Como o terror slasher se transformou ao longo dos anos?

Como o terror slasher se transformou ao longo dos anos?

E como a Netflix remodelou o gênero com a trilogia Rua do Medo?

Camila Ferreira
31 de outubro de 2021 - 9 min leitura
Notícias

Entre os diversos subgêneros que compõem o terror, o slasher é um dos mais marcantes. Ainda é um pouco complexo entender quando este surgiu, pois desde os anos 1930 e 1940 já estavam presentes em diversas produções como o principal arco um assassino em série que perseguia um grupo de pessoas. Mas o gênero apenas se estabilizou na década de 70, com Massacre da Serra Elétrica (1974) e Halloween (1978).


Os filmes ficaram tão famosos que ganharam diversas continuações, que são lançadas até hoje. Essas são produções baratas de se fazer, mas que quando lançadas, tem um lucro gigante. As duas produções citadas anteriormente foram o ponto chave para formular o que a fórmula do terror slasher se tornaria ao decorrer dos anos, com clichês usados até hoje.


A garota final e os diversos clichês presentes nos slashers


A “garota final” é o mais icônico presente nos longas. Trata-se de uma personagem feminina que consegue matar o assassino e sobreviver até o final da história. Porém, ao decorrer dos anos, a personagem foi mudando conforme a sociedade evoluiu.


Em Halloween, somos apresentados à primeira garota final, chamada Laurie Strode e interpretada por Jamie Lee Curtis. Ela seguia as regras, era a “boa garota” do grupo que o serial killer Michael Myers perseguia, e até hoje, nas diversas continuações que o terror ganhou, enfrenta o seu grande medo pelo vilão. Ainda nessa época, os filmes do gênero eram carregados com algumas ideias estranhas que não funcionariam de forma alguma se colocadas em um filme atual.


Entre essas regras, que eram presentes em qualquer slasher da época, a mais controversa era: se você fizer sexo, você morre. Sim, é isso mesmo. Também, se fizer algo imoral, morre, é claro. Como assim uma pessoa que faz duas coisas tão imperdoáveis poderá ficar viva? Um ótimo exemplo é Marion de Psicose, que após roubar o dinheiro de seu patrão para ajudar as dívidas do seu namorado, e após ter relações com o seu amor, tem a morte mais icônica do cinema, onde o psicopata Norman Bates a esfaqueia no chuveiro.


E assim chegamos em outro ponto muito importante dos filmes slashers, presentes até hoje: o assassino só é quem é por conta de um trauma passado. É claro que o seu motivo não justifica matar pessoas. Como exemplo, Jason de Sexta-Feira 13 (1980), que quando criança, sofreu bullying por conta de sua hidrocefalia. Inicialmente, usava uma sacola para cobrir o rosto, mas acaba quando encontra uma máscara de hóquei. É claro, esse não é um motivo válido para sair matando pessoas, mas e se você descobrisse que o assassino em série que está tentando te matar é na verdade o seu namorado? Esse foi o caso da Sidney de Pânico (1996).


A volta do slasher nos anos 90


No fim dos anos 1980, o público estava cansado da mesma fórmula em todos os filmes de terror slasher, deixando o subgênero de lado por uma década. Mas, no final dos anos 1990, Wes Craven, também conhecido por dirigir a franquia A Hora do Pesadelo (1894), lançou o filme Pânico, um terror adolescente onde um grupo de jovens são perseguidos por um assassino em série. Mal sabiam que aquela se tornaria uma das produções slasher mais conhecidas até hoje, com o quinto filme da franquia planejado para estrear em 2022.


Tradicionalmente na maioria dos filmes, a atriz ou ator mais famoso da produção é o principal, e aqui, o diretor enganou todos quando escalou Drew Barrymore em Pânico, onde a artista foi a principal forma de divulgação e a sua personagem morre em menos de 10 minutos do longa.


Pânico é imprevisível, mas quando revisto, você percebe que todas as pistas estavam na sua frente. Ghostface, o vilão que usa uma máscara com o rosto de um fantasma apavorado, eram duas pessoas muito próximas da nossa garota final, a Sidney. O seu namorado Billy e o amigo Stu. Billy criou aquela identidade para matar a namorada por conta do caso entre o seu pai e a mãe dela. Um motivo sem noção, não é mesmo?


Em um momento do filme, quando o Ghostface aparece na casa de Sidney e “mata” Billy é o exato onde percebemos que ele é o próprio vilão, juntamente de Stu, que está por trás da fantasia. As expressões de Skeet Ulrich são hilárias. Confira a cena abaixo:


Outro filme que marcou o slasher dos anos 1990 foi Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997). A produção acompanha um grupo de quatro amigos que atropelaram um homem e jogaram o seu corpo na água. Um ano depois, eles recebem um bilhete dizendo que alguém os viu cometendo o crime, e assim, começa uma onda de assassinatos misteriosos por uma pessoa com um gancho na mão.


Este não é tão icônico quanto Pânico, mas levou diversos artistas ao estrelato. Sarah Michelle Gellar, Freddie Prinze Jr, Jennifer Love Hewitt, Johnny Galecki e Ryan Phillippe. O filme ganhou no dia 15 de outubro uma série inspirada. Estou acompanhando a produção e ela claramente não tem nada a ver com o longa dos anos 90. A série original Amazon Prime é fraca e foca muito mais nos sentimentos dos adolescentes, do que no assassinato em si. E nem vou falar das atuações...Simplesmente insuportável!


Como a Netflix remodelou o gênero slasher com a trilogia Rua do Medo?


Nos anos 2000, outros subgêneros do terror surgiram, deixando o slasher para trás. Porém, em 2021, a Netflix lançou uma trilogia chamada Rua do Medo, com um elenco jovem e com um formato muito atrativo.


Disponibilizados no streaming a cada semana, Rua do medo 1994, 1978 e 1666 não apenas trouxe muitas rodas de conversas nas redes sociais, mas também, foi elogiado por muitos. Com diversas referências aos filmes slasher antigos, ele é como uma carta de amor aberta ao gênero, porém, com algumas mudanças. Dirigidos por Leigh Janiak, os filmes misturam o terror escrachado com o sobrenatural de uma forma impecável. A trilogia é comandada por uma mulher, trazendo uma perspectiva inovadora para o gênero.


Uma grande questão aqui é a sexualidade da personagem principal, e é triste ver no último filme o terror que Sarah Frier e Hannah Miller enfrentavam. Por se relacionar com uma mulher, principalmente por estarmos falando da filha do pastor em 1666, Sarah foi condenada como bruxa, após mentir para salvar a vida de seu grande amor.

A trilogia de Rua do Medo é muito mais importante do que parece. No futuro, ela será com certeza uma referência para filmes futuros do mesmo gênero. São filmes divertidos, e como estão conectados, eles trazem outra visão ao telespectador que está ansioso para descobrir quem é realmente Sarah Frier e o motivo de tudo aquilo estar acontecendo.


Ao decorrer dos anos, o terror slasher foi mudando conforme a sociedade mudava. Alguns estereótipos presentes no subgênero viraram insignificantes para o mundo e o público que consumia a cada geração. Nos próximos anos, a representatividade negra precisa ser mostrada no slasher, assim como a LGBTQIA+.












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