como o cartunista do jornal. Um dos primeiros grandes papéis de Downey Jr. na sua volta é um exemplo de como ele sabe pode misturar bem seu lado sarcástico com o drama. O mergulho do jornalista na bebida e a paranoia do assassino solto dão ao ator uma grande oportunidade de brilhar. E ele (e seu cavanhaque a la Tony Stark já) aproveitam.

Kirk Lazarus, em Trovão Tropical (2008)

Já na primeira cena que aparece em Trovão Tropical, um trailer fake, Robert Downey Jr. mostra o lado cômico do início de sua carreira no papel de um ator que vive "o método" para atuar. Para Lazarus, o papel e a “arte” estão acima de tudo, inclusive de questões sociais. Hilário, polêmico e um marco na carreira do ator, Kirk Lazarus é a representação de uma hipocrisia centenária de Hollywood. Tão bem feita, que todos riram, bateram palma e o indicaram ao Oscar por debobchar de vários sentados ali na cerimônia. E merecidamente. As discussões de Lazarus e do rapper-ator Alpa Chino (Brandon T. Jackson) são fantásticas.

Tony Stark, em Homem de Ferro e em toda a Saga do Infinito (2008 – 2019)

"Eu sou o Homem de Ferro!" A frase que marcou a história da Marvel no cinema foi também o pilar fundamental na carreira de Robert Downey Jr.. Nada foi como antes. Tony Stark e o Homem de Ferro, homem e herói, que até então estavam praticamente nichados aos leitores de HQs, de repente tomaram o mundo e ficaram mais famosos (ou mais populares) que o Superman. Ao longo de uma década, foi ele a figura central do Universo Cinematográfico da Marvel e do cinema blockbuster. Muitos ainda não superaram a sua partida e outros tantos ainda torcem pela sua volta.

Lewis Strauss, em Oppenheimer (2023)

A coroação da carreira de Robert Downey Jr. veio com o Oscar pela sua interpretação como o grande antagonista da jornada de J. Robert Oppenheimer. Talvez a grande barbada daquela noite de premiações. Downey Jr. como numa versão realista do seu empresário, filantropo da Marvel, arrebatou o público e a crítica desde o lançamento do filme de Christopher Nolan. A última cena do personagem em Oppenheimer, a discussão com o assessor vivido por Alden Ehrenreich, carimbou o passaporte da vitória.