The Last of Us: Primeiro episódio é versão expandida em estilo HBO do jogo de PlayStation - Crítica Com Spoilers

The Last of Us: Primeiro episódio é versão expandida em estilo HBO do jogo de PlayStation - Crítica Com Spoilers

Com duração de filme, episódio de abertura traz a dramática introdução da história de Joel e Ellie

Bruno Silva
16 de janeiro de 2023 - 6 min leitura
Crítica

Uma das críticas mais comuns a adaptações ruins de jogos para cinema ou TV — e não faltam exemplos nos últimos anos — é a falta de fidelidade ao material original. Mas, mais do que simplesmente transpor elementos de uma mídia do que outra, essa palavra, no seu sentido mais simples, significa demonstrar zelo e respeito. No melhor estilo de quem quer atrair um zumbi a uma armadilha, a série de The Last of Us usa a fidelidade como isca em sua estreia na HBO.

Com a duração de um longa-metragem, o primeiro episódio da produção avança de forma didática pelo quebra-cabeças trágico que coloca os protagonistas Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) em uma jornada improvável através de um continente norte-americano devastado por uma infecção fungal que acabou com a civilização como a conhecemos. As frases, o desenrolar das situações e até mesmo vários enquadramentos de câmera são diretamente transpostos do jogo de PlayStation.

Mas, se tudo é igual a obra original, então por que adaptá-la para uma nova mídia?

Quem pensou na opção “ganhar dinheiro” acertou, mas a questão também é abordada de forma satisfatória pela produção de um ponto de vista criativo. Aliás, poucas pessoas poderiam ter mais cacife para respondê-la do que os envolvidos na série de The Last of Us, que conta com uma luxuosa colaboração no topo de sua cadeia de comando, em que o criador de Chernobyl, Craig Mazin, se alia ao próprio roteirista e diretor criativo do game, Neil Druckmann.

Tal qual um jogo em que há caminhos ramificados que levam ao mesmo destino, The Last of Us da HBO parece tomar rotas alternativas para conectar as cenas emblemáticas de sua obra original. Essa rota nova, no entanto, serve a um único propósito: contar a história da melhor forma possível como uma série.

O que não faz sentido dá lugar ao inédito, sempre a serviço da narrativa. Essa necessidade é exposta já na abertura do primeiro episódio, que simula um programa de auditório dos anos 1960 para explicar, até mesmo para uma humanidade que viveu na pele uma pandemia, o quão perigosa é a ameaça do fungo cordyceps.



Em ritmo agonizante, a série de The Last of Us vai contando, aos poucos, eventos do fatídico dia do surto, que marcam o início da transmissão do cordyceps em escala global e também trazem a perda fatídica que marca a vida de Joel. De forma inteligente, 2013 dá lugar a 2003 e a série age como “versão estendida” do jogo, dando um contexto especial para eventos já conhecidos por meio da história original. Um bom exemplo é a saga de Sarah (Nico Parker) para consertar o relógio do pai e entregá-lo como um presente de aniversário.

Desprovida da característica interativa que tanto importava para contar os momentos de impacto no jogo, The Last of Us (a série) dobra a aposta em linguagens cinematográficas que a obra original, por decisão criativa, evitou utilizar. Isso é visto especialmente no primeiro contato de Sarah com seus vizinhos, já infectados, que servem para dar a quem assiste a sensação de perigo iminente.

Essa expansão necessária e importante é uma das responsáveis por alargar o episódio de estreia de The Last of Us, mas o principal responsável é o fato de a produção querer, já de cara, conectar os momentos iniciais da história com o momento em que Joel e Ellie se conhecem.

Não fazia sentido encerrar o episódio antes de colocar os dois protagonistas cara a cara, estabelecendo de forma muito clara os conflitos a serem explorados nesta temporada. Este é um dos principais responsáveis por esta estreia da série ser tão longa, mas, de forma satisfatória, o “terceiro ato” acelera o passo e elimina o que, no jogo, era representado por tiroteios e confrontos desnecessários, sem deixar de lado todo o contexto sobre como é o mundo 20 anos após o cordyceps tomar conta e apresentar os demais personagens do elenco, como Tess (Anna Torv) e Marlene (Merle Dandridge).

Existe uma grande chance de que The Last of Us da HBO seja exaltada como uma das maiores adaptações hollywoodianas de jogos de todos os tempos. É bem provável, até, que comparativos de cenas da série com o jogo, com os frames lado a lado, sejam usados como exemplo para sustentar essa tese. Mas o verdadeiro motivo pelo qual todas essas teses podem se comprovar como realidade está nas entrelinhas, na área cinzenta com a qual a produção trabalha para enriquecer ainda mais uma das histórias mais tocantes que o videogame já produziu.

Nota da Crítica
Bruno Silva

0h 0min
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