Por que a Warner Bros. Discovery cancelou Batgirl e está repensando o HBO Max

Por que a Warner Bros. Discovery cancelou Batgirl e está repensando o HBO Max

Cancelamentos chocantes e demissões em massa revelam o direcionamento de David Zaslav

Guilherme Jacobs
3 de agosto de 2022 - 7 min leitura
Notícias

Quando a chocante notícia do cancelamento súbito de Batgirl saiu, muitas foram as razões elencadas para justificar a decisão. Tabloides disseram que as notas de uma exibição de teste foram horrorosas (aparentemente falso), outros relatos sugerem o desejo da Warner Bros. Discovery de amenizar sua dívida (provável), mas há algo acima disso tudo. David Zaslav parece não gostar do HBO Max.


O HBO Max era o projeto do coração de Jason Kilar, CEO da antiga WarnerMedia que foi removido depois da fusão da empresa com a Discovery para formar o novo aglomerado de mídia comandado por Zaslav. Kilar foi responsável pelo polêmico "Projeto Pipoca", através do qual todos os filmes da Warner Bros. lançados em 2021 nos EUA tiveram estreia simultânea no cinema e streaming. Ele também aprovou a produção do Snyder Cut de Liga da Justiça e direcionou as forças da empresa para o serviço decolar. O resultado foi palpável. O crescimento do Max superou as expectativas e a plataforma, hoje, é vista como uma das melhores do mercado.


Mas Zaslav não parece enxergar a plataforma assim. Ele parte de uma perspectiva mais conservadora. Grandes filmes. Grandes nomes. Grandes lançamentos. Sua vontade para a DC Comics inclui blockbusters, Todd Phillips e bilheterias bilionárias (quem nunca?), e Batgirl certamente foi vítima dessa nova visão menos arriscada. Contudo, outros movimentos do CEO sugerem que o cancelamento não foi algo fora da curva, e sim o sintoma de uma condição maior.


Além de cancelar Batgirl, a WB Discovery também desistiu de uma continuação da animação Scoob! e o remake de House Party produzido por LeBron James (este está pronto e teria sido lançado no dia 28 de julho, mas não foi), ambos destinados ao HBO Max. Filmes originais do serviço, como Convenção das Bruxas e Charm City Kings, foram removidos da plataforma, ajudando o estúdio a economizar mais uns trocados. Isso foi apenas o começo, mais filmes e séries serão removidos e empregados do HBO Max devem ser demitidos por conta da fusão com o Discovery+.


Tudo isso aponta para uma direção clara. Zaslav e sua equipe não pretendem tratar o HBO Max da mesma forma que seus antecessores. Na verdade, o serviço não parece ser uma de suas prioridades.


O fim do HBO Max?


Saberemos mais na quinta-feira, quando a Warner Bros. Discovery realizar sua reunião com acionistas às 17h30 e revelar seus novos planos de negócio. Um deles é a fusão do HBO Max com o Discovery+. Ainda não sabemos qual serviço será incluído no outro, ou se haverá mudança no preço da assinatura como consequência dessa decisão, mas ainda existirá um serviço de streaming no qual filmes da DC e séries da HBO serão lançados. O nome pode mudar, mas isso não.


Este serviço, porém, dificilmente receberá o tipo de investimento visto no HBO Max nos últimos dois anos, e muito menos algo como a Disney ou Netflix têm feito para construir suas plataformas. De novo, os detalhes sairão na quinta, mas não seria surpresa ver o app se tornando basicamente a versão digital dos canais HBO (este continuará fazendo suas séries e até assumirá a produção de alguns originais do HBO Max) e Discovery, com a adição do lançamento dos longas-metragens da Warner Bros. Pictures depois de sua janela de 45 dias no cinema (isso se essa janela não mudar, claro).


Lançamentos simultâneos? Originais? Blockbsuters diretamente para streaming? Tudo isso deve diminuir ou até cessar. Mas por que?


Netflix e Top Gun: os dois lados da moeda


Hollywood gosta de tirar conclusões imediatas. Este ano, dois acontecimentos abalaram o estado da indústria e estão mudando o curso das coisas. O sucesso de Top Gun: Maverick é o primeiro. A Paramount (com muita influência de Tom Cruise, claro) decidiu não lançar o blockbuster no streaming durante a pandemia e adiou sua estreia, originalmente marcada para 2020, dois anos. O resultado foi aprovação quase unânime e inacreditáveis US$ 1.3 bilhão na bilheteria. Combinados, Batman e o terceiro Animais Fantásticos fizeram US$ 1.1 bilhão. Números como este fortalecem o argumento de que, apesar do sucesso dos serviço de streaming, filmes — especialmente os maiores — ainda fazem mais sucesso se forem para os cinemas.


Paralelamente, as ações da Netflix despencaram por conta dos dois trimestres seguidos nos quais a empresa perdeu assinantes. A crise levou a produtora de Stranger Things e Round 6 a intensificar seus esforços para monetizar o compartilhamento de senhas, a explorar planos mais baratos e com propagandas e até lançar seus maiores filmes primeiro nos cinemas, algo testado em julho com Agente Oculto. O crescimento, pela primeira vez em muito tempo, não parece algo ilimitado. Wall Street não vai mais se impressionar tanto com números de assinantes. Há um teto.


Precipitadas ou não, tais deduções são visíveis no planejamento de David Zaslav e de sua equipe. Conhecido por sua ênfase em dados e números e visão mais engessada do cenário de cinema e televisão, o executivo priorizará decisões econômicas, não criativas (todos fazem isso, mas ele ainda mais) e se isso significar jogar fora um filme praticamente finalizado, como Batgirl? Então que seja.


Se a morte de Batgirl é um prelúdio para o fechamento do HBO Max ou não, descobriremos na quinta-feira. O serviço como um todo não vai acabar, afinal há milhões de assinantes ali, mas mesmo que seu nome permaneça o mesmo, a plataforma, como é hoje, provavelmente não existirá em 2023. Seus filmes, muito menos.

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