Por que a Netflix cancela tantas séries depois de uma temporada e como isso afeta seu público

Por que a Netflix cancela tantas séries depois de uma temporada e como isso afeta seu público

Séries canceladas depois de uma temporada revelam um padrão dentro da empresa

Guilherme Jacobs
13 de junho de 2022 - 8 min leitura
Notícias

V.E. Schwab, autora do livro recentemente adaptado pela Netflix para a série de vampiras Primeira Morte, publicou o seguinte em seus stories do Instagram: "A todos que me perguntam sobre uma segunda temporada, depende quase inteiramente de quantas pessoas começam e terminam a primeira temporada nas primeiras duas semanas." Ênfase da própria autora.


É uma informação, uma resposta para fãs, mas também é quase um grito de socorro. Assistam à série, agora. Se este número não atingir o desejado pela Netflix em 15 dias, Primeira Morte morre. Essa não seria, porém, a primeira morte da Netflix. Nem de perto.


Eu não assisti a Primeira Morte, nem a diversas outras séries recentemente canceladas pela Netflix depois de uma temporada - Cowboy Bebop vem à mente - mas não faltam exemplos. O Legado de Júpiter*, Messias*, The Get Down, The Dark Crystal: Age of Resistance, I Am Not Okay With This, The Irregulars. Assim vai. Há listas na internet com mais de 30 exemplos. Já virou costume associar o serviço de streaming a produções nunca renovadas, tanto que algumas pessoas já reagem ao anúncio de novas séries com a certeza de um cancelamento inevitável. Quando tuitei brincando sobre Primeira Morte, essas foram as respostas:


*Essas eu vi! Infelizmente!


Você pode argumentar a favor desses cancelamentos utilizando a qualidade das séries em questão. De fato, algumas são medíocres ou no máximo medianas, mas a publicação de Schwab nas redes sociais revela a verdadeira razão por trás das decisões da Netflix: os números. É claro, dã. Estamos falando de uma empresa de tech.


Tirando a HBO, poucas são as plataformas dispostas a não desligar os aparelhos de algo cuja audiência não está à altura do esperado, mas o problema da atitude da Netflix vai além. Ao focar na quantidade de pessoas que terminaram uma temporada em questão nos primeiros 15 dias, o serviço está matando as próprias chances de conquistar um público fiel.


Não há chance para crescimento, oportunidade de descoberta. Se Primeira Morte receber o mesmo destino de tantos outros seriados, ela desaparecerá em um catálogo mal organizado e jamais terá como se encontrar em sua segunda temporada - como tantas séries fazem - e quem sabe até se tornar uma pérola escondida. Algo descoberto e maratonado depois de anos.


Esse é um dos problemas do método de lançar todos os episódios de uma vez. Sem capítulos semanais, cada seriado recebe, como a própria Schwab aponta, no máximo dois finais de semana para estar no holofote. Depois, já era.


Pense nos maiores sucessos da televisão. Breaking Bad ficou mais popular a cada ano (muito por conta de sua presença na Netflix,, veja só). The Leftovers, Fleabag, Succession são apenas alguns exemplos de séries cuja segunda temporada é vastamente superior à inicial, e foi responsável por aumentar sua popularidade. Friends e The Office foram descobertos por gerações mais jovens depois de terem acabado. Elas perduram, persistem, crescem. Primeira Morte, The Get Down, I am Not Okay With This e outras podem estar longe da altura dessas obras, mas ao serem canceladas, essa possibilidade lhes é totalmente negada.


Consequentemente, tudo ganha o ar de descartável. Se todas as séries podem ser canceladas apenas semanas depois de sua estreia, por que alguém investiria emocionalmente nesses personagens? Por que acompanhar? Compare essa situação com o comprometimento da Amazon de lançar cinco temporadas de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder. Isso não garante qualidade, mas permite que os criadores mudem, melhorem e aprendam ao longo dos anos. Para os fãs, fica a certeza de, no mínimo, ter uma narrativa completa. Você não precisa imaginar o final.


O Algoritmo


A diferença maior parece estar na maneira com a qual a Netflix não só decide cancelar um projeto, mas também na própria forma de decidir o que é produzido ou não. Pense rápido: Quantas séries com cunho adolescente - com alguma pegada sobrenatural/futurista - você já viu dentro do serviço? Primeira Morte, Stranger Things, Resident Evil, Fate: The Winx Saga. Eu posso continuar.


Há uma razão por trás disso. A Netflix quer alcançar o público adolescente e jovem, produzindo, então, histórias com apelo para quem está no Tiktok e Instagram. O que é popular? Algo com reviravoltas, mistério, atores jovens e reconhecíveis nas redes sociais, romance e uma propriedade intelectual atrelada. Lá vamos nós.


Se você, desde o começo, parte de uma perspectiva estatística, então é através dessa mesmíssima lente que seus
cancelamentos serão decididos. A Netflix de hoje está distante da empresa que um dia colocou Ozark, Mindhunter, Bojack Horseman e Orange is the New Black em tantas telas. Na verdade, é difícil acreditar que qualquer uma dessas séries, se lançadas, seriam renovadas.


Qual é a solução? Talvez seja a hora de começar a experimentar com o lançamento semanal, ainda que dois ou três episódios saiam juntos, talvez seja importante pensar melhor no que recebe a luz verde dos produtores da casa, de abandonar a abordagem matemática e buscar mais variedade, mas de qualquer forma, algo precisa mudar. O exemplo de Cowboy Bebop é um dos mais alarmantes. Ali, a Netflix fez questão de atrair os fãs do anime. A série original entrou no catálogo, muito alarde se fez pela fidelidade visual dos personagens, a compositora foi trazida de volta para a adaptação e a série ganhou destaque em eventos como a Geeked Week. Havia um sentimento de importância, da vontade da Netflix de encontrar sua tão desejada franquia de sucesso.


Menos de um mês depois de sua estreia, Cowboy Bebop foi cancelada. De fato, críticos e fãs reprovaram a adaptação de forma quase universal, mas mais que isso, o cancelamento revelou o quão vazio o tratamento da própria Netflix no marketing e divulgação é. Todos aqueles tweets, vídeos e fanservices foram para nada.


É difícil imaginar, então, admiradores de Sandman, One Piece e Avatar: A Lenda de Aang confiando no futuro dessas respectivas adaptações. Talvez elas nem sejam boas, mas a qualidade não significará salvação. O fantasma do cancelamento está sempre próximo.

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