
Venom: Tempo de Carnificina - Crítica do Chippu
Uma comédia romântica verdadeiramente ridícula

Crítica
Há algumas semanas, o diretor de Venom: Tempo de Carnificina, Andy Serkis, descreveu o filme como uma comédia romântica, apresentando Eddie Brock (Tom Hardy) e Venom (também Tom Hardy) como um casal num relacionamento em crise, precisando se entender. A descrição é bizarramente apropriada. Claro, não há um verdadeiro romance em cena, mas essas são as ferramentas usadas para continuar a história do primeiro longa-metragem nesta sequência tão bagunçada e defeituosa quanto o original, mas com a mesma dose de diversão e risadas.
Não entenda errado, Venom 2, tal qual o primeiro, não é exatamente um bom filme. Seu roteiro tem enormes pulos de lógica, diversos personagens não passam de uma leitura rasa e há atuações genuinamente terríveis. Mas é fácil imaginar alguém assistindo a esta bizarra criação da era de super-heróis nos cinemas com um grupo de amigos e se divertindo como em qualquer outra comédia ridícula do século 21. Tom Hardy parece estar ciente disso, mais uma vez se entregando totalmente ao papel Shakespeariano de um homem em conflito com sua própria consciência, aqui representada pelo parceiro simbiótico alienígena Venom, cuja vontade de comer cérebros só não supera o amor por galinhas compradas por Eddie como alimento, mas depois transformadas em animais de estimação.
Venom e Eddie são, de longe, a melhor coisa do filme. Na verdade, talvez a dupla seja a única coisa genuinamente eficaz de toda a obra, em enorme razão por conta do compromisso de Hardy. O ator teve conflitos com o diretor do primeiro Venom por querer brincar mais, improvisar cenas e realmente se entregar ao ridículo. Com Serkis, ele encontrou alguém na mesma linha de pensamento, incentivando o uso de comédia física, de colocar o próprio corpo para se movimentar, se deixando levar pela energia cinética do absurdo. Hardy está totalmente ciente. Ele sabe que tipo de filme está fazendo e, dentro do proposto, sua atuação alcança e cumpre todos seus objetivos.
Agora, remova Venom da tela, e a situação piora rapidamente. Tempo de Carnificina apresenta Cletus Kasady (Woody Harrelson) e sua amante, Shriek (Naomie Harris) como adversários para Eddie Brock. Kasady está prestes a ser executado quando entra em contato com a simbionte do jornalista e desenvolve seu próprio alienígena, enquanto Shriek foi separada do seu amor por ter poderes (nunca explicados) e trancada no instituto Ravencroft. Harrelson atua sem muito esforço, simplesmente ligando a mesma energia vista em tantas performances ao longo de sua carreira; desequilibrado, cômico e levemente assustador. Aqui, entretanto, ele parece não acreditar no personagem e só segue o fluir do papel sem adicionar um tempero extra. Harris, por sua vez, apresenta a pior atuação da carreira. O texto é péssimo, para ser justo, mas a atuação intensa, em particular com uma escolha de voz bizarra, jogam qualquer potencial pelo esgoto.
Carnificina quer matar Venom, por razões não muito explicadas, e os combates são simplesmente uma festa de efeitos especiais confusos com cenas de ação fracas e sem identidade. A classificação indicativa para adolescentes também segura muito o potencial visceral desses personagens, colocando qualquer ataque mais sangrento fora de cogitação e impedindo Serkis e companhia de realmente se soltar nas lutas como fazem na comédia.
Em muitas partes de Venom 2, você vai rir do filme. De suas escolhas bizarras, falta de desenvolvimento e atuações genuinamente ruins. Entretanto, o maior erro é não usar ainda mais Eddie e Venom, pois é nessa dinâmica que rimos com o filme. Como boa comédia romântica, durante boa parte da história, a dupla se separa antes de sua eventual reunião depois de um pedido de desculpas (e há uma sacada genuinamente legal nesse momento). As cenas com Venom ainda funcionam pela natureza peixe-fora-d’água da criatura extraterrestre, mas Brock como personagem não é carismático ou interessante o suficiente para nos segurar. Junte os dois, porém, e ali está a receita do sucesso. Ou pelo menos de algo engraçado.
Nota: 2/5

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