Moonfall: Ameaça Lunar - Crítica do Chippu

Moonfall: Ameaça Lunar - Crítica do Chippu

Ruim o suficiente pra te fazer pensar: talvez a Lua devesse cair na Terra.

Guilherme Jacobs
3 de fevereiro de 2022 - 6 min leitura
Notícias

O que faz um bom filme de Roland Emmerich? Especialista em desastres há décadas, o diretor alemão já destruiu a Terra algumas vezes. Seja com invasões alienígenas, mudanças climáticas ou com o profetizado fim do mundo de 2012, seus espetáculos deixam até as explosões de Michael Bay para trás quando o assunto é escala e ambição. Tendo conquistado aparentemente todo apocalipse possível na Terra, ele parte para o espaço com Moonfall: Ameaça Lunar, seu novo blockbuster sobre a iminente queda da Lua.


Sim, a Lua está caindo no novo filme de Emmerich, um longa de aventura com todas as assinaturas do diretor. Há múltiplos personagens e pontos de vista, cada um enfrentando desafios tratados com o mesmo peso emocional pelo cineasta. Seja os astronautas Brian (Patrick Wilson) e Jocinda (Hailee Berry) ao lado do megaestruturista (sério) KC (John Bradley) lutando contra a entidade alienígena responsável pela mudança de órbita lunar, ou jovens Sonny (Charlie Plumer), Michelle (Kelly Yu, interpretando uma estudante de intercâmbio cujo relacionamento com a família de Jocinda é tão misterioso quanto os motivos por trás da decisão de chamar uma personagem chinesa de Michelle) e Jimmy (Zayn Maloney) fugindo de bandidos no solo do planeta. Há idosos, crianças, risadas, choros, aventura, explosão.


Por que, então, esse filme não funciona? Por que Moonfall termina muito mais parecido com os fracassos de O Dia Depois de Amanhã e Independence Day 2 e não como o sempre divertido primeiro Independence Day?


Os filmes de Emmerich - apesar da clara intenção de empolgar e emocionar, várias vezes usando táticas óbvias e batidas de narrativa - são profundamente honestos. Seus personagens nunca são muito complicados, seus dramas são claros e direto ao ponto e suas emoções genuínas. Moonfall, por outro lado, parece artificial e financiado por patrocínios. Há uma cena quase indistinguível de um comercial da Lexus, incluindo a menção de funções do carro, há propagandas de empresas russas de cibersegurança, múltiplas menções de Elon Musk e uma atmosfera de publicidade chinesa (a Tencent é uma das produtoras). Pouco parece ter partido de uma origem verdadeira. A Lua está caindo por encomenda.


Emmerich e seus atores, então, trabalham no modo automático. O diretor insere uma ou duas sequências de desastres pelas quais é conhecido, mas nenhum deles apresenta o tempero "seu-queixo-vai-cair". A Terra e suas construções são tão plásticas, a falsidade dos efeitos especiais tão óbvia, que é impossível realmente acreditar na destruição de algo palpável. Não são tijolos e cimento caindo, são apenas zeros e uns. Semelhantemente, Wilson e Berry - os dois grandes astros deste armagedom - atuam como sonâmbulos, entregando o mínimo aceitável na maior parte do tempo e ocasionalmente flexionando seus músculos em cenas específicas para nos convencer em algum nível da credibilidade desses personagens.


O esforço é em vão. Os personagens contém a mesma profundidade de uma piscina infantil, com motivações sequer trabalhadas e mudanças de atitude beirando o inexplicável. O curso emocional deles é apenas uma das áreas nas quais o filme perde a visão da estrada de tanto que o roteiro corta caminho para chegar nas circunstâncias desejáveis. A outra é no trabalho organizacional do filme, passando pela NASA e forças militares dos EUA. Isso, sim, é de cair o queixo. Emmerich, ao lado de Harald Kloser e Spenser Cohen, estão destinados a escrever suas autoridades de maneira catastrófica, mas sem nenhuma espécie de graça ou humor. Pelo contrário, Moonfall é mortalmente sério. Falta a personalidade, seja nos atores ou na escrita, de Independence Day, por exemplo. Emmerich obtém sucesso com carisma, com um estonteamento Spielberg-iano quase infantil, com uma piscadela para o público comunicando “sim, eu sei que isso é ridículo.”


Isso, porém, começa a mudar no terceiro ato, quando o filme deixa as ideias do personagem de Bradley tomarem a frente. O veterano de Game of Thrones parece ser a única pessoa se divertindo na produção, e se KC não fosse um amálgama de teoristas da conspiração, terraplanistas e usuários de fóruns da darknet, gostaríamos de passar mais o tempo com ele. Quando, porém, suas ideias bizarras se tornam realidade e a verdadeira natureza da lua e desta ameaça alienígena são reveladas, Moonfall dobra a esquina da loucura com ideias absurdas em seus conceitos e ainda mais na execução..


Ao se distanciar do planeta, dos seus péssimos personagens, e partir para as profundezas lunares, Moonfall finalmente encontra a diversão prometida em seus trailers exagerados. Apesar desse gás final, a Ameaça Lunar é ruim o suficiente para te fazer pensar: "Talvez a Lua devesse cair na Terra."


Nota: 1/5

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