Barbenheimer é um sucesso: O que Hollywood vai aprender com Barbie e Oppenheimer?

Barbenheimer é um sucesso: O que Hollywood vai aprender com Barbie e Oppenheimer?

Ambos Barbie e Oppenheimer são hits com críticos, fãs e bilheteria. Hollywood precisa entender por que

Guilherme Jacobs
24 de julho de 2023 - 7 min leitura
Notícias

Hollywood é expert em entender as lições erradas. Ontem, um tweet meu reagindo ao sucesso de bilheteria de Barbie e Oppenheimer viralizou. Nele, eu ofereço duas possíveis conclusões que a indústria do cinema americano pode tirar do fenômeno Barbenheimer.

"Barbie e Oppenheimer são um sucesso. Opção 1; Hollywood entende que as pessoas querem filmes diferentes, blockbusters com ideias e menos continuações reboots. Opção 2; Hollywood entende que as pessoas querem filmes de brinquedos e cinebiografias de cientistas.

O que vai rolar?"

O Twitter sendo o que é, várias pessoas fizeram questão de discordar, afirmando que é só marketing, ou que o cinema vai morrer, e por aí vai. A maioria, porém, entendeu a ironia do exercício e rapidamente apontou para a Opção 2. Não é preciso ter uma imaginação muito fértil para enxergar um futuro onde cinebiografias longas de Albert Einstein e adaptações live-actions de Polly Pocket estreiam no mesmo ano — a Mattel já está andando nessa direção.

A razão é simples. Hollywood é expert em entender as lições erradas. Como o escritor Mark Harris, autor de diversos livros sobre cinema, apontou, os sucessos sempre são mais prejudiciais do que os fracassos em Hollywood. Pense comigo. Desde que Os Vingadores firmou de vez o sucesso do Universo Compartilhado da Marvel em 2012, quantos universos compartilhados tivemos? A DC Comics fez o seu, com altos e baixos. A Legendary inventou um "Monterverso" com Godzilla e King Kong, e todo demônio que o casal Warren enfrentou em Invocação do Mal ganhou seu filme próprio. Não podemos esquecer, porém, do lendário Dark Universe da Universal, no qual Tom Cruise enfrentaria Drácula, Frankenstein, Homem Invisível e outros monstros clássicos num projeto que nunca foi pra frente.

Olhe para tempos recentes, e você verá inúmeros filmes de multiverso. Quantos você consegue contar de 2020 pra cá? É sempre assim. Os executivos que agora se recusam a negociar de forma justa com atores e roteiristas olham para um hit e decidem que, se aquilo fez sucesso, é por que as pessoas querem aquilo. Multiversos, spinoffs, heróis, brinquedos.

Você pode até estar pensando: eu gosto de filmes do Godzilla, Invocação do Mal e Aranhaverso. Não se preocupe. Eu também. A questão, porém, não essa. O problema é como os produtores da indústria interpretam feitos de bilheteria como o que vimos no último fim de semana. Ao invés de servir de inspiração, esses momentos passam a ser coisas a ser replicadas através da imitação.

Volto para Harris. Num excelente thread sobre Barbenheimer, ele disse que o sucesso dos filmes veio porque eles oferecem para a audiência algo que não viram, e não algo que já existe. O trabalho publicitário, a forma como a internet abraçou a ideia de dois filmes diferentes no mesmo dia e especialmente o talento envolvido em ambos Barbie e Oppenheimer são fatores indispensáveis nessa equação, mas a importância do ineditismo em tempos de mesmice não pode ser subestimada. Especialmente considerando como diversos filmes de heróis — a maior constância em Hollywood há duas décadas — estão cada vez mais sofrendo para se pagar com bilheteria (The Flash, Homem-Formiga, Shazam, Adão Negro).

Não podemos fugir da realidade. Hollywood nunca vai parar de usar marcas, franquias e blockbusters como principal fonte de combustível, mas Barbie e Oppenheimer mostram que há espaço para criatividade dentro disso, e espaço para coisas diferentes também. Eles não são apenas máquinas de dinheiro, seu sucesso se estende à comunidade de críticos e ao grande público.

Barbie é sim um filme de boneca cujo principal alvo é elevar a marca e garantir um retorno financeiro enorme, preferencialmente movendo mais vendas de brinquedos. Ele, porém, é feito por uma diretora com ideias em mente sobre temas como identidade e morte, e Greta Gerwig teve liberdade o suficiente para incluir isso tudo num roteiro que, em outras mãos, poderia ter sido só Margot Robbie fazendo compras. O resultado é um filme que, mesmo sendo parte "do sistema," vai além do fanservice e das piadinhas para tentar dizer algo. Você pode até não gostar do resultado, mas qualquer espectador sério percebe a diferença entre isso e o décimo Velozes e Furiosos (outro título cuja bilheteria não alcançou o esperado).

Oppenheimer é tão importante quanto. Christopher Nolan é, de fato, uma exceção. Nenhum outro diretor tem, atualmente, a liberdade para fazer qualquer projeto com os recursos, elenco e distribuição vistos em seus longas-metragens. Mas ele não precisa ser. Nomes como Denis VIlleneuve e Jordan Peele estão aí, lançando blockbusters capazes tanto de se conectar com um grande público quanto de nos engajarem em debates intelectuais, emocionais e críticos. Seus próximos filmes serão tratados pelos seus estúdios como grandes eventos? No caso de Duna: Parte Dois, de Villeneuve, provavelmente. A própria Universal de Oppenheimer, porém, deixou Não, Não Olhe! quase às moscas ano passado, e se não fosse o nome de Peele, seu arrecadamento não teria sido tão bom. O próximo pode não ter a mesma sorte.

Não é uma lógica difícil de seguir. O público recompensa bons filmes acompanhados de bom marketing, diretores autorais cujo trabalho também agrada e diverte e criatividade em meio às cópias infinitas das mesmas fórmulas. Nem tudo precisa ser uma continuação, nem tudo precisa repetir formatos conhecidos, nem tudo precisa ser feito do jeito menos desafiador e mais palatável possível.

Continuaremos tendo filmes de heróis e de marcas. Mas Barbie e Oppenheimer provam não só que eles podem ser mais diferentes do que têm sido, como também mostram que eles não precisam ser a única coisa em cartaz. Há espaço para mais. Isso sempre foi verdade em Hollywood.

Infelizmente, porém, não é difícil imaginar outros estúdios tentando repetir Barbenheimer do jeito errado. Vai surpreender alguém se, um dia, a Disney lançar um live-action de Toy Story ao lado de uma biografia do presidente americano Ike Eisenhower da Paramount, no mesmo dia, e ambos filmes fracassarem? É claro que não. Hollywood é expert em entender as lições erradas.

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