Halloween Kills - Crítica do Chippu

Halloween Kills - Crítica do Chippu

Sangrento e cheio de falhas, continuação desperdiça potencial da nova fase da saga

Guilherme Jacobs
13 de outubro de 2021 - 7 min leitura
Notícias

Como qualquer franquia de terror com anos de existência, Halloween já foi muitas coisas. Primeiro um slasher inovador, depois uma série de continuações com aspectos sobrenaturais e, eventualmente, uma reformulação realista nas mãos do diretor David Gordon Green, a franquia agora chega na fase de terror consciente, avaliando e abordando suas próprias obras. Com Halloween Kills: O Terror Continua, a saga procura examinar o próximo passo de Michael Myers. Mudanças, entretanto, são difíceis. Halloween nem sempre conseguiu equilibrar suas tentativas de malabarismo, e mais uma vez, os pinos foram ao chão.


Continuando exatamente do momento no qual Halloween (2018) terminou, Kills explora o efeito da transformação de Myers num ícone, na assombração não apenas de Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) mas de toda cidade de Haddonfield, agora assombrada por quarenta anos pelos assassinatos no dia das bruxas. Laurie está machucada no hospital, então outra pessoa precisa caçar The Shape. Esse esforço é encabeçado por Tommy Doyle (Anthony Michael Hall), o garoto que estava sob os cuidados de Laurie no filme original, agora um homem traumatizado e cheio de raiva, ele consegue incendiar a fúria de toda a população. Frustrados com as falhas da polícia e cansados do sentimento de ameaça constante, eles decidem assumir a tarefa de matar Michael de uma vez por todas. “O mal morre hoje à noite,” eles gritam com fôlego semelhantes aos apoiadores de Trump na campanha “Make America Great Again.” Os paralelos são claros.


Isso traz uma abordagem questionável. Estaria o filme colocando Myers como um representante de minorias, imigrantes e liberais? Essa não parece ser a intenção de Green, aqui mais interessado em explorar a capacidade de histeria coletiva de se espalhar como um vírus, infectando e cegando pessoas ao apresentá-las um alvo, um culpado por seu sofrimento e ira. Quando isso acontece, a população se torna massa de manobra para fake news e boatos, sejam eles calculados como em campanhas políticas ou surgindo naturalmente, como é o caso aqui. Por um lado, isso traz novos ares para a franquia. Aqui, ninguém precisa convencer o próximo sobre a existência de uma ameaça, os personagens não estão despreparados e nem desconhecem a natureza de Michael. Por outro, o foco é removido de Laurie, historicamente a âncora humana desta franquia.


Além de Tommy, a filha de Laurie, Allyson (Andi Matichak), seu namorado Cameron (Dylan Arnold) e o sogro Lonnie (Robert Longstreet) partem numa caçada pela cidade tentando achar o assassino e matá-lo, pondo um fim à matança. Enquanto eles o buscam, Michael aterroriza ainda mais os habitantes locais, encontrando casais e crianças para assustar pelo caminho. Por conta disso, Halloween Kills não tem um protagonista claro, nem uma linha narrativa claramente definida. O foco, então, se espalha por um elenco vasto de personagens nunca muito bem desenvolvidos ou com personalidades interessantes como Laurie ou o policial Hawkins (Will Patton), do último filme. Para piorar as coisas, as decisões tomadas pelos humanos nesta sequência são, no mínimo, questionáveis e alguns casos beiram o incompreensível.


Diversos cidadãos têm chance de matar Michael, oportunidades de agir de maneira lógica diante da ameaça, mas preferem se comportar de maneira bizarra. Um casal gay agora reside na antiga residência Myers, e quando o filho à casa torna, decidem enfrentá-lo se armando com facas (uma delas feita para cortar queijos) ao invés de chamar a polícia ou fugir. Tommy reúne a população local discursando sobre a necessidade de envolver o máximo de pessoas para por um fim à ameaça da máscara branca, mas o grupo imediatamente se divide e age tão descontroladamente ao encontrar seu alvo, que é difícil acreditar na ideia de um plano entre eles.


Num ponto da narrativa, Tommy incendeia o coração do grupo em direção a outro prisioneiro do asilo do qual Michael escapou numa tentativa do filme de mostrar os perigos de uma milícia desregulada. Karen (Judy Greer), filha de Laurie, serve como voz da consciência defendendo alguém cujo passado pode ser tão assombroso quanto o de Myers, e cuja personalidade nunca é desenvolvida para criar em nossa mente a possibilidade de redenção. A personagem de Greer é a mais interessante de todo o longa, mas se vê maltratada pelo filme ficando num papel passivo demais até a reta final, quando sua função se torna mais interessante na luta contra a Shape.


Michael, por sua vez, é o maior acerto de Halloween Kills. Para muitas pessoas, isso deve ser suficiente. O assassino realiza algumas de suas mortes mais criativas, sangrentas e impactantes durante o filme, se armando com lâmpadas quebradas, machados de bombeiro e, claro, muitas facas, para nos dar a dose obrigatória de gore de um slasher. Para completar, Myers se torna tão perigoso na mente das pessoas quanto em suas ruas ou casas. Sua presença domina os pesadelos de Haddonfield, influenciando o comportamento local para a loucura e insanidade, um ambiente no qual ele pode florescer.


Infelizmente, o filme não acompanha seu vilão. Enquanto Michael Myers é bem trabalhado tanto num nível de roteiro quanto no visual, o resto dos personagens e da narrativa está entre os piores de uma franquia cujos baixos são profundos. Laurie é escanteada para um confronto final em Halloween Ends, e ninguém é capaz de substituí-la de forma convincente. Green até insere referências e cameos para agradar os fãs de Halloween, mas Kills nunca se mostra capaz de aproveitar o potencial da saga.


Nota: 2/5

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