The Boys se acovardou em finale anticlimático e redundante

The Boys se acovardou em finale anticlimático e redundante

Conclusão da terceira temporada foi redundante e sem consequências

Guilherme Jacobs
8 de julho de 2022 - 7 min leitura
Crítica

O texto abaixo contém spoilers da terceira temporada de The Boys


The Boys
nunca foi uma série perfeita, mas se há uma crítica inadequada para a série de Eric Kripke no Prime Video, é chamá-la de medrosa. Por isso, a conclusão da terceira temporada com o confronto final entre Soldier Boy (Jensen Ackles) e Capitão Pátria (Anthony Starr) foi tão frustrante e anticlimática. Pela primeira vez, os roteiristas pareceram hesitar. Diante de um beco sem saída criado simplesmente por boa construção narrativa - aumentando cada vez mais os riscos e desafiando os personagens em situações inesperadas - a escolha foi de dar ré e não bater a cabeça na parede de forma corajosa. Terminamos, basicamente, onde começamos.


Sim, algumas peças se moveram. Capitão Pátria assumiu totalmente sua posição neonazista numa última cena perturbadora e assustadoramente real, ver Victoria Neuman (Claida Doumit) assumindo o posto de vice-presidente mostrou como qualquer esperança depositada em políticos é esperança desperdiçada, e Meave (Dominique McElligott) saiu do jogo ao perder os poderes se sacrificando para que a explosão de Soldier Boy não destruísse a Torre da Vought.


Mas Meave é um ótimo exemplo dos problemas desse episódio. Primeiro, seu sacrífico é uma das sequências mal dirigidos em termos de ação no capítulo. A troca de olhares brega com Annie (Erin Moriarty), a decisão de segurar Soldier Boy e pular com ele ao invés de... você sabe, usar superforça para empurrá-lo e a troca de socos cheia de cortes e cansativa. Pior, porém, é o roteiro trata a situação. Mesmo não fazendo muito sentido, o momento ainda deveria significar algo. Contudo, duas cenas depois, descobrimos que ela recebeu um final feliz, esta sem poderes e agora pode viver longe do Capitão Pátria e Vought. Talvez a personagem mereça isso por conta dos sofrimentos pelos quais ela já passou, mas dentro desse finale, a ideia não é bem construída e preparada, nem o caminho para chegar nela. Para piorar, nem Soldier Boy morreu com a explosão. Ele está de volta ao tanque. As duas peças não foram removidas do jogo, só vão passar um tempo no banco de reserva.


Essa sensação de "muito barulho por nada" não existe apenas em Meave. O que, exatamente, mudou em relação ao começo do ano? Certo Black Noir (Nathan Mitchell) morreu, mas qual foi sua grande contribuição nesses episódios? Por outro lado, Trem-Bala (Jessie T. Usher) e Profundo (Chance Crawford) continuam lá, vivos e sem propósito além de... alívio cômico? O que elevou The Boys a outro nível nas últimas semanas foi a sensação de que tudo era possível, com o Herogasm nos oferecendo um vislumbre da mortalidade até mesmo de Capitão Pátria, mas o finale decidiu tirar o pé do acelerador e até retroceder para garantir a existência da quarta temporada.


Isso ficou claro no embate contra Capitão Pátria. Bruto (Karl Urban) decidir proteger o filho de sua esposa é compreensível, Annie querer salvar os inocentes também é digno de admiração, mas nenhuma dessas atitudes foi tão bem justificada no texto da série quanto o plano de matar o homem mais perigoso do planeta. Como a cena mostrou, cada momento vivo deixa o personagem de Anthony Starr mais e mais poderoso. Se Kripke e equipe decidem que é necessário adicionar mais obstáculos no caminho para eliminá-lo, então eles precisam justificar isso muito bem. Não aconteceu. Se a ideia era colocar Bruto vs. Soldier Boy e Meave vs. Pátria, por que não simplesmente aliar os dois racistas pelo laço de pai-e-filho recém-revelado? Por que complicar tudo com a presença de Ryan (Cameron Crovetti) e forçar os outros personagens a mudarem, de última hora, suas alianças?


Isso é, em parte, consequência da construção fantástica de Capitão Pátria como vilão e da atuação impressionante de Starr nessa temporada, sua presença em tela tira qualquer possibilidade de segurança. Basta vê-lo sorrir ou fechar a cara para termos um nó na garganta, um frio no estômago e sermos paralisados pelo medo. Terminar, então, a batalha climática contra ele com Soldier Boy em coma novamente, Meave sem poderes e sem grandes consequências é frustrante e decepcionante. A chance estava ali. Por que os personagens não aproveitaram? A resposta para essa pergunta precisa ser tão realista quanto a alternativa de jogar tudo contra ele.


Há coisas para elogiar nesse último episódio. Já mencionamos a cena de encerramento, e também é preciso reconhecer como Leitinho (Laz Alonso) e Frenchie (Tomer Capone) se emanciparam da liderança incompetetente de Bruto, mas é difícil não sentir como se tivéssemos caído num blefe. Talvez essa pudesse ter sido a última temporada. Talvez essa deveria ter sido a última temporada, para que Kripke e companhia realmente tivessem liberdade de tomar as decisões mais arriscadas e ousadas possíveis. Mas independente disso, The Boys representava o melhor tipo de abordagem para uma série de TV. Ela contava sua história, se colocava em posições difíceis e encontrava soluções criativas, sem cair no erro de "guardar" a narrativa para o futuro. As coisas aconteciam. Se isso significasse, aqui, destruir a Vought, eleger Soldier Boy como o novo grande vilão e até matar Capitão Pátria, que seja. A série já tem nossa confiança. Dessa vez, porém, eles se acovardaram. Agora, como podemos acreditar em suas promessas?


A "frase" dessa temporada - dita por Bruto e Pátria e usada em todo o marketing - era "scorched earth." Terra arrasada. Queimada. Onde nada mais cresce. Uma expressão que significa não poupar nada. Deixar tudo no campo de batalha. O finale, apesar de ter bons momentos, não cumpriu isso.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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