Gavião Arqueiro: Episódios 1 e 2 - Crítica Sem Spoilers

Gavião Arqueiro: Episódios 1 e 2 - Crítica Sem Spoilers

Série focada no Vingador de Jeremy Renner começa com altos e baixos

Guilherme Jacobs
22 de novembro de 2021 - 9 min leitura
Notícias

Um dos quadrinhos menos influentes e importantes da Marvel nos últimos anos foi a saga de Matt Fraction e David Aja com o Gavião Arqueiro. A história, contida e focada na comédia pouco influenciou os acontecimentos do universo 616 da editora, mas é amplamente considerada uma das melhores do século 21. Os elogios são justificados. Os layouts criativos e desenhos expressivos de Aja trouxeram à vida um roteiro desconstruído e inovador escrito por Fraction. Menos Hawkeye e mais “Hawkguy”, a história imagina o herói interpretado nos cinemas por Jeremy Renner como… bom, o que ele é. Um cara. Um homem, normal, com flechas. Seus machucados doem, suas ressacas são longas, seu apartamento uma bagunça. Ali, Kate Bishop, vivida na nova série do personagem por Hailee Steinfeld, enxerga todos estes defeitos, e serve como contraste e complemento cômico para o Clint Barton que já não aguenta mais.


Então quando as primeiras prévias de Gavião Arqueiro deixaram claro sua vontade de parcialmente adaptar a saga de Fraction e Aja, usando-a como ponto de partida e inspiração, eles estavam chamando para si uma responsabilidade equivalente a de colocar “Guerra Civil” num título de filme. A escolha também pareceu bizarra levando em conta o contexto deste universo. O Clint do MCU tem três filhos, uma esposa e vive numa fazenda. Ele é quase o oposto do homem de quase meia idade cujos problemas incluem os vizinhos de seu prédio antigo em Nova York. A abertura da série traz as setas e círculos usados nos quadrinhos de Aja, reforçando ainda mais qual é a pegada desejada pelo showrunner Jonathan Igla.


Com os dois primeiros episódios, Igla e sua equipe fazem o possível para construir uma ponte entre MCU e quadrinhos. A seis dias do Natal, Clint e família - Lila (Ava Russo), Cooper (Ben Sakamoto) e Nate (Cade Woodward) - estão curtindo as férias antes de retornar para casa, onde Laura (a sempre agradável Linda Cardinelli) espera para celebrar o feriado. O lazer é interrompido quando o Gavião Arqueiro vê uma pessoa usando sua antiga roupa de Ronin no noticiário e decide investigar a situação, encontrando então Kate Bishop, que obteve o uniforme num leilão secreto no qual investigava seu possível padrasto, Jack (Tony Dalton), um sujeito bom demais para ser real e nem um pouco ideal para ser o parceiro de sua mãe, Eleanor Bishop (Vera Farmiga, super qualificada demais para o papel).


O primeiro episódio comete o mesmo erro da estreia de Falcão e o Soldado Invernal ao manter os personagens totalmente separados, especialmente porque as cenas de Clint com a família são mortas. Não há química entre os atores, não há tensão, o humor parece forçado e Renner não consegue transmitir o calor e carinho necessário para fazer estes momentos funcionarem. Elas estão ali porque os roteiristas precisam abordar os filhos, explicar a razão pela qual eles estarão ausentes no restante da série (Clint os envia para casa e promete encontrá-los daqui a cinco dias para o Natal, adicionando um timer divertido à narrativa), isso precisa acontecer para transformar o Gavião (Hawkeye) no Arqueiro (Hawkguy).


As cenas com Kate são melhores simplesmente por conta do charme interminável de Hailee Steinfeld. Tenho sido crítico de escolhas recentes de elenco da Marvel (Brie Larson e Simu Liu ainda não convencem), mas Steinfeld é um acerto no nível de Florence Pugh em Viúva Negra; carismática, engraçada e dominando a câmera sem esforço, a atriz salva a primeira hora de ser um tédio. O roteiro da estreia está repleto de exposição para nos fazer acreditar nos feitos físicos de Kate - destacando sempre seus troféus e medalhas de artes marciais e arco-e-flecha - mas a personagem funciona, acima de tudo, graças à entrega eficaz de Steinfeld. Pouco importam as explicações, só queremos estar com ela.



A Marvel foi sábia colocando os dois primeiros episódios de Gavião Arqueiro para sair juntos no Disney+ em 24 de novembro. Se essa primeira hora é introdutória demais, esticando os 15 primeiros minutos de um filme para 45 de televisão, a segunda é quando as engrenagens começam a rodar. Quando Barton e Bishop finalmente se encontram, a química começa a funcionar. A dinâmica entre os dois é a clássica veterano cansado e novata impressionada; ele sem paciência para ensiná-la o básico, ela tentando conquistar sua aprovação e, ao mesmo tempo, mostrar como não precisa dele. Mas o roteiro mais voltado para o humor e a atuação mais leve de Renner, sem dúvidas contagiado pela energia de sua coadjuvante, deixam esses clichês não só toleráveis, como divertidos. Ao fim do segundo capítulo, eu já estava desejando mais de Clint, Kate e, claro, de Lucky, o Pizza Dog.


Sim, Lucky está aqui. A Máfia Tracksuit, outro elemento clássico dos quadrinhos de Fraction e Aja, também, e ela é tão incompetente e engraçada quanto precisam ser. No segundo capítulo, o abraço aos elementos do texto original se torna mais palpável. Clint está mais cansado, suas múltiplas lesões em batalhas contra seres super poderosos pesam no corpo de maneira engraçada, porém visível graças aos aparelhos auditivos em seus ouvidos. Ele é famoso o suficiente para ser reconhecido, mas não o suficiente para conseguir as coisas um estalo de dedo. Sua jornada para recuperar o uniforme de Ronin, por exemplo, toma um caminho imprevisível, eventualmente levando o herói à cena mais engraçada de uma produção da Marvel até aqui. Eu não vou nem começar a descrevê-la, você saberá quando ver. Mas as comparações com o trabalho de Fraction e Aja também reforçam o quão diluído é o MCU, como seus roteiros são menos afiados e a direção feita para agradar as massas. É muito cedo para dizer o quanto a série vai ser limitada por conta dessas tendências, mas a preocupação está lá.


Ao fim destes capítulos iniciais, fica a impressão de que Gavião Arqueiro está finalmente começando. Colocando Clint e Kate lado a lado em situações cada vez mais perigosas e inusitadas, e aliando Renner e Steinfeld nas cenas, a série encontrou uma dinâmica de ouro para o restante da temporada. Alguns eventos futuros são praticamente telegrafados, mas essa não é uma série cuja proposta, como WandaVision ou Loki, depende tanto de segredos e reviravoltas, ela é mais separada do resto do universo Marvel - por hora presente só através de cosplays na rua e do terrivelmente engraçado musical de Steve Rogers na Broadway - mais limitada, de maneira boa. O MCU está vindo, claro. Também presente no elenco está Alaqua Cox como Eco, cuja série derivada já foi confirmada. Mas ao reduzir seu foco e apontá-lo de maneira mais específica para uma cidade, num curto período de tempo, e em duas pessoas, Gavião Arqueiro tem a chance de, como o quadrinho no qual busca referência, ser um refresco em meio a um deserto povoado por narrativas grandiosas, deuses e efeitos especiais.

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