Ted Lasso caminha pro apito final com terceira temporada reflexiva - Primeiras Impressões

Ted Lasso caminha pro apito final com terceira temporada reflexiva - Primeiras Impressões

Enquanto Coach Lasso se pergunta por que ainda está à frente do AFC Richmond, série da Apple TV+ questiona se chegou a hora de terminar

Guilherme Jacobs
10 de março de 2023 - 6 min leitura
Crítica

No primeiro episódio da terceira temporada de Ted Lasso, o gentil técnico de futebol que dá nome à série da Apple TV+ se pergunta: "por que eu ainda estou aqui?" Por que, após dois anos treinando uma equipe profissional de um esporte que ele ainda sofre para entender, ele continua na Inglaterra, longe de seu filho e de sua terra natal? Enquanto o personagem de Jason Sudeikis levanta o questionamento, a história por ele protagonizada expressa a mesma dúvida. Talvez, ambos parecem considerar, seja hora de acabar.

Não é segredo que a terceira temporada de Ted Lasso encerrará, de alguma forma, a história. Talvez ainda haja spinoffs, talvez ainda retornemos ao AFC Richmond ou encontremos Coach Lasso de outros jeitos, mas a história pensada pelos criadores Sudeikis, Bill Lawrence, Brendan Hunt e Joe Kelly acaba aqui, e o texto reflete isso.

A nova temporada encontra Lasso, seus assistentes Beard (Hunt) e Roy Kent (Brett Goldstein), de volta à Premier League, primeira divisão do futebol inglês. O time formado por Jamie Tartt (Phil Dunster), Sam Obisanya (Toheeb Jimoh), Isaac McAdoo (Kola Bokinni), Dani Rojas (Cristo Fernández) e outros é, de maneira unânime, cotado para ficar com a lanterna do campeonato e ser rebaixado novamente, enquanto o rival West Ham United, agora comandado por Nate "The Wonder Kid" Shelly (Nick Mohammed) tem tudo para ficar no topo da tabela e, quem sabe, até sonhar com título.

Com base nos primeiros quatro episódios da temporada, que terá 12 ao total, a autoanálise é bem vinda. Não me entenda errado. Ted Lasso permanece um banho refrescante em meio ao deserto de séries sombrias e de um mundo ainda mais deprimente. Sudeikis, Hunt e Goldstein, em particular, seguem sendo hilários e acessíveis de uma maneira milagrosamente nada irritante, e seus personagens, quando em tela, são lembretes frequentes de como essa série se tornou o fenômeno mundial tão desejado pela Apple. Mas, se for possível deixar o humor de lado por um segundo, a reflexão sobre as razões para continuar é bem-vinda.

Alguns personagens, como a dona do clube, Rebecca (Hannah Waddingham) e sua melhor amiga, Keely Jones (Juno Temple), que deixou o cargo de assessora do clube para criar uma firma de PR, não parecem ter saído do lugar em relação à temporada passada, com a primeira vivendo em função de frustrar seu ex-marido (agora dono do West Ham), e a outra numa jornada de desventuras para se provar como uma profissional de sucesso. Temple, e especialmente Waddingham, ainda impedem as cenas das coadjuvantes de estarem vazias, mas o propósito de seus arcos, no roteiro, parece inexistente, e alguns dilemas antigos ressurgem para dar as duas algo para fazer.

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Isso, novamente, nos leva de volta a Ted Lasso. O simpático técnico, de fato, está ficando sem desculpas para justificar sua permanência no Richmond, especialmente agora que o clube voltou para a Premier League e enfrentará adversários de alto nível. A série usa um deus ex machina para evitar repetir o drama de rebaixamento da primeira temporada (não podemos falar mais, mas fãs de futebol reconhecerão imediatamente a piada em relação ao personagem de Maximilian Osinski), mas a questão não é a capacidade de Ted de levantar, ou não, o troféu. Depois de seus avanços através da polêmica trama de terapia do ano anterior, Ted devia estar pronto para voltar para os EUA e se reaproximar do filho. O casamento pode estar perdido, mas é, mesmo, necessário continuar a um oceano de distância?

Os primeiros três episódios não oferecem muita reflexão sobre isso, preferindo apenas levantar a ideia e continuar na superfície da mesma. O quarto, porém, começa a mudar isso, e mostra Ted Lasso em seu melhor comportamento. O avanço de personagens, seu crescimento e sua identidade, são pautados na grande temática de gentileza e bondade que tanto torna a série convidativa e doce, e o enfrentamento de dilemas é desenvolvido não só no campo de futebol, como em interações divertidas e intrigantes entre jogadores e técnicos.

O quanto o resto da temporada irá continuar nessa linha, só o tempo dirá, mas apesar do começo devagar (o primeiro capítulo, em especial, é uma longa atualização no status de cada personagem) a terceira temporada de Ted Lasso, no mínimo, oferecerá mais oportunidades de nos divertirmos com um elenco carismático de figuras memoráveis. No máximo, ela usará o período introspectivo de seu protagonista para entender se vale, ou não, continuar fazendo isso.

Ainda é cedo demais para saber qual será a resposta de Ted Lasso, seja falando do técnico ou da série em si, mas a nova temporada parece estar caminhando para o apito final. Quem sairá ganhando?

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

0h 0min
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