É difícil encontrar um ator cujo "hmm" seja tão memorável quanto o de Brian Tyree Henry. Atlanta, onde ele interpretou o rapper Paper Boi, transformouessa expressão, normalmente acompanhada de um olhar inquisitivo e levemente reprovador, em sua principal arma. Henry, percebemos, não precisa muito de palavras. Seu silêncio já é poderoso. O que Passagem, seu novo filme com Jennifer Lawrence na Apple TV+, entende, é que essa característica deixa os momentos nos quais ele fala ainda mais poderosos, como se seus personagens pesassem cada diálogo contra a alternativa muda, e falassem apenas o que vencesse essa comparação.

Agora com o trabalho concluído em Atlanta — a série criada por Donald Glover chegou ao fim na quarta temporada — Henry, cujos últimos anos também incluíram participações em blockbusters como Eternos, Trem-Bala, Homem-Aranha no Aranhaversoe Coringa, tem tudo para se tornar um rosto frequente em filmes premiados. Seu objetivo maior, porém, é em encontrar os papéis mais variados possíveis.

"Toda santa vez eu penso nisso, porque eu nunca quero ficar preso," ele disse ao Chippu em entrevista. "Eu não quero nunca sentir que eu não estou me dando a chance de mostrar estes homens, estes homens pretos em particular, de formas diferentes, sabe? Teve um ponto na minha carreira que eu fiquei muito nervoso achando que eu ficaria preso na comédia, e eu amo comédia. Ela tem seu lugar. Eu adoro comédia. Mas eu também… há muito mais pra mim, sabe, muito mais sobre quem eu sou."

De fato, Passagem, filme dirigido por Lila Neugebauer no qual Henry interpreta um mecânico que cria uma amizade com a veterana de guerra vivida por Lawrence, um processo através do qual ambos processam e enfrentam seus tramas, está o mais longe possível de comédia. Se em Atlanta suas expressões, caras e bocas geravam risadas, aqui, elas causam lágrimas. Isso não significa, porém, que ele estava insatisfeito como Paperboi. Seu sentimento com a conclusão da série é um de gratidão.

"Eu estou muito feliz com como [Atlanta] terminou," ele afirma. "Eu criei relacionamentos com algumas pessoas que conhecerei pro resto da minha vida. Eu estou feliz que o Alfred [Paper Boi] não precisa mais lutar com policiais ou levar bala. Sabe o que quero dizer? Eu estou feliz que as amizades estão intactas nessa série. E eu estou feliz que a série deixou uma marca duradoura nas pessoas."

Em Passagem, porém, Henry não estava tão distante das risadas. Elas aconteceram por trás das câmeras em suas interações com Lawrence. Se as cenas entre os dois eram temperadas com reflexão e tristeza, suas conversas nos intervalos eram pura alegria. "Bom, nós dois somos idiotas," ele brinca. "Tipo, nós dois apontamos as merdas um do outro, sabe? Nós conversamos sobre os livros que estávamos lendo, porque ela estava lendo o tempo todo. Ou nós falávamos sobre tudo que estava rolando no mundo, o quão louco tudo estava. E, sabe, nós falávamos sobre tudo. Sabe, é comum estar em filmes com grandes estrelas como Jennifer e eles ficam do lado deles e você fica no seu lado aqui, mas nós nunca fizemos isso. Toda vez que havia um corte, estávamos na mesma sala, estávamos conversando, sabe?"

Esses papos podem não ter sido filmados, mas afetaram as atuações dos dois. "Aconteceu uma conexão genuína. E por causa dessa conexão, isso informou como víamos os personagens no filme. Informou o que queríamos que eles tivessem."

Talvez o único relacionamento mais profundo que James, personagem de Henry, tenha no filme é com seu carro, um veículo instantaneamente memorável que vai fazer colecionadores de carros antigos babarem. Segundo o ator, dirigir essa peça foi "incrível. Mas também [causou] muita ansiedade, porque é uma beleza mano. É um clássico, sabe? Eu ficava ‘oh meu Deus.’ Mas também foi muito difícil porque estávamos filmando em Nova Orleans durante o verão, e não tem ar naquilo mano... Foi muito precioso. Toda vez que eu abria a porta ou fechava, eu ia com cuidado e olhava tudo, toda vez que eu me encostava no carro, eu limpava depois. Era como se eu tivesse em posse de uma joia."

Pequenos desafios na rota para conquistar mais e mais papéis de qualidade. Passando por Atlanta e Nove Orleans, Brian Tyree Henry está em rota de ascensão.