WandaVision: Episódios 1 e 2 - Crítica do Chippu

WandaVision: Episódios 1 e 2 - Crítica do Chippu

A primeira série da Marvel Studios está aqui. Qual é a primeira impressão?

Guilherme Jacobs
15 de janeiro de 2021 - 7 min leitura
Crítica

Esse texto contém spoilers de WandaVision


Antes mesmo de terminar a já conhecida vinheta do Marvel Studios, WandaVision muda as coisas. A resolução vai para 4:3. As cores desparecem e o preto e branco dominam a tela. Então, sem mais nem menos, entramos numa espécie de sitcom dos 60 e 70 da televisão americana, com Wanda (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) indo viver a típica vida cliché das famílias de classe média dos subúrbios dos EUA. Desde o primeiro minuto há referências ao Dick Van Dyke Show, à Feiticeira e outros nomes conhecidos da época. Nada de Vingadores ou Joias do Infinito.


Isso é o jeito da Marvel dizer: "vocês vão assistir qualquer coisa. Depois de Ultimato, nós ganhamos o direito de expandir nosso universo como bem quisermos." E olhe, eles estão certos. Aqui estamos prontos para encarar o produto mais diferente que Kevin Feige e companhia - agora totalmente envolvidos nas produções de televisão (ao contrário das séries da Netflix, o que explica a presença da já mencionada vinheta do Marvel Studios) - já fizeram. Não dá pra dizer que eles não ganharam o direito de esticar seus músculos criativos, e aqui eles contam com a direção Matt Shakman e o roteiro de Jac Schaeffer para tal.


A maior surpresa de WandaVision nesse início? Ele é uma sitcom divertida. Os poderes dos personagens são bem aplicados à comédia, os atores principais e coadjuvantes estão comprometidos com a piada e a duração dos episódios (o primeiro com 23 minutos e o segundo com 30, descontando créditos) significa que nada é longo demais ao ponto de acabar com nossa paciência. É verdade que o que vemos, às vezes, é engraçado de um jeito besta, mas assim eram as séries da época. Com isso, entretanto, eu não quero dizer que a Marvel está humilhando Dick Van Dyke. Há coração aqui. Há uma clara paixão por esse tipo de televisão. Na verdade, é uma bela sacada que a primeira grande tentativa do estúdio de criar algo para TV seja uma homenagem ao próprio meio televisivo. WandaVision tem cenas e momentos genuinamente lúdicos e o resultado é algo prazeroso de ser assistido.


Grande parte disso vem da belíssima atuação de Paul Bettany, que se entrega totalmente ao papel de homem atrapalhado e meio avoado. Bettany mostra ter um dom para comédias de sitcom tão presente em cada um dos seus movimentos (notem o quanto ele atua com o corpo, postura, olhar) que é fácil imaginá-lo como o colega engraçado do trabalho de algum protagonista de séries semelhantes lá nos 70. É essa entrega sem reservas que nos ajuda a comprar a ideia de WandaVision. Sem a participação dos atores com tanta dedicação, a paródia não funcionária e a ilusão se quebraria diante dos nossos olhos.


Falando em ilusões, Elizabeth Olsen também faz um bom trabalho com sua atuação, mesmo que não tenha o mesmo toque cômico de seu parceiro da cena. Parte disso é proposital. Vamos falar com mais detalhes de teorias já já, mas está claro que Wanda sabe que essa realidade onde ela está não é verdadeira. Há algo errado com o mundo ao seu redor, e podemos ver isso na própria personagem. Por trás dos seus olhos há uma incerteza, uma suspeita ou talvez até mesmo um reconhecimento (já que é inteiramente possível que ela tenha criado a realidade). E cada vez que algo aponta para essa verdade, Olsen comunica bem a perturbação interna que existe na heroína, logo antes de engolir esse medo para voltar à sua vida perfeita.


Nos dois primeiros episódios - simplesmente batizados de Episódio 1 e 2, e lançados juntos no Disney+ - isso acontece através de uma voz no rádio perguntando quem está fazendo isso com Wanda e de um helicóptero de brinquedo da S.W.O.R.D aparecendo em seu jardim (um objeto colorido no mundo, até então, preto e branco, indicando sua origem de fora desta realidade). A S.W.O.R.D deve ter um papel importante na história, já que na conclusão da estreia vemos uma pessoa associada à agência anotando tudo que acontece dentro da "série" onde Wanda e Visão existem agora. Monica Rambeau (Teyonah Parris), filha da ex-colega de força aérea de Carol Danvers, está no elenco de personagens, mas se apresenta com outro nome (Geraldine), o que é no mínimo curioso.


WandaVision ainda não revelou todas as suas cartas. Mas temos tempo para isso. Eu acredito que Shakman e Schaeffer estejam cientes de que a piada da série ser uma sitcom não pode durar para sempre - evidenciado pelo fato da dupla já introduzir cor ao mundo na conclusão do segundo capítulo - e as respostas (ou pelo menos pistas mais concretas) vão começar a surgir em breve. Espero que isso não demore muito, porque eventualmente os truques não serão mais suficientes, nem para nós e nem para os protagonistas.


Especulação da semana:
Vamos começar com o básico. O que é essa realidade onde Wanda e Visão estão? A escolha óbvia é que é uma criação dos poderes dela, mas será que há algo mais profundo e sombrio por trás? Alguém a influenciou ou isso é produto do luto dela?

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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