O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder | Khazad-Dûm parte nosso coração em trágico 6º episódio da 2ª temporada - Crítica e Resumo
Leia nosso resumo e análise do sexto episódio da segunda temporada da série de O Senhor dos Anéis
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É doloroso ver o que está acontecendo em Khazad-Dûm. No começo desta temporada de Os Anéis de Poder, mencionei como os arcos dos elfos, seja a amizade testada de Galadriel (Morfydd Clark) e Elrond (Robert Aramayo) ou a manipulação que Celebrimbor (Charles Edwards) está sofrendo nas mãos de Annatar/Sauron (Charlie Vickers), eram as partes mais intrigantes da série de O Senhor dos Anéis, mas desde que o Rei Durin (Peter Mullen) colocou seu Anel de Poder, o coração da história está com os anões, especialmente sabendo o que está por vir.
Os detalhes do que acontecerá com Khazad-Dûm já são conhecidos por aqueles familiarizados com os livros, mas você não precisa ser um expert em J.R.R. Tolkien para perceber para onde as coisas vão, já que até Sauron nota que não há por que se preocupar muito na manipulação de Durin se o destino daquele lugar está selado graças à presença de um Balrog nas profundezas da montanha, justamente onde os esforços de escavação opostos por Durin IV (Owain Arthur) e Disa (Sophia Nomvete) estão acontecendo. O enganador, ciente disso, dispensa o uso de mithril e usa seu próprio sangue e parte para insistir na forja dos Anéis para os homens e deixa os anões a cargo do destino.
Parte o nosso coração ver o que vem a seguir. Tanto o confronto de Durin filho com Durin pai, quanto a tristeza palpável na voz do príncipe quando este relata para Disa como seu querido patriarca parece estar distante, enterrado no meio das sombras mas visível o suficiente para que não seja esquecido, assim deixando quaisquer atos de traição ou revolta amargos. Por mais que o Anel tenha culpa, e por mais difícil que seja continuar vendo a queda de seu pai nas tentações de riqueza e poder, agir contra ele ainda é agir contra a própria família. O sempre carismático Arthur mostra facetas ainda inexploradas de sua atuação quando exclama que não tem forças o bastante para montar uma resistência, e suspeito que ele precisará dessas ferramentas em breve.
Digo isso tanto porque a ampulheta deste reino está caminhando a largos passos para um desastre, quanto porque o feito heróico de Disa – combinado com o divertido “eu te amo” proferido por seu marido ao vê-la invocar morcegos usando sua cantoria e retardar, ainda que por um pouco, a continuidade da mineração – é um dos maiores “death flags” já plantados nessa série. Eu não sei se ela irá, de fato, morrer, mas o sofrimento e o anão estão caminhando em paralelo, e suas rotas irão se cruzar mais cedo do que tarde.
Enquanto isso, em Eregion, o fogo já chegou. Na reta final do episódio, onde ainda vemos Celebrimbor sofrendo para conseguir forjar os anéis e eventualmente dependendo de Annatar para conseguir mais mithril (e ignorante do uso do sangue de Sauron no lugar do material), os exércitos de Adar (Sam Hazeldine) começam seu ataque contra a cidade, e a série entra de vez no estado de guerra que deve perdurar até o fim da temporada. É aí que Sauron faz seu principal truque até hoje, literalmente construindo uma ilusão capaz de fazer o elfo acreditar que não há cerco em andamento.
Semana passada, elogiei como Os Anéis de Poder tinha evitado usar a saída fácil da magia para encenar a manipulação de Sauron, preferindo optar pelo jogo de palavras e gestos. Contudo, preciso dizer que não só achei a decisão de mostrá-lo usando seus poderes mais livremente não só aceitável, como acertada. Ela adiciona finalidade ao seu arco com Celebrimbor, que agora entra em sua reta final. Além disso, o fato da magia vir depois do personagem conquistar tanto na base da sugestão justifica o seu uso, especialmente dadas as circunstâncias graves batendo à porta de Eregion, literalmente.
Gravidade, aliás, está por todo lado nesse episódio. Em Rhûn, o Estranho (Daniel Weyman) segue falhando seus testes e precisa fazer uma escolha entre “seu destino e seus amigos” quando tem visões de Nori (Markella Kavanagh) e os Grados morrendo nas mãos dos seguidores do Mago Sombrio (Ciarán Hinds,que não aparecia há algumas semanas). Tom Bombadil (Rory Kinnear) insiste, usando uma frase famosa proferida por Gandalf em A Sociedade do Anel*, que o Istar siga focado em adquirir seu cajado, mas conhecendo esse personagem, uma das criações menos interessantes de Tolkien (ele é tão ambíguo e abstrato em suas ações que suas segundas intenções se tornam óbvias e previsíveis), ajudar os precursores dos Hobbits certamente se provará a escolha correta.
*Depois de “seguir o nariz” no fim da primeira temporada, essa é a segunda vez que a série associa uma frase de Gandalf ao Estranho, ainda que esta seja dita por Bombadil. Entendo a teoria de que ele e o Mago Sombrio são os Magos Azuis, mas se isso estiver correto, por que a série faz questão de nos lembrar de Gandalf tanto? Se for só uma distração, será bem decepcionante.
Saindo do deserto para os oceanos, temos também uma tragédia anunciada conforme Ar-Pharazôn (Trystan Gravelle) desenvolve seu golpe, e está prestes a jogar Elendil (Lloyd Owen) para a grande serpente marinha como punição por sua traição. Elendil é a luz no fim do túnel do arco de Númenor, de longe o mais fraco da temporada e de toda a série, então sua possível morte seria uma verdadeira lástima. Sua despedida triste com a filha, Eärien (Ema Horvath), é o momento mais emocionante envolvendo humanos em Anéis de Poder até aqui, e felizmente ele é poupado quando Míriel (Cynthia Addai-Robinson) se submete em seu lugar. Se ele cometeu os crimes no nome dela, é justo que ela seja punida.
Segue-se uma forte sequência onde a rainha-regente mergulha nas águas, é levada às profundezas pela criatura, e cuspida no que é, pela lei, interpretado como um julgamento de inocência da parte dos Valar. Entre os defeitos de Anéis de Poder com Númenor está a falta de construção de Míriel, que está longe de merecer a admiração que alguns personagens demonstram, não por conta de sua falta de caráter, mas porque o material envolvendo ela, assim como quase tudo neste reino, é fraco. Aqui, porém, ao colocar em prática a belíssima frase que ouve de Elendil momentos antes: “uma fé só é verdadeira se for uma fé vivida.” É preciso uma fé operosa, que dê frutos.
E frutos serão dados, e colhidos, nas próximas duas semanas. Com este episódio, Os Anéis de Poder entrou de vez no último pedaço da temporada.