Obi-Wan Kenobi: Episódio 6 - Crítica com Spoilers

Obi-Wan Kenobi: Episódio 6 - Crítica com Spoilers

Conclusão da série traz momentos grandiosos mas não escapa dos problemas presentes nos episódios passados.

Guilherme Jacobs
22 de junho de 2022 - 7 min leitura
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O texto abaixo contém spoilers do último episódio de Obi-Wan Kenobi.


De certa forma, o último episódio de Obi-Wan Kenobi cumpriu tudo que foi prometido, finalmente nos entregando uma luta entre o velho Mestre Jedi de Ewan McGregor e Darth Vader (Hayden Christensen/James Earl Jones) digna de ser chamada de "revanche do século," colocando algumas doses de fanservice por cima e fechando o arco da temporada. Por conta disso, essa é uma das melhores - se não a melhor - horas dessa minissérie. O finale, porém, ainda retém muitos problemas dos capítulos anteriores, como sequências de ação mal dirigidas e uma falta de propósito em existir. Com a jornada concluída, é difícil entender qual foi o propósito dessa história.


Não aprendemos nada de novo sobre Kenobi, não vemos a jovem Princesa Leia Organa (Vivian Lyra Blair) passar por uma transformação significativa e os Inquisidores pouco serviram como as grandes ameaças prometidas. Se a ideia da diretora Deborah Chow e sua equipe era só dar aos fãs mais uma chance de ver os sabres de Obi-Wan e Vader cruzando novamente, bom, aconteceu. A luta, de fato, é competente. Há usos criativos da Força e imagens inéditas dentro do cânone de Star Wars, como o Sith quebrando o solo, e momentos de arrepiar como ver o Jedi enfim demonstrando seu poder ao deixar o rival sem saída. O encerramento do embate - enquanto um pouco repetitivo para quem já viu Rebels - também é genuinamente emocionante. Chow repete o truque da animação de misturar as vozes de Vader e Anakin, e as transições entre ouvir Christensen e Earl Jones funcionam como uma maneira de mostrar a queda do antigo padawan. É genuinamente triste olhar em seus olhos, ouvir a respiração falhando e ver sua corrupção.


Esse impacto emocional é necessário para não só justificar a ideia de colocar Obi-Wan contra Vader novamente, antes do fatídico Episódio IV, como para dar a série algum ar de importância. Sabíamos que nenhum dos dois iria morrer, que as vida de Leia e Luke nunca estiveram em perigo, então sobrava uma apresentação da vida interior dos personagens aqui presentes. De novo, não houve muito disso ao longo da série, e isso sem dúvida é um um dos grandes defeitos dela. Mas isso esteve ali, quando a luta entre os dois terminou e Obi-Wan enfim declarou seu velho amigo como morto, deixado para trás apenas por um gigante robótico chamado Darth.


Se o confronto é bem-executado, porém, todo o resto fica abaixo da altura dessa lendária revanche. Em especial a perseguição de Reva (Moses Ingram, ainda ótima mesmo com um material tão ruim) contra o jovem Luke. Determinada a se vingar de Vader pela Ordem 66, ela decide ir atrás do menino após descobrir sua existência e deduzir que ele é filho de Anakin (não vemos isso acontecer, mas não há outra explicação). Milagrosamente, Owen (Joel Edgerton) e Baru (Bonnie Piesse) conseguem impedir que ela alcance o jovem garoto por um momento, mas a inquisidora eventualmente ganha a chance de matá-lo. A perseguição não é, como tantos outros exemplos de ação nessa série, bem dirigida. Novamente, Chow apela para o clichê de "ninguém atira bem em Star Wars" e esconde boa parte dos acontecimentos num cenário escuro - assim como a luta de Vader e Obi-Wan, mas ali pelo menos cria-se um contraste com os sabres - e o desenrolar da sequência é confuso e esquecível.


Ingram ainda é competente e consegue fazer um bom trabalho com o momento no qual Reva decide não matar Luke (chocante, eu sei) e não sucumbir ao ódio como Anakin fez com ela e seus amigos. A atriz, porém, tem que lutar contra um roteiro mal trabalhado, um que deixou o desenvolvimento de sua personagem para a reta final na esperança de ter tempo suficiente para tornar a inquisidora tão interessante quanto sua intérprete. Eles não conseguem, especialmente por ancorar seu grande momento dramático com a vida do maior herói da saga Skywalker. Não há peso dramático na cena, a não ser aquele trazido pela atriz. Por um lado, a sobrevivência do garoto está garantida, então não há como temer alguma consequência fatal, e por outro, Reva teve apenas algumas chances de mostrar outros lados de sua personalidade no capítulo anterior, ou seja, pouco nos importamos com sua mudança. Se é para celebrarmos a nova Reva, precisávamos conhecer a anterior primeiro.


Ela está longe de ser a única personagem deixada de lado em nome de um roteiro sem direcionamento. Leia termina a jornada como uma minicosplay de Carrie Fisher - Lyra Blair é fofinha, mas não está a altura do que algumas cenas pedem - e, novamente, joga fora qualquer chance de transformação e amadurecimento para a personagem ao decidir que ela já tinha que, aos 10 anos de idade, ser a pessoa que conhecemos em Nova Esperança. Semelhante, Obi-Wan reconquista a determinação para ser um Jedi mas tal transição jamais é bem trabalhada pela série. Quando, exatamente, ele deixou para trás o sentimento de derrota? Você consegue pensar nas conversas ou conclusões críticas para o retorno do verdadeiro Obi-Wan? Eles podem até estar lá, mas sua significância na obra é prejudicada pela falha de Chow e dos roteiristas em comunicar os mais simples sentimentos.


A aparição de Qui-Gon Jinn (Liam Nesson) no final deveria ser algo triunfante, uma recompensa para ambos protagonista e audiência por sua jornada ao longo de uma série de dificuldades emocionais e físicas. O momento, assim como a grande luta contra Vader e o flashback do episódio passado, na verdade se torna uma muleta. Aquilo que causará em nós alguma reação para tentar quebrar a apatia. Este Obi-Wan não tinha o terreno alto.

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