Morbius - Crítica do Chippu

Morbius - Crítica do Chippu

Simultaneamente básico e incompreensível, filme é o retrato de uma era passada

Guilherme Jacobs
30 de março de 2022 - 9 min leitura
Notícias

Há filmes e filmes quando o assunto são super heróis. Para cada The Batman há vários Batman vs. Superman. Para chegar em Vingadores: Ultimato, você precisa passar por Thor: O Mundo Sombrio. Mas goste, ou não, deles, é preciso admitir que maioria tem uma produção competente e um roteiro, no mínimo, divertido. Estrelado por Jared Leto, Morbius, o mais novo membro da iniciativa da Sony Pictures de desenvolver um universo de personagens relacionados ao Homem-Aranha sem o Homem-Aranha, é uma capsula do tempo para duas décadas atrás, quando um filme ruim de herói significava outra coisa.


Morbius parece seguir a descendência de produções de heróis com o mesmo esqueleto narrativo e proposta cujos membros incluem Motoqueiro Fantasma ou Quarteto Fantástico, filmes dotados de roteiros simultaneamente básicos e incompreensíveis, efeitos especiais bagunçados (aqui eles são mais avançados, claro, mas não melhores) e uma energia corporativa com a intenção de tentar espremer cada gota de vida de uma franquia tangencialmente associada a algo de sucesso. Como muitos títulos dessa árvore genealógica apodrecida, Morbius não é um desastre digno de adjetivos reservados aos piores exemplos dos blockbusters de quadrinhos (olhando pra você, X-Men Origens: Wolverine), porém parece ter ignorado todo o avanço dessa categoria. Ele não abraça a natureza cômica do material e nem tem coragem de trazer um novo tempero para a fórmula. Eu não sei para quem esse filme foi feito.


Talvez seja por causa das cenas pós-créditos, quando Adrian Toomes, o Abutre (Michael Keaton), aparece quase de forma inexplicável. Isso não é spoiler. Sua aparição foi revelada pelo trailer. Ela indica os planos da Sony de tentar, novamente, criar um Sexteto Sinistro cinematográfico. Não à toa Morbius é uma produção de Avi Arad, o homem que afundou a franquia O Espetacular Homem-Aranha, e não inclui a inteligente Amy Pascal na lista de produtores. Quando as luzes acenderam, uma pessoa com camisa do Aranha sentada atrás de mim declarou em alto e bom som: "essa cena foi melhor que o filme todo." Será? Isso é suficiente? Uma conexão claramente sem sentido, um plano aparentemente mal elaborado? Basta mencionar o herói e Morbius justifica sua existência?


Leto interpreta Dr. Michael Morbius. Depois de um experimento com morcegos para tentar curar sua rara doença sanguínea, o médico ganha características de vampiro como eco localização, desejo por sangue humano e força sobre-humana. Seu melhor amigo Lucien (Matt Smith), outro portador da doença, quer passar pela mesma transformação porque não aguenta mais viver à beira da morte. Michael tenta o impedir, mas ele vai em frente do mesmo jeito. Adivinhe o que acontece depois. O roteiro de Morbius parece, como seus poderes vampíricos, ter saído do laboratório, um com produtores no lugar de cientistas. As motivações dos personagens vão de básicas para inexistentes, suas personalidades tem a profundidade de um papel e suas ações só podem ser explicadas pela necessidade de novos acontecimentos.


Para o bem e para o mal, Morbius nunca se torna complicado demais. Por um lado, o diretor Daniel Espinosa não cai na armadilha de tentar enfiar coisas demais nesse filme. Tirando uma referência ou outra a Venom, Morbius existe de forma independente, sem o propósito de lançar vinte franquias diferentes, sem toneladas de exposição ou construção de mundo. As coisas fluem num ritmo bom (a duração é de 104 minutos) e há atores competentes em todos os papéis. A bagunça aqui é apenas visual, com efeitos especiais e cenas de ação mal executadas criando apenas ruído para os olhos. O roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless é modesto.


Mas ele também é ruim. Os personagens coadjuvantes, como Nicholas (um suuuuuuuuper subutilizado Jared Harris) - a figura paterna de Michael e Lucien - ou Martine Bancroft (Adria Arjona), a colega do protagonista, existem apenas para dar a Leto e Smith alvos com quem eles podem dialogar enquanto não estão contracenando. Já os agentes do FBI Stroud (Tyrese Gibson, totalmente drenado do seu charme lúdico) e Rodriguez (Al Madrigal, na mesma situação) parecem ser a versão da Sony do Agente Coulson dos primeiros filmes da Marvel - figuras "conectando" os filmes. Não há desenvolvimento para nenhum deles, nenhum uso inteligente desses atores ou de suas qualidades.


Leto e Smith são melhores, especialmente no primeiro ato quando Morbius ainda não se perdeu na ação desconectada ou nas decisões de roteiro sem sentido. Leto consegue comunicar o intelecto e carisma do médico quando não está escondido debaixo da maquiagem virtual ou quando o personagem deixa de existir e vira apenas um boneco de briga, mas Morbius não tira dele o tipo de atuação vista em seus melhores trabalhos, seja os que abraçam a natureza excêntrica do ator (Blade Runner 2049) ou os que subvertem sua imagem de popstar (O Quarto do Pânico). Ele, eventualmente, desaparece. Smith consegue persistir. Mesmo quando Lucien sai de "amigo mais sombrio" para "psicopata traumatizado" sem qualquer fundamento sólido, o britânico, com sua fisicalidade impar e feições marcantes, é uma luz nessa noite de trevas. Apesar de ter declarado não saber, com certeza, qual era seu papel, o veterano de Doctor Who ataca cada linha de diálogo como Drácula em busca de um pescoço, compreendendo o quão ridículo tudo isso é e trazendo o tipo de humor absurdo visto, por exemplo, em Tom Hardy nos filmes de Venom. Ah, se Espinosa e o resto de elenco fizessem como Smith e Hardy e, pelo menos, se divertissem.


O diretor até tenta trazer alguma personalidade. Algumas sequências, como quando Michael desenvolve a eco localização ou quando uma enfermeira é atacada por um vilão no único momento flertando com terror, mostram o potencial de Espinosa. Mas é tudo em vão. A Sony eventualmente entra em cena e tira o controle do cineasta com cortes e limitações transformando o filme em algo que, ao tentar agradar todos, vira nada.


Uma das supramencionadas cenas pós-créditos com o Abutre (totalmente CG, aliás. Keaton nem estava lá) sugere que Michael e Toomes vão se aliar. Tal união devia ser inconcebível. Morbius pode ser vilão nos quadrinhos, mas aqui ele é um homem íntegro (e irresponsável) tentando controlar seus instintos sombrios. Mas depois de ver Morbius tratando seus personagens como peças sem identidade ou como engrenagens movendo a grande fábrica de adaptações de quadrinhos, eu consigo acreditar. Aqui, não é preciso justificar as ações e mudanças com lógica ou emoção. O momento serve para trair até mesmo a simplicidade do filme que o antecede. Até ali, Morbius era ruim de maneira nostálgica. Ruim por si só. A interferência corporativa era da antigas, agindo contra o diretor só por para anular sua criatividade e não por obrigá-lo a usar sua obra para preparar terreno. Este bônus, porém, suga a última gota de sangue. Aqui, a vida acaba.


1.5/5

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