Cavaleiro da Lua: O Manicômio - Crítica do Chippu

Cavaleiro da Lua: O Manicômio - Crítica do Chippu

Essa é a história que a série devia ter contado

Guilherme Jacobs
27 de abril de 2022 - 7 min leitura
Notícias

Este texto contém spoilers de "O Manicômio", penúltimo episódio de Cavaleiro da Lua, série da Marvel no Disney+


Próxima vez, Marvel, comece por isso. As melhores partes de Cavaleiro da Lua até aqui - a atuação de Oscar Isaac, o desenvolvimento do personagem de Steven, as questões psicológicas interessantes (embora pouco exploradas) - funcionariam perfeitamente sem nenhuma ligação com super-heróis, quadrinhos, deuses ou mitologia. Essa série não é um dos produtos mais independentes dentro do MCU só pela falta de referências aos Vingadores ou Sokovia, mas porque diferente das outras produções deste vasto estúdio, o sucesso desta estava em algo diferente. Num personagem diferente.


"O Manicômio", o penúltimo episódio de Cavaleiro da Lua, reforça os problemas da Marvel em suas séries até aqui ao fazer exatamente o que mais capítulos dessas produções deviam fazer. O ritmo desbalanceado, o sacrifício de desenvolvimento de personagens em favor de exposição e os coadjuvantes superficiais adicionados às histórias para forçar conexões. Tudo isso prejudicou Gavião Arqueiro, Falcão e o Soldado Invernal e até a própria Cavaleiro da Lua. Mas nada disso está presente neste episódio, que abre o caminho para seu excepcional ator principal entregar uma das melhores atuações de sua já riquíssima carreira, encerrando o arco do protagonista mais interessante da trama de forma emocional e, simultaneamente, finalmente justificando a existência do outro.


Continuando na ala psiquiátrica onde os dois encontraram Tuéris, a deusa egípcia de mulheres e crianças, Steven e Marc (Isaac) descobrem estar numa jornada para o além. Seus corações serão pesados contra a pena da verdade na balança, e ou eles caem no mar de areia das almas congeladas, ou vão para os campos do paraíso. A aparência do local, a presença de Harrow (Ethan Hawke, finalmente bem utilizado pela série) e seu status como paciente são maneiras de sua mente processar sua morte e enfim encarar os problemas psicológicos e emocionais presentes dentro de si. Aqui, eles descobrem a verdade, e nós também.


A presença de Tuéris não é uma coincidência. Mulheres e crianças estão, de fato, no centro da narrativa de Steven e Marc. Em específico, seu irmão mais novo - morto quando criança num acidente pelo qual o protagonista se culpa - e sua mãe, uma alcoólatra violenta, são as principais fontes de trauma no passado de... Marc. Sim, Marc é o original. Steven é uma personalidade gerada quase espontaneamente por sua mente para se proteger da verdade, para se esconder quando apanhava da mãe, para fugir da tristeza e luto. O arco mais interessante desta temporada sempre foi o de Steven, não de Marc. Sua busca por saúde mental, suas tentativas de assumir o controle de uma vida que ele não escolheu ter e sua determinação em encontrar respostas enfim são recompensadas. Que a recompensa, porém, é descobrir ser uma consciência criada por Marc para aguentar os golpes mais emocionalmente pesados da vida é uma tragédia para a qual ele não sabia estar caminhando. É uma realização triste, potente e muito bem trabalhada pela série, especialmente graças a Isaac.


Quando se tem um ator como Oscar Isaac, às vezes é necessário sair de seu caminho. Em breve postaremos uma entrevista com o diretor de fotografia dos episódios 2 e 4, Andrew Doz Palermo, e é exatamente essa a abordagem que ele explica para alguns dos momentos mais emocionais da série. É isso que o diretor Mohamed Diab faz aqui, aplicando close após close. Cavaleiro da Lua tem, em suas mãos, a melhor adição de um ator ao MCU desde sua gênese. Isaac é um talento sem igual e a quantidade de emoções transmitidas (e respondidas) por ele nesta hora de televisão não deve ser subestimada. Então você se lembra que ele precisa fazer tudo isso duas vezes, cada uma da perspectiva de um personagem totalmente diferente, e o feito se torna ainda mais impressionante.


Isaac entrega, vez após vez, um espetáculo neste episódio, particularmente como Steven. A revelação de sua natureza, infelizmente, significava o fim para Steven. Ele não é o dono desse corpo ou mente. Sua morte no final do capítulo, se sacrificando para salvar Marc da punição eterna do Duat, se tornou inevitável, mas funcionou justamente pelo fato de seu arco ter alcançado uma conclusão satisfatória. Em especial, ver Steven, a mais bondosa das duas metades do Cavaleiro da Lua, pegar o que deveria ser o momento de maior tristeza em sua vida - a descoberta da sua origem - e usá-lo para consolar Marc sobre a morte do irmão, dizendo "não foi sua culpa," é um soco no estômago que Isaac executa com precisão em ambos lados.


O roteiro deste episódio, escrito por Rebecca Kirsch e Matthew Orton, ao abrir o jogo sobre a verdade de Steven, faz ao mesmo tempo o trabalho de aprofundamento que Marc sempre precisou para ser interessante, e não mais um herói clichê desse tipo de história. Agora, o entendemos. Tal compreensão permite tirar Steven do tabuleiro como uma motivação extra para Marc, porque, diferente de quando ele assumiu o controle no episódio 3, Marc tem uma história, uma personalidade (literalmente, agora).


Eu sei que essa é a uma série da Marvel, então precisa haver ação, coadjuvantes civis, o destino do mundo tem que estar em jogo. Há mitologias para ser explicadas, exposição precisa ser feita, etc. Mas essa é a história que Cavaleiro da Lua sempre devia ter contado. Uma exploração psicológica de seus personagens mais importantes através de seu espetacular ator principal. É só uma pena isso ter vindo tão tarde.

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