
Da Guerra Fria à Crise do Petróleo e ambiental: como surgiu a Wasteland de Mad Max
O deserto criado por George Miller fala mais sobre a nossa realidade do que imaginamos

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Ao longo de todos os filmes de Mad Max, o diretor George Miller povoa o deserto, ou Wasteland, como é chamado, com figuras estranhas, excêntricas e carros e veículos que misturam ferro velho com steampunk, criando um mundo pós-apocalíptico único, sujo e empoeirado. O caminho de Max Rockatansky (Mel Gibson e Tom Hardy) por esse mundo não é fácil, enfrentando gangues desde o primeiro Mad Max, de 1979, quando o mundo dele ainda parecia mais o nosso.
George Miller utiliza o contexto social e econômico da época para criar esse mundo que está se deteriorando. O maior deles é a crise do petróleo de 1973, quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a OPEP, aumentou o valor do barril em 400% como uma retaliação dos países árabes ao apoio dos EUA a Israel, na Guerra do Yom Kippur. Além disso, o retorno das tropas derrotadas do Vietnã e a instabilidade no mundo com a Guerra Fria dão o tom para a juventude marginalizada e delinquente do primeiro filme.
É nesse contexto que George Miller criou em 1979 um mundo em frangalhos, onde a lei se estabelece em prédios em ruínas e as gangues tomam conta de espaços do cotidiano, como as estradas, bares e praias. O sinal de poder e força está no veículo que você dirige, seja ele o mais rápido ou o mais bruto. Não é à toa que o Ford Falcon XB, chamado de “O último dos V8” em alguns dos filmes, seja apresentado como uma besta enjaulada na oficina da delegacia em que Max trabalha. Aqui vale uma curiosidade sobre como a apresentação do carro influenciou no Batman, de Matt Reeves, que também montou o batmóvel em como um muscle car. É a força imparável dos carros que faziam pouquíssimos quilômetros por litro, mas simbolizavam autoridade.
Ao avançar para o segundo filme e a partir daí apresentar o universo de Mad Max que conhecemos até hoje, com o deserto e as tribos/gangues, Miller toma alguns minutos no início da história para resumir o que aconteceu naquele mundo. O flashback nos leva para uma série de imagens reais, de um tempo “dominado pelo combustível preto”, em uma Terra com “duas grandes tribos em guerra” e que acabaram sem combustível e nem nada. Miller claramente aponta o petróleo e os EUA e a União Soviética como os responsáveis pelo fim do mundo. O flashback vai além, dizendo que os líderes conversaram, conversaram, mas nada foi decidido e tudo começou a ruir. Na vida real, o mundo tinha concluído uma década com regimes ditatoriais dominando a América do Sul e alguns países da Europa, Guerra no Afeganistão e guerras civis na África. O caos refletido da ficção reflete diretamente o da realidade, escalonando as ameaças do nosso planeta para criar o cenário pós-apocalíptico de Mad Max.

Miller então coloca imagens do primeiro filme no flashback, dando a entender que o tempo que Max vivia como policial já seria após a guerra que vai levar ao mundo completamente árido de Mad Max 2: A Caçada Continua (1981) e à busca desenfreada por combustível.
No terceiro capítulo, Além da Cúpula do Trovão (1985), mais uma vez vemos o conflito de ambos os lados de uma sociedade. No caso, Bartertown, uma cidade que começa a indicar um novo recomeço para a civilização. Entretanto, Max encontra uma guerra até então não declarada entre as duas metade daquele lugar: a da superfície, comandada por Tina Turner e sua força de soldados, e a do subsolo, liderada por Master e Blaster, uma mente brilhante que controla a geração de energia e o outro, um guerreiro nunca derrotado no “coliseu” chamado de Cúpula do Trovão. Em um movimento à la O Retorno de Jedi, Miller coloca Max junto a uma tribo de crianças que não entendem o mundo lá fora ainda. Eles vivem das histórias que contaram e não conhecem a verdade, mas são elas que vão ajudar a recomeçar uma Sidney destruída no final do filme. A mensagem de paz de George Miller é clara, mas o mundo mudou pouco depois disso.

Em Mad Max: Estrada da Fúria, de 2015, o mundo ainda vive no seu Wasteland e com líderes que enganam e manipulam a população. Na narração do início, além do combustível, George Miller acrescenta a água como uma das riquezas que o mundo perdeu. “O mundo está ficando sem água” e “Guerra da Água”, dizem as vozes do início, que ecoam nas Vuvalini que Max e Furiosa (Charlize Theron) encontram: “A água podre, o terreno infértil”. O petróleo e as armas, personificados n’O Comedor de Gente (John Howard) e n’O Fazendeiro de Bala (Richard Carter), ganham um parceiro: a crise ambiental e climática. O maior debate do século é onde vamos parar com as intervenções na natureza e o aquecimento global, que poderão nos levar ao apocalipse antes mesmo das bombas e armas criadas pelo homem. Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne) controla o bem maior, a água, um dos recursos naturais mais importantes para garantir a vida. E esse bem tão corriqueiro no nosso dia-a-dia, é esquecido até por Furiosa quando ela tenta fugir. A esperança está lá na Cidadela de onde ela sai, próxima do verde e do recurso dominado por um só líder.
Mad Max é uma série de ação incrível, mas é da mente de George Miller que sai seu maior tesouro. E como toda grande obra de ficção, o paralelo com a realidade só a torna melhor e a estrada de Max Rockatansky é um aviso para a nossa própria.
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