
Máfia da Dor é a versão mais genérica possível de uma comédia sobre a indústria farmacêutica
Apesar do bom elenco, David Yates repete senso comum para falar de corrupção e exploração capitalista

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Quase uma década após o ápice da crise dos opioides nos EUA, uma enxurrada de produções começaram a abordar o esquema de corrupção e assassinatos da indústria farmacêutica. Seja em séries como Dopesick ou documentários como Painkiller, o tema é exaustivamente explorado e agora ganha uma face mais irônica com Máfia da Dor, nova produção da Netflix comandada por David Yates, conhecido pelos filmes de Harry Potter. Apesar de tentar dar uma faceta mais tragicômica ao tema, o filme não consegue sair do senso comum em todos os caminhos narrativos que constrói, mesmo que conte com um elenco de talento comprovado.
Muito disso acontece devido à combinação do roteiro padrão de Wells Tower com a burocrática direção de Yates, que decide pela narrativa batida da redenção e momentos pouco inspirados de clichês do capitalismo exploratório tão abordado no cinema moderno. A história foca em Liza Drake (Emily Blunt), uma ex-stripper que se torna chefe comercial de uma grande empresa de opioides para pacientes de câncer.
O principal método usado para chegar ao topo? Suborno de médicos, pagamentos ilegais, desvios da lei e uma boa dose de imoralidade para ajudar na morte de milhares de pessoas. Ao lado dela está Pete Brenner (Chris Evans), líder de vendas que maquia qualquer traço de humanidade com carisma do vendedor que faz tudo para bater as metas.
A ideia de tratar do tema sob o ponto de vista dos vendedores, quase sempre enforcados por objetivos irreais e 'forçados' e busca estratégias escusas para cumpri-los, poderia fazer de Máfia da Dor algo diferente - e o filme até tenta, com o drama familiar de Drake, mas não passa perto de conectar a audiência com o dilema moral da dupla protagonista. A opção de Tower e Yates é seguir a narrativa da redenção e aceitação de erros, sem nunca demonstrar o estrago colossal que todo esse sistema criou. Claro que existem mortes e escândalos, mas a forma como o texto trata o problema da indústria busca muito mais uma simpatia com os vilões, do que um entendimento ou questionamento do problema como um todo.
Apesar de parecer deliberada a decisão de afastar a culpa dos vendedores, basta uma breve olhada no currículo de Yates e da composição de Máfia que percebe-se quão pouco comprometido com discussões relevantes ambos são. O filme tenta fazer graça com o glamour dos ricos, mas nunca alcança a perversão necessária para causar ojeriza pelos males vindos dali, se tornando a versão mais genérica possível de um debate sobre o assunto.
E assim como a justiça lava as mãos com penas ridículas e multas irrisórias para os reais culpados, o Máfia da Dor joga meia dúzia de vítimas reais na tela para garantir que o peso da história seja real, e não apenas uma piada passageira. Infelizmente, nenhum dos dois adianta muito.
Essa crítica foi originalmente publicada em 12 de setembro no Festival Internacional de Toronto. Máfia da Dor foi lançado no Brasil em 27 de outubro na Netfix.
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