Love Lies Bleeding mistura amor, sexo e violência para criar faroeste moderno

Love Lies Bleeding mistura amor, sexo e violência para criar faroeste moderno

Kristen Stewart e Katy O'Brian brilham no novo filme de Rose Glass, diretora de Saint Maud

Alexandre Almeida
26 de abril de 2024 - 5 min leitura
Notícias

Rose Glass chamou a atenção do mundo com a história de uma enfermeira obcecada por uma paciente em particular, por respostas sobre fé e pela salvação em Saint Maud. Seu novo filme, Love Lies Bleeding – O Amor Sangra, se afasta bem do cenário litorâneo do Reino Unido em que Maud vivia para se situar no interior dos EUA, no fim da década de 1980. A diretora deixa o terror e o mistério europeu para trás e se aproxima do faroeste da América do Norte.

Entretanto, as duas obras não estão muito distantes quando olhamos diretamente para as protagonistas. Ambas compartilham a mesma intensidade na obsessão, no sentimento de culpa, na contestação e ao lidar com a opressão que as circulam.

Em Love Lies Bleeding, acompanhamos Lou (Kristen Stewart), uma gerente de academia que encontra em Jackie (Katy O’Brian), um novo sentido para sua vida depressiva. Jackie representa tudo de diferente da rotina de Lou. Seu físico imponente de fisiculturista aspirante, largo sorriso e a simpatia com os outros contrastam diretamente com a cor pálida, olhos fundos e os hábitos nada saudáveis de Lou, íntima das comidas congeladas e do tabaco.

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O encontro das duas logo vira uma tórrida paixão que Rose Glass filma sem medo. A diretora, inclusive, disse em entrevista que qualquer um que tente se enganar dizendo que sexo e violência não são alguns dos pilares mais importantes do cinema está errado. E são exatamente nesses dois temas que Love Lies Bleeding se debruça mais.

Lou troca o cigarro e o sódio para se intoxicar pela paixão por Jackie, se tornando tão dependente dos momentos íntimos com ela quanto era da nicotina. Já a atleta vê Lou como um porto seguro onde encontra o conforto negado pelo mundo até então. Glassdeixa isso claro em um momento em que vidro, bitucas de cigarro e gemas de ovos começam a se misturar na lixeira. Nenhum simbolismo é barato aqui.

Já a violência é personificada por Lou Sr. (Ed Harris), pai da personagem de Stewart e dono de um estande para prática de tiro. É nele que se concentra todo o ódio da história; seja em seu relacionamento com a filha, com o trabalho escuso ou com pessoas próximas, como o desprezível J.J. (Dave Franco), marido da irmã de Lou, Beth (Jena Malone).

Harris faz aqui o seu melhor trabalho desde Marcas da Violência, de David Cronenberg – que inclusive, ressoa no trabalho de Glass. O personagem ganha contornos de monstro dos Contos da Cripta com seu visual magro, pele enrugada e, mesmo careca em boa parte da cabeça, com cabelos brancos compridos. Uma figura do mundo dos mortos vagando pela nossa terra.

Essa linguagem metafórica (será?) e por vezes surreal está espalhada por todo o filme. Sem dúvidas, o exemplo mais divertido e visualmente inesperado está em Jackie. O’Brian brilha em seu primeiro grande papel no cinema. A empolgação de Jackie com o esporte é contagiante, mas quando a sua força é posta à prova, Glass brinca de Jekyll e Hyde com a personagem (para não citar uma heroína verde mais pop), sem deixar que o tema da obsessão pela perfeição se perca.

Stewart segue impecável em suas escolhas de trabalho. Mesmo que não sejam todos maravilhosos (olhando para você, Spencer) a atriz escolhe o material certo para seus talento. Do trabalho corporal à entrega sem pudor, seu nome é cada vez mais solidificado entre grandes da geração. A culpa, o medo e a obsessão se misturam no olhar e todas as cenas da atriz com Harris são para aplaudir de pé. Uma em especial, com os dois ao telefone, já é uma das minhas favoritas do ano.

Love Lies Bleeding – O Amor Sangra então se estabelece como um western moderno em que a busca pelo ouro, na verdade é traçada com luxúria, sangue e anabolizantes. Um filme corajoso e sem medo das imagens nada sutis que carrega na tela. Como um grande desfile de fisiculturismo e seus corpos esculpidos, que assustam os desavisados, mas que carregam na sua essência um trabalho meticuloso e dedicado, seja dos atletas ou dos treinadores.

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