O texto abaixo contém spoilers de "1893", o terceiro episódio da segunda temporada de Loki. Você foi avisado!

Vamos começar pelo elefante na sala. O terceiro episódio da segunda temporada é centrado em Jonathan Majors, que retorna aqui como uma das variantes de Kang, O Conquistador, está prestes a entrar em julgamento por ter sido acusado de agredir fisicamente sua namorada. Tem sido um caso polêmico, com histórias contraditórias, muita mídia e infelicidade. Independente do resultado, dada as revelações dos últimos meses, não há como fingir que vê-lo em tela no novo episódio de Loki, por tanto tempo, não vai ser, no mínimo, incômodo.

É compreensível que muitos critiquem a série por incluí-lo aqui, e o timing de "1893" não podia ser pior. Já adiado três vezes, o julgamento deve enfim começar no dia 25 de outubro. Eu não vou fingir, caro leitor, que eu não precisei de um tempo para digerir meus sentimentos de vê-lo ali. Por um lado, está cada vez mais aparente que seu comportamento privado é, no mínimo, repreensível, e por outro, a segunda temporada de Loki foi gravada antes de todas as acusações e de sua prisão, no começo deste ano. Não havia como Michael Waldron e a equipe da série imaginarem o que aconteceria.

Será uma história diferente se a Marvel mantê-lo nos próximos filmes, ainda mais se o julgamento terminar com o veredito de culpado, mas por hora, minha postura é a de reconhecer a estranheza de assistir ao episódio, e então avaliá-lo meramente por seus méritos e defeitos. Majors é um grande ator. Quanto a isso não há dúvida. Ele é uma das melhores partes do que é mais um capítulo divertido, inesperado e empolgante da melhor série da Marvel. Ele, também, é uma distração.

Majors aparece como Victor Timely, um inventor excêntrico e genial que está sendo procurado tanto por Loki (Tom Hiddleston) e Mobius (Owen Wilson) quanto pelas foragidas Renslayer (Gugu Mbatha-Raw) e Miss Minutes (Tara Strong), enviadas por Aquele Que Permanece primeiro para fazê-lo entrar em contato com a TVA através do manual da agência e depois para guiá-lo na sua eventual transformação num grande conquistador. É um papel que reforça a capacidade transformativa do ator, e que requer um uso maior do humor sem perder a humanidade.

Tenho elogiado o clima buddy cop dessa temporada, e pra mim a presença dos dois nas diversas atrações da feira, se divertindo enquanto supostamente investigam a situação, enfatiza ainda mais a química de Hiddleston e WIlson, oferecendo situações inusitadas para os dois.

Dessa vez, porém, Loki e Mobius são coadjuvantes. O triângulo (amoroso? Obsessivo? Bizarro?) de Timely, Renslayer e Minutes toma à frente. É uma dinâmica curiosa e um pouco tensa. Ambas Renslayer e Minutes veem a oportunidade de moldar uma variante de Aquele Que Permanece como uma chance de se tornarem uma espécie de primeira dama, e há tanto um desejo vingativo quanto um desejo sexual (implícito, mas presente especialmente na frustração da reloginho por não ter um corpo) quanto a Timely.

Cria-se uma montanha russa de traições entre uma e a outra, e é essa confusão que permite que Loki e Mobius derrotem as duas e as prendam no Fim do Tempo, onde resta apenas o cadáver de seu líder, e a chance de revelarem segredos uma pra outra. Mbatha-Raw e Strong, cujo trabalho vocal é incomparável, aproveitam bem o holofote, trafegando bem entre o cômico, as notas de romance genuínas e eventualmente descendo para o caos. Juntá-las dá a Loki um contraste para a dupla de protagonistas.

O episódio conclui justamente com os dois levando Timely para a TVA, onde sua presença temporal poderá ajudá-los a estabilizar a situação temporal. Majors, então, continuará presente na temporada. Isso significa que continuaremos lidando com a sensação estranha de vê-lo, mas se a série continuar nesse nível, valerá a pena.