
Sundance: Emilia Clarke troca de ovos de dragões por ovos humanos no curioso The Pod Generation
Sátira de coaching, inteligência artificial e cultura de gestação, filme de Sophie Barthes se salva pelas atuações de Clarke e Chiwetel Ejiofor

Crítica
FESTIVAL DE SUNDANCE: Esqueçam os ovos de dragões. Em The Pod Generation, Emilia Clarke não está ocupada chocando criaturas fantasiosas para queimar reinos inteiros, mas sim se preparando para receber seu primeiro filho… através de ovos futuristas. Interpretando Rachel, uma executiva de sucesso numa firma que gerencia influencers (sim, aparentemente eles ainda estarão aqui em 50 anos), ela sonha, literalmente, em ser mãe. Eventualmente, Rachel recebe a oportunidade de receber um pod e, depois, um bebê.
Em formato de ovo, essa tecnologia — fabricada pela Womb, outra subsidiária da mega corporação que emprega a mulher — promete cuidar de “todas as partes difíceis” da gestação; sem barriga pesada, pele esticada ou hormônios explosivos. Se a mãe estiver cansada, pode deixá-lo na incubadora. Não sabe o que fazer? Basta consultar uma das diversas inteligências artificiais disponíveis para quem pode pagar.
Só há um problema. Seu marido, o botânico Alvy (Chiwetel Ejiofor) é totalmente contra os avanços tecnológicos desenfreados da sociedade. Enquanto a maioria está satisfeita com árvores de holograma, ele é um homem da terra, alguém que vê valor na natureza e nos seus processos, não importa o quão pouco otimizados eles sejam aos olhos de quem resolve tudo com um app.
Dirigido e escrito por Sophie Barthes, The Pod Generation é uma inteligente, mas rasa, sátira do nosso cotidiano cada vez mais dependente de software, I.A. e coaching que usa a cultura de gestação para pintar uma das figuras mais realistas de onde estaremos em 50 anos. Essa, afinal, área tão repleta de supostos especialistas com trazendo novas técnicas quanto de comentaristas políticos com opiniões complicadas.
Das casas inteligentes às sessões de terapia com assistentes virtuais, passando por salas recriando paraísos com realidade aumentada e versões literais do grande olho do big brother por todo lado, o design de produção de Clem Price Thomas ajuda a firmar esse mundo pastel que exagera cada vício moderno numa realidade palpável. A Nova York do filme é digna de comédia, mas quando o humor passa precisamos encarar algo assustadoramente reconhecível.
Infelizmente, o silenciar das risadas revela os limites baixos dessa paródia sobre como nossa cultura está focada em aprimorar cada canto do cotidiano com algoritmos e automação. Se não fossem as atuações profundamente carismáticas de Clarke e Ejiofor, o filme não conseguiria nos agarrar emocionalmente. As piadas (e o drama) do roteiro de Barthes se satisfazem com as mais básicas analogias, e enquanto alguns conceitos são perversamente criativos, tudo acaba se provando básico e repetitivo.
Sobra a conexão com os dois protagonistas, e os melhores momentos de The Pod Generation vêm quando estamos com os dois (e seu ovo tecnológico) em casa. Ele, normalmente alérgico a qualquer coisa feita de fios e plástico, começa a se apegar ao útero artificial, e ela, totalmente inserida nesse mundo avançado, descobre que alguns dilemas da maternidade não somem com a ausência da barriga.
Novamente, nada é desdobrado além do feijão com arroz, mas Clarke e Ejiofor empurram os personagens para além de suas concepções iniciais. Os papéis nunca se tornam profundos ou intrigantes, mas a química entre os dois, e a maneira com a qual eles elevam situações óbvias e diálogos pouco inspirados, deixa a dinâmica do relacionamento interessante o suficiente para suprir a falta de nutrientes da sátira.
2.5/5

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