Free Guy: Assumindo o Controle - Crítica do Chippu

Free Guy: Assumindo o Controle - Crítica do Chippu

Ryan Reynolds brilha em comédia que traduz muito bem a diversão dos videogames

Guilherme Jacobs
5 de agosto de 2021 - 7 min leitura
Notícias

Já é de praxe falar sobre como é difícil adaptar videogames para os cinemas. São diversas tentativas de trazer para as telonas os maiores nomes do mundo interativo, como Tomb Raider, Assassin's Creed e até Super Mario. O grau de sucesso varia, mas como regra geral, poucos são os que conseguem traduzir a sensação de jogar. Talvez Ryan Reynolds e o diretor Shawn Levy tenham descoberto a fórmula com o divertidíssimo e criativo Free Guy: Assumindo o Controle.


Mais parecida com Scott Pilgrim contra o Mundo e Detona Ralph do que com adaptações diretas de games, a comédia - com estreia marcada para 19 de agosto nos cinemas - coloca Reynolds como Guy. Ele é um NPC, personagem não jogável, dentro do universo virtual de Free City, a gigantesca cidade online que é casa do jogo mais popular do mundo.


Misturando GTA, Fortnite e Mario Kart, Free City é a casa de milhões de jogadores diariamente, a maioria se comportando exatamente como você imagina. Eles matam, roubam e acabam com as vidas dos NPCs sem pensar duas vezes, deixando para trás uma trilha de corpos. Para os cidadãos, reiniciados toda manhã pela programação, isso pouco importa. Guy está feliz com sua vida, rotina e guarda-roupa limitado a camisas azuis... até cruzar com MolotovGirl (Jodie Comer).


A crescente paixão do NPC pela jogadora, cujo nome real é Millie, o tira de sua programação e faz Guy basicamente quebrar Free City. Para impressionar a garota, ele começa a se comportar como um jogador e ganhar pontos, subir de nível e realizar missões. E assim vemos a capacidade de Free Guy de traduzir para a sétima arte a ideia de um videogame, completo com bugs típicos de jogos online, easter eggs e referências, menus, inventário e, claro, fases secretas.


É divertido ver como os cineastas trouxeram os elementos virtuais para o cinema e, ao observar os mínimos detalhes como o jeito que carros mudam instantaneamente na rua (porque seu jogador está mexendo num menu) nos revela o cuidado de Levy e sua equipe em entender o meio aqui representado. Ao procurar não adaptar um jogo em si, mas a experiência de jogar, Free Guy encontra um ar de diversão, curiosidade e inovação tipicamente ausente nos blockbusters hollywoodianos com base em games.


Também é curioso ver Free Guy logo após a propaganda publicitária do HBO Max chamada Space Jam: Um Novo Legado. Não vamos dar spoilers, mas é justo dizer Reynolds e Levy usam referências às outras propriedades da Disney (o longa é do 20th Century Studios, divisão da Disney) de um jeito muito mais natural e icônico que o filme de LeBron James, incluindo a adição da cameo mais divertida do ano.


Ajuda, claro, ter Ryan Reynolds no meio. Como já havia mostrado em Deadpool, o ator tem uma grande capacidade cômica vista especialmente em papéis nos quais ele está livre para brincar com as expectativas e adotar referências culturais de maneira criativa. Como Guy, ele segue o caminho reverso do mercenário mutante. O NPC pode ter se tornado um jogador, mas ele ainda é inocente, feliz, gentil e cordial. Guy se torna um fenômeno dentro de Free City e inspira milhões a, como ele, serem bondosos com outros personagens. A força-motor da comédia está em ver Reynolds explodindo prédios sem nunca perder o sorriso pacato do herói, e ele o faz sem nunca se tornar puramente uma caricatura.


À essa altura, você provavelmente quer saber como Guy quebrou sua própria programação. Ele o fez através de um código de inteligência artificial escrito por Millie, que na vida real é desenvolvedora de jogos, ao lado de seu parceiro Keys (Joe Keery, competente mas esquecível). A dupla estava desenvolvendo um game com a proposta de ter NPCs capazes de mudar e crescer organicamente antes de venderem seu estúdio para o bilionário Antoine (Taika Waititi, atuando sem nenhum limite). Keys agora trabalha para o ricaço, mas Millie está processando o executivo pois acredita que o código de seu antigo projeto está escondido dentro de Free City, sendo usado ilegalmente para aumentar o realismo.


Esse lado do filme funciona mais quanto menos você pensa nele. Os argumentos para a explosão de inteligência de Guy são forçados pelo roteiro. No terceiro ato, o motivo do despertar de sua mente é revelado e é difícil levar a sério a ideia apresentada. Não é surpreendente ver a popularidade de Free City dentro do filme, considerando como são as cenas do mundo real. O estúdio de videogame é bem construído, mas com a exceção da personagem de Comer - bem trabalhada pelos roteiristas e interpretada com nuance, cuidado e humor pela atriz - Free Guy é consideravelmente inferior fora do universo virtual. A atuação de Taika, em particular, é bem cansativa. Levy claramente o deu carta branca para exagerar e brincar com o personagem, mas a piada eventualmente se torna mais irritante do que engraçada.


Quando está dentro do jogo, porém, Free Guy, assim como seu personagem principal, só faz crescer. Seu desenrolar é previsível e, às vezes, o roteiro corta esquinas para chegar numa resposta fácil e facilitar o desenrolar do filme, mas tudo isso se torna secundário mediante à simples natureza de parque de diversões virtual do longa-metragem.


Nota: 3.5/5

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