Master of None: 3ª Temporada - Crítica do Chippu

Master of None: 3ª Temporada - Crítica do Chippu

Novos episódios reforçam o argumento de que Master of None é a melhor série da Netflix

Guilherme Jacobs
19 de maio de 2021 - 7 min leitura
Notícias

Tudo é diferente na terceira temporada da excelente série Master of None, da Netflix, até o dia de sua estreia no serviço - um domingo, 23 de maio, ao invés da tradicional sexta-feira - foge do padrão. Criada por Aziz Ansari e Alan Yang, a produção é uma das mais autorais, criativas e sensíveis da plataforma de streaming. Por isso, não devia ser surpresa, ver como os novos episódios têm assinatura, mas ainda sim, é impressionante o quanto Ansari, trabalhando também como diretor, testou os limites da própria criação.


Batizada de “Moments in Love”, a nova temporada tem cinco episódios de duração variada - alguns com 55 minutos, outros com apenas 21 - nos quais o protagonista Dev (Ansari) aparece em aproximadamente três cenas. O foco dessa vez é em Denise (Lena Waithe), agora uma escritora de sucesso vivendo no norte do estado de Nova York numa paisagem digna dos campos do Reino Unido, e casada com Alicia (Naomie Ackie), que deseja ter um filho.


Uma das características mais importantes de Master of None é ter coragem de avançar para o próximo momento interessante da narrativa, mesmo se isso significasse um pulo temporal, uma mudança de status de relacionamento ou até mesmo o desaparecimento de personagens sem justificar a decisão com uma cena expositiva. Vemos isso, por exemplo, quando a segunda temporada pula diretamente para a passagem de Dev pela Itália em belíssimos episódios com fotografia preta e branca. Aqui, não há muita introdução e Ansari mais uma vez confia na capacidade da audiência de entender como estão os protagonistas.


Master of None é, e sempre foi, sobre as pessoas e suas vidas. Ansari já chegou a declarar que só faria outra temporada quando tivesse experiências o suficiente para ter algo novo a falar. E julgando por Moments in Love, parece que ele viu não em si, mas em Waithe o conteúdo ideal para o novo ano da série. Não existe um enredo pontual, mas sim dramas cobrindo o arco narrativo por completo, e uma das mais valiosas características deste seriado foi entender qual era o próximo momento mais interessante a ser explorado.


Isso acontece novamente. Moments in Love começa após um bom período com mudanças gigantes na vida dos personagens e segue por anos explorando as consequências por semanas, meses ou até anos em um dos casos.. A tendência de Master of None de querer pular para a próxima ocasião-chave de Dev, e agora Denise, significa que o roteiro precisa ser bom o suficiente para acompanhar a decisão narrativa. Felizmente, a terceira temporada não perde a mão. A série continua se desafiando e sempre dá uma resposta à altura do desafio proposto, trabalhando seus temas com sinceridade, sensibilidade e sabedoria.


Ao longo deste terceiro ano, Denise e Alicia são o ponto central da história. Waithe parece nunca estar se esforçando para atuar, mantendo uma atitude relaxada mas sempre carismática em cada cena. Cada palavra parece ter sido processada mil vezes na mente, mas sai com tanta naturalidade que a atriz parece estar simplesmente sendo ela. Ackie, por sua vez, é onde Master of None encontra a maior carga dramática. Alicia precisa caminhar uma linha tênue de desafiar a personagem conhecida sem nunca perder o carinho da audiência, e Ackie faz uma atuação com grande alcance e acessibilidade. Em um determinado episódio, Ansari decide focar na novata, dando à atriz as cenas mais pesadas e difíceis da temporada. Em todas, ela se mostra capaz.


Toda a história é enquadrada numa resolução quase 4:3, com um estilo de fotografia quase europeu, com poucos closes, ângulos distintos e uma certa distância dos personagens. As cenas duram bons minutos, os cortes são lentos e poucos, e o cenário se torna tão importante quanto as pessoas o habitando.


O ritmo mais lento e a fotografia, ao mesmo tempo aberta por conta do posicionamento da câmera e restrita pela resolução adotada, significam que cada momento é dirigido devagar e com cuidado. A distância entre a lente e os personagens torna necessário observar sua posição geográfica no ambiente, linguagem corporal ou aquilo que falam (e não falam) para compreender a emoção transmitida ali. Ansari usa o mesmo enquadramento repetidamente, mas sempre num novo contexto. Vemos Denise lendo em sua biblioteca frequentemente, por exemplo. Mas quais as suas circunstâncias? Quem está ao seu redor? Nos poucos momentos em que há um close no rosto de alguém, algo visto mais nos últimos capítulos, particularmente com Ackie, percebemos uma relevância e peso emocional gigante.


A edição de Ben Yeates é marcada por cenas longas, permitindo que nos sintamos convidados para entrar na casa, tirar os sapatos, sentar e observar com cuidado as texturas, dá cheiros e sons ao redor das personagens. A casa onde as duas moram se torna um grande elemento narrativo e o design de produção de Amy Williams é tão importante quanto o poder de atuação de Waithe e Ackie.


Seria fácil adotar uma nova linguagem visual na terceira temporada apenas para fazer a audiência pausar por um segundo. É possível ser diferente apenas para ser diferente, mas Master of None mostra em Moments in Love uma ciência das escolhas que está fazendo. É impressionante o quão rápido Ansari evoluiu. Esta terceira temporada é mais um grande argumento a favor da declaração de que esta é a melhor série da Netflix. No mínimo, ela é a mais autoral.

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