Beckett - Crítica do Chippu

Beckett - Crítica do Chippu

John David Washington estrela competente suspense político da Netflix

Guilherme Jacobs
4 de agosto de 2021 - 6 min leitura
Notícias

É raro ver suspenses conspiratórios no século 21. Tão presente nos anos 70, num Estados Unidos pós-JFK e totalmente fora da sombra do patriotismo da Segunda Guerra Mundial, este gênero foi uma das grandes marcas da Nova Hollywood na década, especialmente nas mãos de cineastas como Alan J. Pakula e Sydney Pollack. Eles nos trouxeram histórias sobre homens comuns perdendo a fé nas instituições, descobrindo segredos gigantes e enfrentando, com variados graus de sucesso, o sistema. Hoje, quando os teoristas da conspiração são avatares de ovo falando sobre chips chineses em vacinas e negando o aquecimento global, essas premissas perderam muito do seu charme. Mas vindo na contramão disso está Beckett, o novo longa da Netflix dirigido pelo italiano Ferdinando Cito Filomarino.


John David Washington
(TENET) interpreta o personagem titular, um americano de férias na Grécia com sua namorada, April (Alicia Vikander). Ao ouvirem sobre um protesto resultante do caos político da nação, a dupla decide deixar o hotel onde estão e sofre um acidente na estrada. Beckett sai com alguns ossos quebrados e cortes no corpo, mas sua amada não sobrevive. Antes de desmaiar, entretanto, o protagonista vê um menino ruivo numa casa abandonada. Lugar errado, hora errada.


O que se segue são duas horas de gato e rato, com John David Washington fugindo da polícia - liderada pelo temível Xenakis (um brutal e assustador Panos Koronis) - local para tentar sobreviver e entender exatamente onde se meteu. Essa não é uma história de vingança após a morte da esposa como tantos filmes de ação mostram atualmente, numa de sobrevivência com um especialista em combate corpo-a-corpo ou algo assim. Beckett é um civil comum, sem armas, treinamento ou ajuda numa Grécia logo antes da revolução das redes sociais.


Washington está em praticamente todas as cenas de Beckett e precisa equilibrar o desafio físico de continuar correndo, escalando e se escondendo enquanto usa seu charme para nos manter investidos no personagem, de quem sabemos muito pouco. O trabalho do ator, um dos mais demandados da atualidade (este é o seu terceiro papel num lançamento Netflix em 2021, depois de Malcolm & Marie e Monstro), é excelente e essencial, já que o filme, infelizmente não está muito interessado em revelar mais sobre sua principal figura.


Por que ele quer sobreviver é fácil, todos nós queremos, então a parte de fuga e desespero funciona bem, com Filomarino dirigindo de forma competente o espetáculo e usando a seu favor cada centímetro da Grécia. Beckett não foi filmado num estúdio ou em telas-verdes, e o diretor reconhece isto como uma vantagem para coreografar perseguições e elevar a tensão sem perder a dinâmica visual, contando com a ajuda da fotografia táctil e fílmica de Sayombhu Mukdeeprom, além do design de produção firme de Elliott Hostetter.


Com o tempo, Beckett descobre mais sobre a conspiração na qual se envolveu e é aí que a falta de desenvolvimento aparece. O garoto da casa abandonada é o sobrinho de um político em ascensão e foi sequestrado por ultranacionalistas para tentar acabar com sua candidatura à presidência. Não fica 100% claro por que eles querem matar Beckett (sim, ele viu o menino, mas vai fazer o que? No outro dia a casa já estava vazia novamente), e muito menos por que ele insiste em tentar desvendar esses mistérios. Filomarino deixa implícito uma espécie de culpa de sobrevivente, ou desejo moral de salvar a criança para compensar a morte de April, mas sem entender quem, exatamente, é nosso protagonista, é difícil comprar suas escolhas arriscadas.


Beckett não é uma história real, mas bebe da história recente de desequilíbrio e inquietação na Grécia. Filomarino parece seguir mais a escola otimista de Pollack em Três Dias do Condor, onde o herói pode mesmo fazer a diferença e uma pessoa tem o poder de mudar as coisas, e não o ceticismo de Pakula em A Trama, mas onde aqueles mestres construíram labirintos complexos e engajantes, o cineasta italiano apresenta um roteiro mais previsível. Em determinado momento, Boyd Holbrook (Logan) aparece como um agente americano que praticamente anuncia o envolvimento do governo dos EUA no assunto e, depois, revela toda a verdade com um discurso tão direcionado para o protagonista quanto para a audiência.


Mas a parte política de Beckett ainda é interessante. Filomarino está em seu melhor quando liga a trama com a situação da população grega, aqui representada por fazendeiros, pessoas comuns e a protestante Lena (Vicky Krieps). Somos transportados para o país e a crise política representada na tela é bem construída. Sim, é difícil entender exatamente quais são as sanções e acordos econômicos mencionados, mas o filme transmite bem o espírito da situação e, olhando para os últimos anos no Brasil, é fácil se ver dentro da loucura na qual Beckett se encontra.


Nota: 3/5

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