Fundação: Criador da série da Apple fala sobre desafios de adaptar os livros e seus personagens

Conversamos com David S. Goyer, roteirista e showrunner da produção

Bruno Silva

26 de setembro de 2023 - 4 min leitura

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Uma das maiores apostas da Apple TV+ no campo da ficção, Fundação chegou ao final de sua segunda temporada colhendo os frutos de uma preparação complicada. Enquanto o primeiro ano estabeleceu as bases de uma das mais complicadas adaptações da literatura de ficção-científica para o formato de série, o novo ano pode aproveitar este momento para se focar em personagens, ideias e grandes acontecimentos.

No comando desta empreitada está David S. Goyer, veterano das adaptações de ficção para o cinema, como a trilogia do Batman de Christopher Nolan, O Homem de Aço e Batman vs Superman, Goyer se debruçou sobre a obra de Isaac Asimov para adaptá-la aos tempos modernos.

Mas quais foram os desafios de trazer conceitos tão abstratos a um público mais amplo? Em entrevista ao Chippu, Goyer fala que o maior desafio estava nos personagens, que de acordo com o escritor, não foram tão aprofundados por Asimov em seus primeiros livros. “Não sabíamos muito sobre suas vidas pessoais. Eles eram uma espécie de porta-vozes de ideias e, como as pessoas se importam na TV com personagens e não ideias, tivemos que descobrir caminhos para criar personagens que pudessem incorporar plenamente essas ideias”, explica.

Para Goyer, uma das melhores qualidades de um roteiro está na capacidade de personagens de irem contra si mesmos. “Por exemplo, havia muitas oportunidades para Walter White largar Jesse pelo caminho, mas ele não o fez”, diz o roteirista, referindo-se a Breaking Bad. “Uma vez que você entende o caminho em direção ao personagem e o relacionamento com seu filho, você entende por que ele continua salvando Jesse”, diz, para exemplificar decisões tomadas na segunda temporada de Fundação.

“E então há muitas coisas na segunda temporada que Day faz que vão contra seu próprio interesse, ou coisas que Don faz, ou Dust faz, ou até mesmo Sarah, nesse caso, e eu acho que é emocionante, desde que essas ações pareçam verdadeiras para os personagens e isso é quando eles não estão apenas sendo porta-vozes. É quando eles conduzem a narrativa e é emocionante quando estamos na sala dos roteiristas. E pensamos bem, faz sentido para a trama que faríamos isso”, explica.

Outro grande desafio de adaptar Fundação, na visão de Goyer, é a de atualizar a obra para um entendimento do público de hoje, em especial, em questões de diversidade. “Fundação foi escrito há 70, 75 anos. No primeiro livro está fortemente implícito que seu mundo é habitado quase inteiramente por homens caucasianos. Esse era em grande parte o público leitor da época e Asimov estava escrevendo para este público, mas, no caso, precisávamos ser um sucesso global. Sentimos que o público em geral precisava ser representado por esses personagens”, diz.

Da mesma forma, Goyer também sentiu essa necessidade ao falar sobre temas atuais na adaptação. “Senti que seria muito redutivo adaptar só o que Asimov estava escrevendo. Ele falava sobre um mundo pós Segunda Guerra Mundial, e estava certo ao escrever sobre o realinhamento que estava acontecendo na Europa. Mas não vivemos num mundo pós-guerra agora, vivemos num mundo muito diferente. E então foi importante para mim adaptarmos um pouco o que estamos interrogando tão inconscientemente o que seria mais relevante para o público de hoje”, afirma.