Wagner Moura está tendo um momento internacional. Depois de seu tempo como Pablo Escobar em Narcos, o brasileiro que capturou a imaginação nacional em filmes como Tropa de Elite tem alguns projetos de grande status nos Estados Unidos, incluindo o próximo filme do talentoso diretor Alex Garland (Ex_Machina, Aniquilação). Antes, porém, ele trabalhou em mais uma série - atuando como o jornalista Dan Velasquez em Iluminadas, série da Apple TV+ produzida por Leonardo DiCaprio, ao lado de Elisabeth Moss.

“Quando eles me convidaram para fazer a série, eles me mandaram os três primeiros episódios, eles tinham os três primeiros escritos já. E eu achei bom demais. Eu achei que era uma das melhores coisas que eu tinha lido nos últimos tempos, bem escrito, um negócio bem balanceado, uma mistura de gêneros difícil de balancear e ela [Silka Luisa, a showrunner] fazia isso muito bem," Moura disse numa entrevista de mesa redonda que o Chippu participou, antes de elogiar como Iluminadas mistura temas como crime, feminicídio, ficção-científica e jornalismo. Este último, um atrativo especial para ele. "Eu gostei muito do personagem que queriam que eu fizesse, que é um jornalista. É a minha formação. Eu sou um cara que veio do jornalismo, e eu fiquei muito afim de fazer. Muito afim de trabalhar com a Elisabeth Moss.”

Moss, que dirigiu dois episódios além de atuar, é o centro de uma narrativa que está constantemente mudando por razões misteriosas. Ela interpreta Kirby, sobrevivente de um ataque violento. Sua realidade é alterada quase de uma cena para outra, e Moura, consequentemente, precisou manter o foco no centro de seu personagem para ter uma coerência emocional no meio dessa incerteza. “Nesse sentido, isso foi mais difícil para a Lizzie [Moss], porque ela que tinha que lidar com essas mudanças o tempo todo. Quando a realidade mudava pra ela, às vezes mudava pra mim. Mas eram mudanças muito pequenas que não interferiam tanto em quem meu personagem era - esse jornalista problemático, alcóolatra, que também está tentando colocar a vida no lugar."

"Esse era o meu trilho e esse foi meu trilho até o final da história. É um cara que começa vendo a história [...] como algo que vai colocá-lo de volta, profissionalmente, no lugar que ele um dia esteve, mas isso vai mudando conforme ele vai se relacionando com a personagem [da Moss]. A ambição profissional vai dando lugar a um interesse pessoal muito forte naquela menina. Porque eles são personagens que se encontram de uma forma muito bonita, é muito bem escrita a forma como os personagens vão se aproximando," ele continuou. “Eu acho que a coisa mais bonita da série é essa relação entre a Kirby e o Dan. Então pra mim essas mudanças de realidades não me afetam muito. Eu sabia bem o que meu personagem queria e o caminho que ele tinha que seguir.”

Brasileiro, até no personagem

"À princípio ela não gostou muito disso, mas ela acabou cedendo. Então quando a gente estava fazendo o episódio três ela veio pra mim no set e disse ‘quero te agradecer por você ter proposto isso, porque é ótimo ver você falando português com esse menino, é orgânico.’ Tem coisas que você vai propondo. Algumas não rolam, outras acontecem.”

Se Luisa foi relutante, Beukes adorou de vez. "“Eu amo o que eles fizeram com o personagem. Eu não sei o quanto disso veio dele, mas o personagem é tão interessante e torturado. Nós já vimos o jornalista bêbado antes. Mas ele traz tanta profundidade para o papel, e é lindo, engraçado, adoro a energia que ele tem com o filho - e isso não está no livro," ela nos disse, chamando Moura de fenomenal. “O que é vital para esse tipo de [adaptação] é que você traga sua autenticidade para a obra. Eu acho que o fato dele ter mudado o país de origem do personagem significa que ele conseguiu trazer mais riqueza e profundidade para aquele personagem, e se você pode melhorar algo assim, não há dúvidas. Faça isso.” Leia nossa entrevista completa com Beukes aqui.

Wagner Moura, o diretor

Depois de dirigir alguns episódios de Narcos, Moura também lançou seu primeiro longa-metragem com o polêmico e importante Marighella. Iluminadas teve três diretoras, a própria Elisabeth Moss comandou dois episódios, Dana Reid dirigiu dois e a veterana Michelle MacLaren, cuja carreira inclui Breaking Bad e Game of Thrones. Ele também é um dos atores principais em Civil War, de Garland. Na entrevista, ele falou conosco num intervalo entre as filmagens do longa. Todo esse ambiente tem ensinado valiosas lições para o brasileiro - e o ajudado a encontrar seu próximo desafio como diretor.

“Você sempre aprende com diretores. Eu agora estou fazendo um filme com Alex Garland [Ex_Machina, Aniquilação] que é um cara que me deixou impressionado. Como ele é inteligente. Como ele conduz o set dele. Então você sempre aprende," ele disse. "Uma coisa que eu quero fazer também é isso, poder me dirigir em alguma coisa. Era bonito [ver Moss] fazendo isso. Ela estava atenta, em cena, mas ao mesmo tempo vendo tudo que estava acontecendo ao redor."

"Então você sempre aprende muito," ele repetiu, destacando em especial o trabalho de Moss, e sugerindo para onde sua carreira pode ir agora. Por hora, porém, ele está satisfeito com o trabalho em Iluminadas, que estreia nesta sexta-feira (29) com três episódios na Apple TV+ e mostra para o mundo, mais uma vez, o talento do brasileiro.