Crise na Marvel? O que há de errado com a Fase 4

Crise na Marvel? O que há de errado com a Fase 4

Fadiga do público, falta de direcionamento e saturação parecem rachar o império de Kevin Feige

Guilherme Jacobs
7 de julho de 2022 - 10 min leitura
Notícias


Há um sentimento crescente entre fãs da Marvel de que a Fase 4 do estúdio - basicamente tudo depois de Vingadores: Ultimato - tem sido a mais fraca até aqui. Depois dos altos da vitória final dos heróis sobre Thanos, só a nostalgia poderosa de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa* parece ter escapado das críticas de que o MCU está perdendo seu caminho. Filmes e séries sem propósito, falta de clareza na narrativa geral e projetos demais estão entre as evidências apontadas pelas pessoas frustradas com os últimos anos do estúdio.


*Sem Volta Para Casa parece ser mais uma continuação dos 20 anos de Homem-Aranha nos cinemas do que do MCU em si, por isso nem acho válido considerá-lo para esse exercício.


Apesar de achar que, com exceção do novo Thor, os filmes da Fase 4 têm sido no mínimo "ok" (e em alguns casos, como Doutor Estranho, muito bons), não posso negar que o sentimento de fadiga está cada vez maior. Mais do que um julgamento de produções específicas a sensação geral parece ser direcionada ao estado do universo como um todo. Depois dos altos de 2018 e 2019, quando Pantera Negra, Guerra Infinita e Ultimato lotavam os cinemas conquistando aprovação de público e até de críticas, a pausa da pandemia e o princípio incerto dessa nova era abalaram os fundamentos do império de Kevin Feige. Claro, isso está afetando as bilheterias (ainda), mas qual é a razão dessa estagnação?


Aqui, elencamos três possibilidades.


Para onde estamos indo?


A principal razão parece ser a falta de uma narrativa geral. Nas Fases 1-3, rotineiramente éramos lembrados do futuro inevitável envolvendo a chegada de Thanos e as Joias do Infinito. Às vezes, esses momentos eram os piores do filme em questão (olhando para você, Guardiões da Galáxia) mas querendo ou não, a ameaça maior estava ali. Mesmo os piores exemplos, como Thor: Mundo Sombrio ou Capitã Marvel, serviam o propósito de nos direcionar para um Endgame. Isso não os salvava da mediocridade (eu colocaria qualquer filme da Fase 4 acima destes dois) mas os ajudava a ganhar um aspecto de "propósito." Eles "serviam para algo."


Se é por isso que os fãs estão frustrados com a Fase 4, então eles precisam recalibrar as razões pelas quais vão aos cinemas e começar a analisar filmes por seus próprios méritos. Contudo, essa também é uma consequência das atitudes da própria Marvel, que muitas vezes apostou todas as suas fichas no fanservice, reconhecimento e referências, deixando de lado o cuidado com roteiro, direção e até efeitos especiais*. Agora, sem a maquiagem de uma "Saga Maior," as falhas estão mais aparentes.


*Aliás, para onde foi o orçamento de efeitos especiais desse estúdio, hein? Porque, como a imagem de capa mostra, não tá em tela.


Multiverso da Loucura apontou claramente para Guerras Secretas e há alguma história sendo preparada com a personagem de Julia Louis-Dreyfus (provavelmente os Thunderbolts), mas a falta de um elemento concreto (o caso da Saga do Infinito, a cara roxa de Thanos) para onde podemos apontar. Um lembrete. As primeiras três Fases conseguiram o que mais ninguém fez no cinema: a criação de um universo compartilhado de sucesso no qual não só fãs, como o público como um todo investiu emocionalmente e manteve-se atualizado até a chegada da grande conclusão. Mesmo quando os filmes não funcionavam, havia a sensação de avanço. De uma pintura completa.


Por que isso mudou agora? A próxima razão talvez ofereça uma explicação.


Marvel o tempo todo


Até o lançamento do Disney+, a chegada de uma nova história do MCU era um evento. Na verdade, mesmo com o streaming, isso se manteve verdade. WandaVision, Loki e (até certo ponto) Falcão e o Soldado Invernal dominaram as atenções durante um ano ainda muito fechado por conta da pandemia do COVID-19, mas depois, as coisas começaram a cair. De novo, não é uma questão de bilheteria, e sim de presença cultural.


Nesse sentido, as séries parecem estar sofrendo mais. Quantas pessoas, fora da bolha de fãs dedicados, você vê falando de Ms. Marvel ou Cavaleiro da Lua? E quanto você via com WandaVision e Loki? O status de "evento" se foi. Há Marvel a toda hora. Não é mais algo especial, pelo qual se esperava e criava expectativas. Toda hora há um novo filme, ou nova série saindo. E olhe que a partir de 2023, o Marvel Studios pretende lançar quatro longas-metragens por ano.


Os filmes, até então, parecem menos afetados pelo aumento de produções Marvel. Até o esquecido Viúva Negra manteve-se presente no zeitgeist graças a Florence Pugh. Eternos, aqui, parece a exceção. Mas até mesmo esses blockbusters não são imunes à outra consequência desse fator. Antes, apesar dos vários personagens e fatores, era possível seguir a Grande Narrativa. O vilão tinha uma face reconhecível (de novo, roxa). A trama girava em torno de apenas seis joias coloridas. E mesmo com dezenas de heróis, dois atores carismáticos seguravam o centro.


Agora, Robert Downey Jr. e Chris Evans se foram, ainda não há um vilão claro e nossa atenção está dividida entre multiversos, Celestiais, Thunderbolts e Kang. Precisamos olhar para todo lado, acompanhar tudo, mas não estamos obtendo respostas. Diante disso, você acreditaria que, em troca da falta de foco, o MCU estaria mais diverso e estranho, mas...


Quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam iguais


A repetitivamente, eventualmente, cansa. Você pode trazer novos personagens, ir para planetas inéditos e até visitar outros universos, mas, no fim, tudo ainda é a mesma, e agora velha, Marvel. Piadinhas autorreferentes (e às vezes autodepreciativas), enredos sem grandes consequências e lutas entre raios de cores diferentes feitos com computação gráfica. A Fase 4, até então, é repleta de origens (um tipo de narrativa extremamente batido) ou "passagens do bastão" para uma nova geração trouxe sucessores que é basicamente a mesma versão de personagens conhecidos. Se vamos nos manter assim, então abordagens diferentes, fugindo da "fórmula", seriam bem-vindos. Algo genuinamente novo.


Por isso Doutor Estranho (depois do Ato I) foi tão agradável, pra mim. A direção distinta de Sam Raimi, com seus movimentos de câmera icônicos e a mistura de terror e comédia pela qual ele é conhecido, ajudou a afastar o filme da mesmice, tanto que isso irritou alguns fãs. Vocês sabem do que eu estou falando. Eternos, para o bem e para o mal, também teve a cara de sua diretora, mas as sensibilidades de Chloé Zhao não se encaixaram bem aqui. Ah, e WandaVision - pelo menos antes do último episódio - merece reconhecimento.


Talvez esses exemplos ofereçam alguma esperança. Talvez Blade faça bom-uso dos vampiros, talvez Quarteto Fantástico seja um sci-fi viajado, quem sabe. Mas a vida pós-Thanos deveria significar que tudo é possível. Claro, teremos algo familiar quando um personagem como Capitão América ou Thor estiver no holofote, mas Shang-Chi deveria mesmo ter sido um filme de artes maciais, Viúva Negra podia mesmo ter sido um de espionagem. Se vamos ter as mesmas histórias (origens) e os mesmos personagens, então vamos explorar os limites do formato, do tom, do visual.


Ainda é cedo demais para gritar "crise." Doutor Estranho fez quase US$ 1 bilhão, Thor vai agradar diversos fãs e o mundo vai parar para o novo Pantera Negra. Mas nos intangíveis da cultura pop, a Marvel não empolga do mesmo jeito. Talvez seja irreversível e inevitável depois de 10 anos no centro ou talvez isso nunca se torne algo mais problemático para o estúdio do que artigos como este. Talvez tudo isso seja apenas para derramar uma gota de sangue. Ou talvez custe tudo.

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