Encanto - Crítica do Chippu

Encanto - Crítica do Chippu

Nova animação da Disney traz uma abordagem bem-vinda e surpreendente aos temas clássicos do estúdio

Guilherme Jacobs
18 de novembro de 2021 - 8 min leitura
Notícias

Qual a primeira palavra que vem em sua cabeça quando você escuta "Disney"? É Mickey? Walt? Parque? Marvel? Ou talvez, o termo mais comumente associado aos filmes e produtos deste império do entretenimento: magia? Há um sentimento presente, particularmente, nas animações do estúdio - de Branca de Neve e Fantasia até Frozen e Moana - de algo mágico, etéreo. Uma qualidade intocável porém palpável, um pózinho brilhante usado como tempero para prender a atenção e olhares de pessoas de todas as idades, para transformar em sonho uma ida à Disneyland, a oportunidade de estar presente num local onde a fantasia penetra na realidade. A magia Disney. Mas agora, seu 60º longa-metragem animado, Encanto, ousa perguntar o seguinte: e se isso for ruim?


Ok, não é como se Encanto virasse de cabeça para baixo toda a fórmula Disney, ele é repleto de animais, músicas, família, cores e, claro, magia. Sua conclusão traz uma grande lição e os riscos nunca se tornam grandes o suficiente para acreditamos em qualquer outro tipo de final além de sorrisos e fogos de artificio. Mas a grande sacada de sua narrativa é enxergar um conflito dentro desse mundo de possibilidades infinitas. Se a magia é o mais importante, como fica quem não tem nada disso?


Nesta exata situação está Mirabel Madrigal (Stephanie Beatriz no original). A família Madrigal, liderada pela Abuela Alma, foi abençoada com dons milagrosos. Seus três filhos podem controlar o clima, prever o futuro e curar pessoas. E enquanto os netos têm super força, audição aguçada, controle sobre a flora, transmutação e capacidade de conversas com animais, nossa heroína é uma pessoa normal, com paixão por canto, dança e pelos seus parentes, mas com o trauma de não ter recebido o presente mágico, algo intensificado depois do seu primo mais novo, Antonio, passar pela cerimônia quase religiosa de ganhar sua habilidade sobrenatural. Toda a vila comparece à residência Madrigal para testemunhar o momento, tratado quase como uma passagem à vida adulta, e sob o comendo de Abuela, o clã usa essas magias para ajudar toda a cidade e garantir sua moradia e sustento. Mirabel se vê como insuficiente dentro deste esquema.


A premissa da "ovelha negra da família" é familiar dentro da Disney, a maior parte de suas protagonistas (Moana, Cinderela, Ariel) se vê presa dentro de um ambiente doméstico desconfortável, maltratadas e incompreendidas pelas pessoas mais próximas, mas onde Encanto encontra um diferencial é no relacionamento de Mirabel e Abuela. A avó é quase como um fã da Disney, intolerante ao ordinário após anos e anos de fascínio pelo sobrenatural, incapaz de ver a normalidade do cotidiano como tão válida de carinho e amor quanto o "especial." Novamente, Encanto - dirigido por Jared Bush, Byron Howard e Charise Castro Smith - não é o primeiro filme da Disney a abordar o potencial negativo das dinâmicas familiares, mas é um dos únicos a colocar esse dilema diretamente em seu texto, criando drama a partir de uma ideia normalmente vista como o ápice destes tipos de narrativas. Aqui, ter magia não te transforma numa princesa, num príncipe encantado, mas te causa ansiedade e síndrome de inferioridade.


Eu posso estar dando muito crédito ao filme. Tirando sua chata irmã do meio Isabela e algumas piadas do primo Camilo, Mirabel é vista com amor por seus parentes. O próprio Antonio só aceita passar pela cerimônia segurando a mão dela. O pai, casados com as filhas super poderosas de Abuela, não tem dons e serve como escape. Quando seu tio perdido, Pedro, a primeira ovelha negra dos Madrigal, finalmente entra em cena, Encanto abre um caminho de redenção para toda a casa se reconciliar. Mas ainda dentro desse contexto, o filme procura explorar uma camada mais profunda de desenvolvimento - muitos se sentem pressionados pelos dons, cobrados constantemente pela cidade e atrelam sua identidade totalmente aquilo. Outros, como o próprio Pedro, são quase assombrados por este milagre. Ele é capaz de ver o futuro, mas suas visões normalmente só revelam tragédias.


Uma destas tragédias está vindo à tona quando a magia da família começa a falhar e as paredes de sua casa - uma construção viva, aliás - são permeadas por rachaduras e, aparentemente, Mirabel é a culpada. Digo aparentemente porque a natureza desta mágica meio religiosa e o que está ameaçando sua essência nunca é deixado claro pelo roteiro do filme, mas em troca do esclarecimento de detalhes está a exploração dos perigos dessa premissa. Luísa, a rocha da família, é forte como um deus grego, mas se sente sufocada pelas crescentes obrigações. Quando ela experimenta fraqueza pela primeira vez, sua confiança desaba. Ela se vê como uma decepção.


O momento no qual Luísa finalmente abre o coração para Mirabel é o início de uma das melhores músicas do filme, cuja excelente coleção de canções foi escrita por Lin-Manuel Miranda. Tanto em termos de trilha sonora quanto na energia visual criativa dos momentos musicais, Encanto supera até os ótimos esforços recentes da Disney como Moana, usando a cultura colombiana como ponto de partida e misturando as composições com uma variedade agradável de ritmos, instrumentos e tons de canto. As músicas são levadas para direções inesperadas enquanto os Madrigal falam sobre seus dons, sua história e seus interiores, prendendo a nossa atenção pelos ouvidos e providenciando emoções genuínas, além de um belo balanço. Será um desafio assistir a Encanto e, pelo menos, não mover seu pé com a batida.


Divertido e cômico, Encanto toma decisões maduras em seu roteiro, como a exclusão de um vilão tradicional em favor de posicionar a família, simultaneamente, como protagonista e antagonista. Perto do fim, a trama propõe uma conclusão na qual os Madrigal precisariam encontrar um novo jeito de viver sob a liderança emocional de Mirabel, mas logo antes de terminar, essa excelente proposta narrativa é revertida porque, apesar de suas visões inteligentes destes temas familiares, esta ainda é uma animação da Disney. Ele não revoluciona uma fórmula, mas seu trabalho dentro dela é bem-vindo e interessante o suficiente para nos convidar a imaginar um final sem precedentes dentro destes 60 filmes animados. Encanto não chega lá com tudo, mas suas conquistas vão além do normal. Isso, sim, é magia de verdade.


Nota: 3.5/5

guilherme-jacobs
encanto
disney
crítica
review
animação

Você pode gostar

titleMarvel

X-Men '97 se encaminha para final com maior ameaça e mais um Vingador

Parte 1 da trilogia final apresentou novo vilão e possível nova ameaça ao final

Alexandre Almeida
1 de maio de 2024 - 8 min leitura
titleMarvel

Deadpool & Woverine ganha novas imagens com Dogpool e heróis

Filme estreia em 25 de julho

Alexandre Almeida
30 de abril de 2024 - 3 min leitura
titleMarvel

Chris Hemsworth lamenta caminho de Thor: Amor e Trovão: "Paródia de mim mesmo"

Ator disse querer voltar ao personagem para entregar algo que os fãs merecem

Alexandre Almeida
30 de abril de 2024 - 1 min leitura
titleDisney

Let it Be: Disney divulga trailer de lançamento do documentário dos Beatles

Filme foi restaurado por Peter Jackson e a mesma equipe de Get Back

Alexandre Almeida
30 de abril de 2024 - 3 min leitura