Doutor Estranho no Multiverso da Loucura - Crítica do Chippu

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura - Crítica do Chippu

Loucura visual e humor afiado de Sam Raimi mais do que compensam roteiro apressado no blockbuster da Marvel

Thiago Romariz
3 de maio de 2022 - 6 min leitura
Notícias

O anúncio de Sam Raimi como diretor de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura foi surpreendente e um pouco amedrontador. À época, a Marvel estava tirando Scott Derrickson, um sujeito devoto ao gênero de suspense e terror e assumidamente fã de Strange, para incluir um diretor renomado, ícone dos filmes de herói, mas que poderia de novo provar como a Fórmula Marvel engolia até mesmo os mais originais dos cineastas. Felizmente, não é o que acontece.


Na sequência de Doutor Estranho, Raimi desfila suas pirações estéticas, horror pop e humor desajeitado mais até do que em Homem-Aranha 2, o melhor de seus projetos quadrinescos. É uma aventura de suspense e terror como nenhum filme que a Marvel já produziu, perfeito inclusive para a tela grande do cinema e, quem diria, para o famigerado 3D. Por outro lado, enquanto ação e visual evoluem, o diretor traz à memória os problemas de roteiro de Homem-Aranha 3 tão temidos pelos fãs. Ainda que consiga dar um bom arco para os protagonistas, Doutor e Feiticeira, a amálgama de personagens e conceitos enfiados na jornada do Multiverso esvaziam alguns dos propósitos da história.


O roteiro, aqui escrito pelo responsável por Loki, Michael Waldron, mostra Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) em busca de proteção para América Chavez (Xochitl Gomez), uma jovem de outro universo que tem a capacidade de viajar entre as realidades. O Vingador busca ajuda de Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), mas acaba percebendo que um mal maior está por trás da caça a Chavez, o que o faz viajar por inúmeros mundos com o intuito de salvar a garota e, ao mesmo tempo, tentar entender os motivos pelos quais ele mesmo se tornou alguém que afasta pessoas queridas e perde grandes poderes - afinal, ele não está com o amor da sua vida, a Dra. Christine Palmer (Rachel McAdams), nem mesmo é o Mago Supremo - Wong (Benedict Wong) assumiu o posto.


Assim como Strange, Raimi se vê num mundo recheado de possibilidades e aproveita cada uma delas. O herói se torna, assim como foi Homem-Aranha, um reflexo das aspirações do diretor na tela. Não existem limitações para onde estes poderes podem ir, ou como podem ser usados. A dupla de diretor e protagonista aproveita isso para exercitar a criatividade, levando a audiência em uma jornada tão psicodélica e divertida quanto os quadrinhos mais loucos do personagem. Raimi mistura realidades como se estivesse unindo gêneros, trazendo um pouco do horror cômico de A Morte do Demônio, um bocado da aventura de Homem-Aranha e um bom punhado da bizarrice de Darkman.


Nesta brincadeira (pois em nenhum momento o filme de fato se leva a sério, outra marca de Raimi), vemos o cineasta buscando em Strange a racionalidade para suas viagens e em Wanda a fuga para brutalidade - e na figura de uma bruxa, finalmente, Elizabeth Olsen transforma a Feiticeira Escarlate em uma vilã de primeira grandeza no Universo da Marvel. O equilíbrio atingido com a jornada de ambos é louvável a ponto de dizer que os dois poderiam estar no título do filme, pois até na montagem, frenética e orquestrada pela impecável trilha de Danny Elfman, estes dois magos são destacados em proporções idênticas.


Curiosamente, é a partir da jornada de ambos, ou no decorrer da motivação de ambos, que os problemas do longa aparecem. Ainda que comece com razões plausíveis, o roteiro de Waldron se perde ao colocar Chavez como um instrumento de avanço que pouco se justifica ser… uma pessoa. Xochitl Gomez tem poucas falas e não se encaixa visualmente na loucura proposta por Raimi. O diretor propositalmente deixa a criança como um plot perdido dentro da trama. É daquelas adições com cara de universo expandido, demanda de estúdio, de tão pouco sustentável.


O problema, inclusive, não está na jovem em si, mas como ela é encaixada em uma história que usa dos traumas e falhas de seus heróis para os transformá-los em vilões, e depois voltar algumas duas casas para entender o que de fato eles são. E ela está ali, solta e perdida num universo com tantas possibilidades - assim como Wong, um parceiro de comédia que sequer tem o seu momento de exaltação na ação ou mesmo dramático. O coadjuvante que brilha, e não pelo próprio arco, é Palmer, o par romântico de Strange que faz brilhar os dilemas do protagonista na medida ideal para que entendamos a força da nova jornada.


Dito isso, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é genuinamente uma experiência cinematográfica com a assinatura de Sam Raimi. Um diretor que busca em cada canto das suas referências uma inspiração para tornar a viagem destes heróis algo impactante, mesmo com tropeços pelo caminho e exagero nos arcos que tenta abraçar, ele nunca deixa de aproveitar a jornada. Poucos filmes da Marvel são memoráveis em termos visuais para além do fan service e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, mesmo com seus problemas, é definitivamente um deles.


4.0/5

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