
Um Lugar Silencioso: Dia Um opta pelo simples e tem ótimos resultados
Lupita Nyong'o e Joseph Quinn protagonizam filme mais bem atuado da franquia

Crítica
No papel, Um Lugar Silencioso: Dia Um é tudo que há de errado em Hollywood. Um filme cuja existência vem, primariamente, porque o criador da franquia, John Krasinski, preferiu dirigir Amigos Imaginários antes da eventual Parte III da saga, sua conexão com os dois longas anteriores (ou seria posteriores, já que esse é um prequel) é mínima e sua premissa — o dia da chegada dos alienígenas — foi explorada de forma eficaz e econômica na sequência de abertura da Parte II, a melhor parte de um filme esquecível.
Na prática, a decisão do diretor e roteirista Michael Sarnoski de ignorar, digamos, as salas de comandos, operações militares e escritórios de políticos tipicamente vistas em filmes de desastre ou de invasão extra-terrestre salva o que poderia ser só um tapa-buraco no calendário da Paramount Pictures. Na verdade, com a ajuda valiosa de Lupita Nyong'o e Joseph Quinn, o diretor de Pig: A Vingança constrói um filme que opta pelo simples, e que na falta do espetáculo presente na direção de Krasinski, constrói o trabalho mais humano dos três filmes até aqui.
Nyong'o e Quinn interpretam Samira e Eric, presos na ilha de Manhattan quando os meteoros que trazem as criaturas à Terra furam as núvens e começam o caos que forçará a humanidade (ou o que sobra dela) a viver no mudo para sobreviver. Você já conhece o esquema: faça barulho demais, e os monstros atacarão com força e violência. Sua melhor aposta é colocar algum corpo de água entre você e ele, já que eles não sabem nadar e se afogam facilmente. Sarnoski merece crédito por economizar o tempo gasto nessa exposição. A audiência já sabe tudo isso, e seu filme não demora em atualizar os personagens. Assim, podemos partir logo em direção ao que importa.
E o que importa, aqui, é a oportunidade da desiludida Samira de reconectar com seu passado nova-iorquino ao passear pelas ruas onde cresceu (e quem sabe arranjar uma fatia de sua pizza favorita) pelo que pode ser a última vez, enquanto Eric, um estudante de direito vindo do Reino Unido, é apresentado à cidade já com uma paisagem distópica. Acompanhados pelo gato da mulher, Frodo, que confere ao filme suas únicas, e bem-vindas, dose de humor, os dois não descobrem o que os alienígenas vieram fazer aqui, não se vêem no centro da invasão e tampouco protagonizam a salvação do planeta.
Sarnoski não está interessado em jogar pelas regras da construção de franquias. Trocando o macro pelo micro, e encenando as horas iniciais do fim do mundo com precisão suficiente para calar qualquer sala de cinema, ele volta seus olhos para a capacidade dos humanos de criar relacionamentos significativos na hora do perigo, e como até mesmo o apocalipse pode ser uma oportunidade para nos reconectarmos com nossa inspiração e sentir novamente o gosto da vida.
Uma das melhores e menos aproveitadas atrizes de sua geração, Nyong'o aproveita isso muito bem no papel de uma mulher repleta de acidez por conta do tempo que lhe foi roubado, e como fez em 12 Anos de Escravidão e Nós, provê um espetáuclo maior do que qualquer explosão com seus olhos perpetuamente arregalados. Ela encontra um parceiro de cena mais do que capaz em Quinn, que ajuda o filme a sobreviver os poucos momentos no qual o texto de Sarnoski parece demais com o texto de Krasinski (que escreveu o roteiro junto do diretor).
Dia Um, diferente dos filmes anteriores de Um Lugar Silencioso, presa por uma caracterização mais honesta e profunda, dispensando os arquétipos da família nuclear em favor da sutileza invidual de Samira e Eric. Vez por outra, contudo, Krasinski parece querer tomar o volante e leva o filme ao melodramático, onde o trabalho emocional fica piegas e, por tabela, distoa da direção contida de Sarnoski.
Isso, contudo, não é suficiente para estragar a ótima experiência, onde a tensão dá lugar ao lamento pela tragédia afetando pessoas com quem nos importamos. Nas mãos desses atores, e com os pequenos mas valiosos momentos que passamos ao lado de Alex Wolff, Michael Sarnoski faz de Um Lugar Silencioso: Dia Um não só uma adição valiosa à franquia, como também algo do qual Krasinski pode tirar valiosas lições para fechar sua trilogia.

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