De todos os Friends, o Chandler de Matthew Perry, pra mim, era o mais fácil de se identificar. E não era só por causa das piadas ou humor cheio de ironia, e sim pelos motivos que o faziam destilar aqueles diálogos. Dentro dele, estava o puro e simples desconforto de alguém que tinha dificuldades em interagir socialmente e via na comédia uma forma de se encaixar.

A timidez extrovertida de Chandler parece bem típica de uma geração que me encaixo, cheia de referências pop e globais, mas ainda conectada com uma série de problemas dos nossos pais. Por coincidência ou não, Sr. Bing também carregava estes traumas, tratados de forma às vezes questionável e às vezes afetuosa pelo roteiro.

Fato é que olhar para Matthew Perry na televisão me fazia sentir menos único, menos estranho, da melhor maneira possível. Na verdade, ser como Chandler tinha seu charme, mas principalmente o encanto de poder ter amigos que entendessem sua timidez e um estranho jeito de demonstrar amor.

Ele foi a porta de entrada para mim no mundo de Friends, uma série que vai além do fenômeno pop, pois me ensinou inglês, costumes, gírias e até o valor da ressignificação e entendimento social de histórias que você tanto amou - até hoje discuto e sinto mais a falta de diversidade na série.

De toda forma, tal qual grandes histórias de cada geração, o que fica conosco são os personagens e como a trajetória deles te toca. Nos anos 1990 e 2000, era em que idolatrar era a única forma de olhar astros de TV e cinema, Matthew Perry conseguia como poucos ser identificável, ser próximo, algo que hoje em dia, com youtubers e as redes sociais, se tornou elemento essencial para criadores de sucesso.

No fundo, Chandler é o amigo mais esquisito, comum, difícil, agradável, desajeitado e inteligente que todos têm. Irreverente como sempre, decidiu nos deixar muito mais cedo do que deveria, mas também amoroso como o conhecemos, deixou um legado cheio de graça impossível de se ignorar.