O Marvel Studios está alterando completamente a forma como ele aborda televisão. Em matéria no Hollywood Reporter, o produtor Brad Winderbaum confirmou que o estúdio vai reestruturar sua divisão de séries para mudar a forma como suas produções no Disney+ são feitas. Isso já vai afetar a nova série do Demolidor.

Como era a produção de séries da Marvel até aqui?

Até então, as séries da Marvel não tinham showrunners, a figura que comanda uma série de televisão dos primeiros dias da pré-produção até o lançamento, trabalhando em todas as áreas, do roteiro ao elenco, e servindo como uma voz criativa durante todo o processo.

Tipicamente, um roteirista era contratado para criar a série, mas não era incomum que um diretor assumisse mais o comando depois que as filmagens começavam. Um dos exemplos foi com Mulher-Hulk, já que a diretora Kat Coiro tomou mais o rumo das coisas da roteirista Jessica Gao. Gao, então, voltou para o comando quando a série teve problemas na pós-produção, e a Marvel notou que isso fez uma diferença para o melhor.

Um caso pior foi o de Invasão Secreta. Kyle Bradstreet, vencedor do Emmy em Mr. Robot, era o roteirista original, que foi substituído por Brian Tucker e Ali Selim. Durante a pré-produção, porém, a falta de alguém no comando levou uma confusão que só foi resolvida quando Jonathan Schwartz, um membro do comitê supremo da Marvel conhecido como O Parlamento, foi enviado para lidar com a situação.

Boa parte da equipe foi demitida e Chris Gary, o executivo da Marvel que estava responsável por Invasão Secreta, a série mais mal avaliada do Marvel Studios, deixará a empresa em breve. Gary, como todo outro executivo supervisionando séries, nunca foi exclusivo de televisão, e também lidava com cinema.

Esses problemas eram agravados porque as séries não tinham pilotos, episódios exibidos internamente antes do estúdio se comprometer com uma temporada, e eram gravadas de uma vez, tipicamente com orçamentos de até US$ 150 milhões.

Como vai funcionar a nova produção de séries da Marvel?

Agora, as séries da Marvel terão showrunners. Estes vão ficar à frente das produções do começo ao fim, primeiro escrevendo o piloto e as bíblias (livros que contém tudo da série, dos figurinos aos locais de filmagem). As gravações também não irão de uma vez até o fim da temporada, deixando os problemas para serem resolvidos em pós-produção ou refilmagens (que tipicamente custam caro).

Além disso, a Marvel irá contratar executivos cujo trabalho será inteiramente na divisão de TV. Os dias de membros do time de cinema lidando com séries acabaram.

"Precisamos de executivos dedicados a este meio, que vão focar em streaming, e focar em televisão," disse Winderbaum," porque [cinema e TV] são formatos diferentes."

Por fim, como aconteceu com Loki, a primeira série da Marvel a ter uma segunda temporada, a Marvel pretende acabar com as minisséries. O estúdio quer criar séries nas quais a audiência desenvolve relacionamentos com personagens e não que são vistas apenas como peças para formar um crossover grandioso mais pra frente. Isso também significa histórias mais pessoais, o que aparentemente será o caso com Echo e Magnum, duas das próximas produções do estúdio.

Mudança necessária

Olhando para os últimos meses (e anos), é difícil argumentar contra essas mudanças. Loki é um sucesso, mas desde WandaVision, há mais fracassos do que vitórias na televisão para a Marvel, com audiência caindo e menos aprovação. Não é raro ver as críticas variando de "as séries parecem filmes de oito horas, e não episódios" até "essa série parece uma cena pós-créditos, um derivado de um derivado"

Essa reestruturação parece lidar diretamente com esses problemas, e também deve facilitar um pouco as coisas para o CEO da Disney, Bob Iger, que já colocou Kevin Feige, presidente do Marvel Studios, para diminuir a quantidade de séries lançadas por ano.

Agora, as mudanças vão além da quantidade. Toda a forma como a Marvel aborda televisão está mudando.