As cartas já estavam na mesa antes mesmo de Guerra Civil colocar a A24 no topo da bilheteria norte-americana pela primeira vez no seu fim de semana de estreia, e no fim de semana seguinte. O sucesso do filme de Alex Garland, que já figura entre os cinco maiores hits do estúdio na bilheteria global com US$ 60 milhões, meramente sublinhou o plano da marca para o futuro.

Ranking: 24 melhores filmes da A24

Se em 2022 eles dominaram o Oscar com Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (que ainda virou seu primeiro título a arrecadar mais de US$ 100 milhões), 2024 marca a entrada da marca na briga por dominar também o BoxOfficeMojo.com. A questão é: como ficará a identidade da A24 depois disso?

Não é que a A24 irá, de um dia pro outro, deixar de lado os filmes de terror, sci-fi e fantasia de alto conceito que transformaram seu logo em algo digno de fanpages pelo mundo afora — seu próximo lançamento é I Saw the TV Glow, um drama de amadurecimento trans com toques sobrenaturais — mas Guerra Civil representa o começo de uma nova estratégia; uma que inclui grandes estrelas, adaptações de franquias e mais espaço nas telas IMAX.

Entenda o fenômeno: Como a A24 conquistou uma geração

Hoje, Guerra Civil é a exceção à regra dentro da filmografia que nos deu A Bruxa, Moonlight e afins, e é muito difícil vislumbrar um futuro próximo onde grandes produções superam consideravelmente o número de projetos idiossincráticos, menores e mais nichados do estúdio. O que é certeza, porém, é que a A24 não quer que essa mudança de paradigma termine em Guerra Civil, e já encaminha alguns títulos para garantir isso.

Estrelado por Kirsten Dunst, Wagner Moura e Cailee Spaeny, Guerra Civil detém o recorde de filme mais caro da A24 com um orçamento de US$ 50 milhões. Outro projeto encabeçado por Garland deve quebrar esse recorde: Warfare, filme esperado para 2025, é dirigido por Garland e Ray Mendoza, consultor militar de Guerra Civil, com Garland atuando mais como um auxiliar para facilitar a visão do colega, e a expectativa de ainda mais cenas de ação do que no filme agora em cartaz.

Guerra Civil ainda não passou dos US$ 100 milhões que a A24 deseja, e chegar lá não é garantia. A existência de Warfare, por outro lado, sugere que o investimento da empresa nessa linha não depende apenas de seu lançamento mais recente. Situado durante a guerra no Iraque e com nomes grandes como Joseph Quinn (Stranger Things), Charles Melton (Riverdale) e Will Poulter (Guardiões da Galáxia Vol. 3), ele se posiciona de maneira ainda mais comercial e com um valor de produção maior.

Mas o caráter dessas escolhas também já sugere a vontade da A24 de manter algumas facetas de seu estilo mesmo neste novo patamar. The Smashing Machine é uma tragédia não muito distinta do que vimos ano passado em Garra de Ferro, enquanto Death Stranding vem de um criador de games já conhecido por suas escolhas autorais e nada convencionais. Crystal Lake pode ser parte de uma franquia de terror histórica, mas a origem dos Vorhees também é exatamente o tipo de narrativa traumática e perturbadora usada como combustível nos próprios hits de terror da casa. Dá para enxergar a tal "elevação" de gênero em todos esses.

O que é "um filme da A24"? Entenda a cartilha do estúdio

Até Warfare, por mais que seja um filme de guerra, deve se propor a algo semelhante a Guerra Civil e questionar a violência que coloca em tela. Se vai funcionar ou não é cedo demais para dizer (e depende da sua opinião sobre a questão de "tem como filme de guerra ser anti-guerra?"), mas nenhum desses títulos é o que podemos chamar de um blockbuster tradicional.

Com isto em mente, podemos nos assegurar que A24 não vai virar a Universal Pictures, Warner Bros. ou Paramount. Mas há um alargamento à vista, e resta saber o que vai acontecer se os filmes citados acima se tornarem grandes sucessos, e o estúdio se transformar num competidor de peso no mercado. Aí sim teremos o verdadeiro teste, porque em Hollywood há poucas coisas mais tentadoras do que a perspectiva de mais dinheiro.

A A24 nunca vai parar de ter longas-metragens pequenos, emocionantes e bizarros, mas depois de Guerra Civil, a A24 nunca mais fará apenas isso. Os próximos anos vão nos dizer quão forte será seu abraço com o grande público, mas a conexão já começou.

Bem-vindo à #A24Week! De 22 a 25 de abril, os sites irmãos Omelete e Chippu estão passeando pela história do estúdio mais badalado do momento. Além de relembrar os principais filmes, destacar pérolas escondidas e analisar o sucesso da A24, também vamos lançar um ranking com os 24 melhores filmes do estúdio. Você pode acompanhar tudo no Omelete clicando aqui, e no Chippu clicando aqui.