King's Man: A Origem - Crítica do Chippu

King's Man: A Origem - Crítica do Chippu

Prequel joga fora quase todo o charme dos filmes Kingsman

Guilherme Jacobs
24 de dezembro de 2021 - 6 min leitura
Notícias

Os filmes de Kingsman encontram sucesso na transgressão. O primeiro filme foi um hit surpresa de 2014, subvertendo clichês Bond-ianos para encontrar um tom único e abrir o mundo da espionagem com um comentário perspicaz sobre a mudança cultural britânica e guerra de classes com a intenção de dizer: precisamos de novos agentes secretos. Até o segundo filme, cujo roteiro foi mais bagunçado e parecia uma paródia do original, divertiu ao quebrar regras preestabelecidas nesse tipo de história. É uma pena, então, que King’s Man: A Origem, ande para trás em tantos desses avanços. Sacrificando o charme, humor e dinamismo de ambos Serviço Secreto e O Círculo Dourado, esse prequel mostra a origem da agência de espionagem cujo nome está no título dessa franquia.


Essa origem vem através de uma série de eventos antes e durante a Primeira Guerra Mundial - incluindo o assassinato do Duque Ferdinando, a influência de Rasputin no czar russo, e as intrigas entre Alemanha, Rússia e Inglaterra. Essa última ideia é realizada através da melhor sacada cômica do filme: colocar Tom Hollander nos papéis do Rei George, Kaiser Wilhelm e Tsar Nicholas, os três primos que lideravam os países em questão na época. Envolvidos pelo governo britânico nos esforços para primeiro impedir a guerra e depois encerrá-la estão o Duque Orlando Oxford (Ralph Fiennes) e seu filho, Conrad (Harris Dickinson). Junto com seu mordomo assassino Shola (Djimon Hounsou) e a ama boa de mira Polly (Gemma Arterton), eles criam o embrião dos Kingsman, agindo por trás das cenas na tentativa de salvar o mundo.


A narrativa de King’s Man, entretanto, nunca deixa muito claro a razão pela qual os Oxfords se envolvem nos conflitos. O prólogo do filme inclui a morte da mãe de Conrad, mas antes de partir ela explica ao filho que, por serem nobres, sua família tem o dever de ajudar os mais pobres e necessitados, e não se esconder atrás da riqueza e status. Ainda sim, é difícil entender por que o general Kitchener (Charles Dance) e o rei os dão tanto acesso. Eles simplesmente estão lá. O questionamento se grava pelo fato de, depois de perder sua esposa, Orlando passar a ser pacifista, tentando com todas as forças impedir a entrada de Conrad no exército para lutar na guerra. Aí se cria grande parte o drama e do problema de King’s Man. O pacifismo de Oxford pai permite a criação de um arco narrativo para o personagem entender e justificar o uso da violência, talvez um comentário em cima da própria franquia Kingsman e suas matanças desenfreada, mas também significa que boa parte do filme envolve nos negar o prazer visual da ação cinética e ágil pela qual o diretor Matthew Vaughn ficou conhecido.


Aqui e ali temos vislumbres. Vaughn dirige uma fantástica e prolongada cena de luta entre os Oxfords e Shola contra Rasputin (Rhys Ifans, com o tipo de atuação cujo equilíbrio está entre a entrega total ao papel e o ridículo), e nos dá um gostinho de seu tempero caseiro tão popular. Quando ele reverte ao antigo drama e limitação imposta pela própria temática, é difícil sentir algo além de frustração.


King’s Man merece crédito por incluir em sua narrativa um aceno ao tema da violência como uma proposta de não só explicar a origem da agência Kingsman, como também da franquia de filmes como um todo. A ideia, porém, nunca passa disso. Um aceno. Uma piscadela. Não há um debate real sobre o uso da violência ou seus fins. Se você está pensando: “eu quero ver um filme de ação de Matthew Vaughn, dane-se a discussão de ideias,” saiba que concordo. Mas King’s Man, ao levantar essa temática, nunca faz nada com ela, e tem pouca ação e charme para contrabalançar a falta de aprofundamento do roteiro. O crescimento e mudança do personagem de Fiennes, por exemplo, acontece apenas com base em reações às circunstâncias, nunca com uma reflexão interna.


Fiennes e o restante do elenco fazem o possível para engrandecer o raso texto de seus papéis. Hounsou, Dickinson e Arterton em particular demonstram grande carisma e charme, especialmente quando estão juntos. O ator principal é o melhor de todo o filme, contribuindo para cada cena com um nível de charme e postura dignos do trabalho de Colin Firth no original.


As boas atuações ajudam, mas o roteiro e direção de King’s Man - particularmente em seu segundo ato, quando Conrad parte para a guerra - nunca se tornam interessantes, divertidos ou diferentes o suficientes para tirar bom proveito do seu fantástico elenco.


Nota: 2/5

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